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Infraestrutura invisível de cabos submarinos é responsável por manter a internet funcionando, mesmo sob ataque de forças da natureza

Publicado em 27/10/2024 às 02:49
Infraestrutura invisível de cabos submarinos é responsável por manter a internet funcionando, mesmo sob ataque de forças da natureza
Como nossos dados trafegam (Imagem: Reprodução)

Quando se pensa em uma emergência, raramente imaginamos uma operação de resgate a milhares de metros de profundidade no oceano. Porém, é exatamente este “serviço de emergência” no fundo do oceano que mantém a internet funcionando, garantindo que dados sejam transmitidos sem interrupções ao redor do mundo. Esta infraestrutura vital, que pode parecer tão invisível quanto o próprio oceano, conecta continentes, empresas e indivíduos e é sustentada por uma complexa e delicada rede de cabos submarinos que trafega em silêncio sob as ondas.

Há quase um século, em 1929, um evento inesperado trouxe à tona a fragilidade desses cabos subamrinos para a internet, um terremoto de magnitude 7,2 sacudiu a costa da Península de Burin, no Canadá, desencadeando um tsunami e um deslizamento submarino que danificou doze cabos transatlânticos. Sem saber, este desastre inicial seria apenas o primeiro de muitos incidentes envolvendo esta tecnologia essencial, que continua sujeita a forças da natureza e à ação humana.

A ciência sob as águas: como eventos extremos desafiam a tecnologia e a internet

Os cabos submarinos são responsáveis pela transmissão de 99% de todos os dados digitais que trafegam entre os continentes. Finos e com apenas alguns centímetros de diâmetro, esses cabos delicados cruzam o fundo do oceano conectando o mundo, enquanto enfrentam desde terremotos até erupções vulcânicas submarinas e tufões.

No entanto, a maior parte dos danos vem, ironicamente, da superfície: cerca de 70% a 80% das falhas estão associadas a atividades humanas, como redes de pesca e âncoras que, acidentalmente, ficam presas nesses cabos.

Em 1929, o deslizamento de terra submarino movia-se a velocidades que variavam de 11 a 128 km/h, destruindo cabos de comunicação em sequência ao longo de várias horas. Este foi o primeiro evento documentado de como esses deslizamentos, conhecidos como correntes de turbidez, poderiam impactar profundamente a transmissão de dados. Desde então, a ciência tem utilizado os cabos danificados como ferramentas de pesquisa, aproveitando incidentes para estudar os movimentos submarinos e aprender mais sobre o fundo do mar.

A manutenção dos cabos e o papel das embarcações de reparo

Infraestrutura invisível de cabos submarinos é responsável por manter a internet funcionando, mesmo sob ataque de forças da natureza

Hoje, o “serviço de emergência” que mantém a internet funcionando está a cargo de uma frota de navios de reparo estrategicamente posicionados em todo o mundo. Quando um cabo é danificado, leva-se cerca de 10 a 12 dias para que uma embarcação de reparo chegue ao local e inicie os trabalhos. Esse tempo, que pode parecer longo, é reduzido graças a tecnologias que localizam rapidamente o ponto de falha e facilitam a recuperação dos cabos danificados.

O processo de reparo é uma operação meticulosa: um arpéu é utilizado para içar o cabo, o qual é cortado, puxado à superfície e enrolado em tambores motorizados. A parte danificada é analisada, reparada e testada, garantindo que a conexão retorne ao normal. Mesmo em áreas de águas mais rasas, onde os cabos enfrentam maior risco de danos, eles são enterrados em valas cavadas por veículos subaquáticos operados remotamente, criando um escudo adicional contra acidentes.

Redundância e resiliência: como a internet permanece ativa

A infraestrutura global de cabos submarinos foi projetada com um princípio essencial: a redundância. Graças a essa configuração, mesmo se um cabo for danificado, o tráfego de dados pode ser redirecionado para outros cabos, garantindo que a internet continue funcionando sem grandes impactos para os usuários.

Este sistema é especialmente importante em regiões vulneráveis, como o Pacífico Sul, onde atividades sísmicas e vulcânicas são comuns. Em eventos de alta magnitude, essa infraestrutura de cabos permite que a comunicação seja mantida, mesmo que alguns cabos estejam temporariamente fora de operação.

Tecnologia avançada e descobertas científicas inesperadas

Através de desafios e inovações, a rede global de cabos submarinos evoluiu. No século XIX, por exemplo, os primeiros cabos transatlânticos foram responsáveis por uma descoberta científica inesperada: a Cordilheira Mesoatlântica, uma imensa cadeia montanhosa submarina, foi localizada graças ao comportamento peculiar dos cabos. Hoje, esses cabos são utilizados como sensores acústicos, permitindo a detecção de fenômenos no mar, como a movimentação de baleias e a ocorrência de tempestades.

Especialistas alertam que a tecnologia ainda enfrenta riscos relacionados às mudanças climáticas, que aumentam a quantidade de sedimentos nos leitos dos rios e causam danos aos cabos próximos. Em Tonga, por exemplo, a erupção de um vulcão em 2021 deixou a nação temporariamente desconectada, uma experiência que reforça a importância de rotas alternativas de cabos para países insulares.

A internet depende desse “serviço de emergência” submarino

A manutenção da internet depende da preservação desses cabos submarinos, que sustentam a comunicação global. De fato, a conscientização sobre a localização dos cabos já ajuda a evitar muitos acidentes: barcos de pesca modernos conseguem rastrear e ajustar suas operações para não danificar a rede. Contudo, em regiões onde o uso de tecnologia de navegação ainda é limitado, acidentes continuam a acontecer, e informar as populações locais sobre os cabos é uma medida crucial.

Em um mundo cada vez mais dependente de dados e conectividade, esse “serviço de emergência” submarino, que passa despercebido pela maioria das pessoas, desempenha um papel fundamental para manter a internet funcionando e sustentar a comunicação global. Cada cabo que cruza os oceanos não é apenas um fio que conecta continentes, mas também um elo essencial para nossa vida digital.

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Bruno Castilho Barreto

Jornalista com foco em petróleo e gás, investimentos e oportunidades no mercado nacional.

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