Com R$ 1,2 bilhão em investimentos, a Captar Agrobusiness prepara o maior frigorífico do Nordeste, integrado a um confinamento com capacidade para 130 mil bois. Projeto deve gerar 4,6 mil empregos e mira a exportação de carne premium.
A 15 quilômetros da cidade de Luís Eduardo Magalhães (BA), no coração do Matopiba, uma revolução silenciosa está em curso. A Captar Agrobusiness, holding comandada pelo engenheiro e pecuarista Almir Moraes Filho, está por trás do maior confinamento de gado do Nordeste, com capacidade estática atual para 65 mil cabeças e planos para dobrar esse número até 2030.
Mais do que um centro de engorda bovina, a área de 220 hectares é a base de um megacomplexo agroindustrial que receberá, nos próximos cinco anos, R$ 1,2 bilhão em investimentos e deve transformar a Bahia em uma potência na exportação de carne bovina.
Frigorífico próprio com foco em exportação
O projeto inclui a construção de um frigorífico integrado ao confinamento, nos moldes do que já é feito pelo grupo mexicano SuKarne. A proposta é clara: reduzir perdas de transporte, estresse dos animais e custos logísticos, ao permitir que os bois caminhem até a planta de abate, que será erguida ao lado da área de engorda.
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Hoje, 95% do gado terminado pela Captar precisa percorrer mais de 1.100 quilômetros até a unidade da JBS em Ituiutaba (MG), a mais próxima licenciada para exportar. Com o novo frigorífico, orçado em R$ 500 milhões, a produção de carne “boi China” — de alto padrão — terá como destino direto o mercado internacional.
De 150 mil para 400 mil bois ao ano
Em 2024, a Captar estima entregar cerca de 150 mil bois para abate, com um faturamento de aproximadamente R$ 750 milhões. Quando a planta industrial estiver em operação, a empresa espera abater 1,5 mil animais por dia, o que representa mais de 400 mil cabeças por ano. Um crescimento de quase 170% na produção atual. Além da planta frigorífica, o plano de negócios inclui:
- R$ 200 milhões para ampliar o confinamento (hoje com 394 baias automatizadas)
- R$ 150 milhões para expandir a fábrica de rações, que vai dobrar a capacidade para 1.500 toneladas por dia
- R$ 100 milhões em logística, com renovação da frota de 60 caminhões
- R$ 165 milhões na Captar Energia, incluindo painéis solares, biodigestores e produção de fertilizantes com resíduos animais
Uma cadeia que começa na ração e termina na exportação
Segundo José Roberto Bischofe Filho, diretor executivo da Captar, o projeto é inspirado em sistemas verticais integrados e visa criar um “cluster agropecuário” com controle completo da cadeia produtiva.
A fábrica de rações já produz 750 toneladas diárias, e a ampliação está em fase final. Um novo silo com capacidade para 2,5 milhões de sacas (150 mil toneladas) de grãos também estará pronto até o final do ano.
A integração com a produção agrícola é total: grãos produzidos no Oeste da Bahia alimentam os bois, que fertilizam o solo com os resíduos dos biodigestores. Um sistema eficiente, circular e sustentável.
A Captar também investe em energia. A empresa terá uma fazenda solar própria e um sistema de biodigestores para gerar biogás a partir do esterco bovino. Os resíduos da biodigestão ainda serão usados na produção de fertilizantes orgânicos, completando o ciclo de sustentabilidade da operação.
Criação de empregos e impacto regional
A Captar estima que o megaprojeto vai gerar 4.600 empregos diretos e indiretos. As negociações com o governo da Bahia para incentivos já estão em andamento, e o projeto será apresentado oficialmente no evento Captar Conecta, em 19 de julho.
A Bahia, que possui o terceiro maior rebanho bovino do Brasil, com mais de 13 milhões de cabeças, tem grande potencial para intensificação da pecuária. No entanto, 95% das propriedades têm menos de 100 animais e baixo nível tecnológico.
A Captar quer mudar esse cenário com um modelo moderno, tecnológico e de alta produtividade.
Parceiros estratégicos e modelo de integração
Além do confinamento, a Captar opera em seis fazendas de recria (quatro na Bahia e duas no Tocantins), totalizando 5 mil hectares. Como não atua na etapa de cria, a empresa adquire garrotes de sete estados: Bahia, Tocantins, Maranhão, Piauí, Pará, Goiás e Minas Gerais.
Atualmente, 350 produtores fornecem animais para a Captar, mas a companhia está desenvolvendo programas de integração com foco em nutrição, assistência técnica (em parceria com a Cargill) e aumento da qualidade genética.
A meta é clara: atingir 20 arrobas antes dos 24 meses de idade, algo que no sistema tradicional a pasto levaria até cinco anos.
Rastreabilidade e responsabilidade ambiental
Todo o gado que entra no sistema da Captar passa por checagem socioambiental, mesmo sem exigência legal na Bahia. A empresa mantém rastreabilidade desde o confinamento e, com alguns parceiros, já desde o nascimento do animal.
O objetivo é atender aos mercados mais exigentes de exportação, principalmente o asiático e europeu, onde a transparência da cadeia produtiva é obrigatória.
ILP e novos horizontes
Outro diferencial do projeto é o estímulo à integração lavoura-pecuária (ILP). Em áreas do Oeste baiano onde a soja revezou com pastagens e gado, a produtividade subiu de 55 para 75 sacas por hectare. A prática também ajuda na recuperação do solo e no aumento da oferta de grãos.
Com a chegada de indústrias de etanol de milho, como a planta da Inpasa, prevista para 2026 em Luís Eduardo Magalhães, haverá ainda mais disponibilidade de DDG, um subproduto riquíssimo em proteína para alimentação animal.
Até aqui, Almir Moraes financiou sozinho o avanço da Captar, mas o novo ciclo de expansão requer parcerias estratégicas. A empresa já conversa com investidores nacionais e internacionais, e o modelo de participação ainda será definido conforme o perfil dos interessados.
Segundo Bischofe, o objetivo é trazer sócios para a holding Captar Agrobusiness, garantindo recursos para o frigorífico, confinamento, nutrição, energia e logística — os pilares do megacomplexo.