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Interior de SP vira cenário de colapso ambiental: satélite flagra avanço de espuma tóxica visível do espaço

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 05/08/2025 às 17:44
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Imagens geoespaciais captadas por satélites do programa Brasil MAIS revelam a presença crescente de espuma química em área urbana do interior paulista. A contaminação é atribuída à ação de detergentes e efluentes lançados sem tratamento, em um cenário que expõe décadas de negligência ambiental

Imagens recentes captadas por satélites a mais de 550 quilômetros de altitude expuseram um problema ambiental que se arrasta há décadas no estado de São Paulo: a presença de espuma tóxica cobrindo o Rio Tietê, especialmente no trecho que corta a cidade de Salto, no interior paulista. O fenômeno, longe de ser novo, atingiu agora níveis tão evidentes que se tornaram visíveis até do espaço — um alerta direto para as autoridades e para a população sobre o estado crítico do saneamento básico na região.

Espuma avança 5 km em apenas 13 dias

As imagens foram feitas pela constelação de satélites Dove, da empresa Planet, e integram a plataforma da SCCON, especializada em geotecnologia e detecção de mudanças ambientais. Entre os dias 19 de julho e 1º de agosto, os registros mostraram uma rápida expansão da espuma branca, que partiu de uma área próxima à cachoeira central de Salto e se estendeu por cerca de 5 quilômetros, alcançando o limite urbano da cidade no sentido oeste.

A espuma tóxica, segundo a organização SOS Mata Atlântica, é resultado da alta concentração de detergentes e saponáceos presentes no esgoto doméstico despejado de forma irregular nos cursos d’água. Quando o volume de água do rio está mais baixo — como costuma acontecer no período seco — a concentração desses poluentes se intensifica, favorecendo a formação da espuma espessa e persistente.

Foto: Comparativo de imagens de satélite captadas pela constelação PlanetScope, operada pela empresa Planet e analisadas pela SCCON, revela o avanço significativo da espuma tóxica sobre um curso d’água no município de Salto, interior de São Paulo. A primeira imagem, de 19 de julho de 2025, mostra concentração inicial do fenômeno nas proximidades da queda d’água central da cidade. Já o registro de 1º de agosto evidencia a expansão da mancha branca por mais de 5 km em direção à zona urbana. O fenômeno é atribuído ao despejo de esgoto não tratado e resíduos químicos. Crédito: PlanetScope via SCCON.

Governo e Sabesp admitem responsabilidade e prometem investimentos

Diante da repercussão causada pelas imagens, o governo de São Paulo e a Sabesp admitiram que o fenômeno está diretamente relacionado ao despejo de esgoto sem tratamento. De acordo com a Sabesp, esse é um problema histórico, que também envolve o lançamento de efluentes industriais e lixo urbano em córregos e rios da bacia do Tietê.

Somente na região metropolitana de São Paulo, até 2023, o volume de esgoto sem tratamento lançado no ambiente era equivalente a impressionantes 22 mil piscinas olímpicas por mês. A Sabesp afirma que pretende mudar esse cenário por meio de um investimento de R$ 70 bilhões até 2029, com o objetivo de universalizar o acesso ao saneamento básico nas cidades sob sua responsabilidade. No primeiro ano após sua desestatização, a empresa já conectou 1,4 milhão de pessoas ao sistema de tratamento de esgoto.

Paralelamente, o governo estadual planeja aplicar mais R$ 20 bilhões em saneamento, conectando 2,2 milhões de domicílios à rede de esgoto até o fim da década. A Cetesb, órgão ambiental estadual, também vem reforçando a fiscalização sobre estações de tratamento e indústrias da região. Em 2025, já foram aplicadas multas no valor de R$ 3,8 milhões a empresas e municípios que descumpriram normas ambientais.

Monitoramento diário e tecnologia como aliadas

O avanço da espuma foi monitorado em tempo real graças à RedeMAIS, sistema integrado ao programa federal Brasil MAIS, do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Esse programa permite que prefeituras e estados tenham acesso direto às imagens dos satélites e recebam alertas diários sobre mudanças ambientais, como desmatamento, queimadas, enchentes e, neste caso, formação de espuma em rios.

As tecnologias de sensoriamento remoto, cada vez mais acessíveis e precisas, têm sido ferramentas essenciais para expor falhas de gestão e pressionar por políticas públicas mais eficazes. No caso do Tietê, as imagens falam por si: a degradação do rio está longe de ser resolvida, apesar das promessas e dos projetos que se arrastam há décadas.

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Uma herança de descaso — e uma oportunidade de transformação

A situação do Rio Tietê simboliza o dilema do saneamento no Brasil: projetos ambiciosos, mas execução lenta e desigual. A visibilidade que o episódio ganhou graças aos satélites pode ser o gatilho necessário para acelerar investimentos, responsabilizar infratores e garantir que a população não continue exposta aos riscos sanitários e ambientais causados pela falta de infraestrutura.

Enquanto a espuma avança nas águas do Tietê, a pressão sobre os gestores públicos e privados também aumenta. O desafio agora é transformar esse flagra vindo do espaço em uma mudança concreta aqui na Terra.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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