Mapa projeta concluir a abertura do mercado japonês em novembro, após auditorias e trocas de informações; primeiro embarque deve começar pelos estados do Sul
O Ministério da Agricultura e Pecuária projeta concluir em novembro o processo para o Japão abrir seu mercado à carne bovina brasileira. A sinalização foi feita pelo ministro Carlos Fávaro, que afirmou a jornalistas que o cronograma está mantido e em fase final de esclarecimentos técnicos. A notícia reacende uma negociação de mais de duas décadas e indica uma fase decisiva para o setor de proteína animal no país.
O Brasil chega a esta etapa amparado pelo reconhecimento internacional de área livre de febre aftosa sem vacinação, status que eleva o padrão sanitário exigido por destinos premium. O avanço foi oficializado no fim de maio e abre portas que historicamente permaneceram fechadas para o produto brasileiro. Especialistas do governo e da indústria tratam a certificação como um divisor de águas para acessar mercados de alto valor.
As conversas com Tóquio evoluíram em 2025 com missões técnicas e auditorias presenciais realizadas por autoridades japonesas no Brasil. Essas visitas integram o rito de habilitação e antecedem a etapa de habilitação de frigoríficos, revisão documental e acordos sanitários específicos. Segundo o governo, trata-se de um passo essencial para a decisão final.
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A estratégia brasileira prevê iniciar pelos estados do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, por já atenderem há mais tempo ao selo de livre de aftosa sem vacinação e por terem histórico de controle sanitário reconhecido. O processo tem cerca de 12 etapas e vem sendo conduzido de forma faseada para reduzir riscos de interrupções.
O que falta para a liberação em novembro
Para cumprir o cronograma, Brasília e Tóquio trocam respostas a questionamentos técnicos sobre o sistema de inspeção, rastreabilidade e vigilância de doenças. Essas respostas precisam demonstrar, de forma documental, que o Brasil mantém padrões equivalentes aos exigidos pelo mercado japonês.
Em paralelo, o Mapa e o setor privado alinham habilitações de plantas que possam atender aos requisitos específicos de desossa, maturação e temperatura. A Abiec tem atuado como interlocutora, consolidando informações e ajustes operacionais solicitados.
A fase final inclui a consolidação de certificados sanitários internacionais e a publicação das autorizações pelo lado japonês. Por se tratar de um dos mercados mais exigentes do mundo, há baixa tolerância a falhas, o que explica o desenho em camadas do processo — algo comum quando há mudança de status sanitário e abertura de um mercado premium.
Por que começar pelo Sul
O reconhecimento sem vacinação foi primeiro consolidado no Sul, criando um “corredor sanitário” mais confortável para o Japão. Essa geografia reduz a complexidade de fiscalização na largada e facilita o acompanhamento de protocolos de controle e resposta rápida em caso de ocorrências.
Estados como Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul possuem estruturas de defesa agropecuária com histórico de auditorias internacionais, o que acelera a confiança do importador. A regionalização também é um mecanismo para mitigar riscos, permitindo ajustes finos antes de uma expansão nacional.
Na prática, o plano brasileiro busca ganhar velocidade sem abrir mão de segurança. Começar por uma região com maturidade sanitária reconhecida encurta a distância até o primeiro embarque e ajuda a cristalizar prêmios de qualidade pagos por mercados como o japonês.
O peso do Japão para o boi brasileiro
O Japão é visto pela indústria como mercado de alto valor, com preferência por cortes premium e rigor sanitário que tende a ser recompensado em preço. A entrada, ainda que gradual, pode ampliar margens e diversificar destinos, especialmente num ano em que tarifas e incertezas em outros mercados pressionam a estratégia de exportação.
Fontes do setor indicam que o foco inicial em poucos estados e em volumes controlados tende a ocorrer para calibrar logística, padrões de corte e rastreabilidade. Essa calibragem serve de vitrine para a expansão posterior, desde que não ocorram incidentes sanitários que atrasem o cronograma.
Haverá também disputa por habilitação de plantas e por cotas iniciais entre frigoríficos. A intensidade dessa competição dependerá do escopo da autorização japonesa — e de como o Brasil comprovará, embarque a embarque, consistência nos controles e uniformidade de padrão.
Janela diplomática: COP30 pode virar palco do anúncio
No calendário político, novembro traz um trunfo adicional ao governo: a COP30, em Belém, pode funcionar como vitrine diplomática para a confirmação da abertura. Integrar a agenda climática com sustentabilidade da pecuária, rastreabilidade e descarbonização da cadeia pode reforçar a narrativa brasileira perante parceiros asiáticos. O setor enxerga essa vitrine como oportunidade para o anúncio.
A estratégia dialoga com o compromisso do governo de ampliar mercados e reduzir vulnerabilidades comerciais. A diplomacia econômica, somada ao status sanitário, encurta a estrada para o Japão e cria externalidades positivas para outras praças de alto valor na Ásia.
Se confirmada a abertura, a tendência é de efeito demonstração para países que observam o Brasil com cautela sanitária. Quanto mais previsível o Brasil se mostrar em biossegurança e governança, mais rápida tende a ser a multiplicação de acessos.
No seu ponto de vista, o Japão deve mesmo começar com volumes pequenos e só pelo Sul, ou o Brasil já comprova fôlego para uma abertura mais ampla? E o prazo de novembro é realista ou otimista demais? Deixe sua opinião nos comentários e diga se a estratégia faseada ajuda ou atrapalha os produtores do seu estado.