A isenção até R$ 5.000 vem atrelada a compensações (alíquota efetiva mínima e taxação de dividendos), sem corte de gastos. Para o educador financeiro William Ribeiro, alguém pagará a conta.
A isenção de IR para quem ganha até R$ 5.000 por mês foi anunciada pelo governo como medida de alívio fiscal para trabalhadores assalariados. A novidade, no entanto, vem acompanhada de compensações que aumentam a carga sobre profissionais de alta renda e sobre dividendos, sem qualquer corte nas despesas públicas, analisa William Ribeiro.
Segundo a proposta, haverá uma nova tabela progressiva entre R$ 5.000 e R$ 7.350, com dedução automática para evitar distorções. A faixa entre R$ 7.350 e R$ 50 mil permanece inalterada, mantendo a alíquota máxima de 27,5%. Acima de R$ 50 mil, será aplicada uma alíquota efetiva mínima de 10%. Além disso, lucros e dividendos acima de R$ 50 mil mensais passarão a ser tributados, tanto no Brasil quanto quando enviados ao exterior.
Como funciona a nova tabela do Imposto de Renda
Na prática, a mudança garante isenção total para quem recebe até R$ 5.000 mensais sob regime CLT. Para rendas entre R$ 5.000 e R$ 7.350, será criada uma tabela intermediária, que corrige distorções e impede que quem ganhe R$ 5.100, por exemplo, receba menos líquido do que quem ficou totalmente isento.
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Para salários de R$ 7.350 a R$ 50 mil, nada muda: a tabela atual continua valendo, com faixas progressivas até 27,5%. Já acima desse valor, mesmo quem já paga IR poderá ver um aumento, devido à alíquota mínima de 10% sobre rendimentos declarados.
Dividendos entram na conta
O impacto maior recai sobre profissionais liberais e empresários que recebem via Pessoa Jurídica (PJ). Hoje, após o pagamento de impostos na empresa, os dividendos distribuídos são isentos na pessoa física. Com a nova regra, dividendos mensais acima de R$ 50 mil passarão a ser taxados, com alíquotas que podem chegar a 10%.
Um exemplo citado é o de um médico que recebe R$ 55 mil em dividendos mensais: atualmente ele não paga nada na PF; com a proposta, passará a pagar cerca de 2,5%, podendo subir conforme a faixa. Além disso, dividendos remetidos ao exterior terão alíquota adicional de 10%.
Super ricos na mira
De acordo com dados citados pelo economista William Ribeiro, os chamados “super ricos” (cerca de 200 mil pessoas no Brasil, 0,1% da população) têm renda média de R$ 392 mil por mês e pagam, em média, apenas 7,4% de IR na pessoa física.
Entre os 10% mais ricos desse grupo, a média é de apenas 3%. A alíquota mínima de 10% pretende corrigir essa distorção, mas pode gerar resistência política no Congresso.
O governo, por meio da Casa Civil, defende que a medida promove “mais justiça fiscal”, mas sem cortes de gastos públicos, o que acende o alerta de especialistas sobre a sustentabilidade da política.
Partidos como União Brasil e Progressistas já se movimentam para tentar alterar as compensações, enquanto a oposição pressiona para que a isenção seja financiada por cortes de despesas.
Debate político e impactos econômicos
O projeto ainda será discutido no Congresso, onde deve enfrentar resistência de setores ligados ao empresariado e a profissionais de alta renda.
Para a base governista, a prioridade é aliviar a carga da classe média e ampliar a isenção, mesmo que isso signifique cobrar mais dos que ganham acima de R$ 50 mil.
Economistas alertam que, sem corte de gastos, a medida é apenas uma realocação da carga tributária, e não uma redução. O risco é de que a discussão se torne eleitoral, já mirando 2026, em vez de estrutural, o que poderia travar uma verdadeira reforma tributária.
E você, considera justa a isenção de IR até R$ 5.000 compensada pela cobrança sobre dividendos e alta renda, mesmo sem cortes de gastos públicos? Acha que essa redistribuição resolve ou apenas adia o problema fiscal? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive isso na prática.