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Indústria brasileira em retração: PMI abaixo de 50 e aumento nas importações da China expõem nova realidade econômica

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 28/07/2025 às 16:35
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Fabricar no Brasil deixou de valer a pena? PMI despenca e empresas encerram produção para importar da China — custo Brasil expulsa indústria

O setor industrial brasileiro voltou a acender sinais de alerta após a divulgação do Índice de Gerentes de Compras (PMI) do setor manufatureiro, que caiu para 48,3 pontos em junho de 2025, de acordo com levantamento da S&P Global e publicado pelo site Trading Economics. Abaixo da linha dos 50 pontos — que separa crescimento de contração — o indicador confirma um movimento de retração que se arrasta desde o início do ano e sinaliza enfraquecimento contínuo da atividade fabril.

A leitura do PMI, que considera produção, novos pedidos, emprego, prazos de entrega e estoques, aponta que as indústrias brasileiras estão produzindo menos, contratando menos e com menor confiança no futuro. Os dados vieram acompanhados de um aumento no número de empresas que relataram redução nos volumes de pedidos internos e no nível de exportações industriais, refletindo o enfraquecimento da demanda doméstica e global.

Indústria recua e empresas passam a importar: o avanço do modelo chinês no Brasil

Paralelamente à queda da produção local, o Brasil assiste a uma mudança estrutural silenciosa, mas profunda: um número crescente de empresas está abandonando suas fábricas locais e substituindo a produção por importações, em especial da China.

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Esse fenômeno tem sido registrado em diversos segmentos. No setor de bens de consumo, multinacionais como P&G, Unilever e Nestlé têm fechado unidades fabris ou enxugado operações no país. Em muitos casos, os produtos antes fabricados aqui passam a ser importados da Ásia, onde os custos de mão de obra, logística integrada e incentivos estatais tornam a produção significativamente mais barata.

Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os custos industriais no Brasil continuam entre os mais altos do mundo quando considerados impostos, energia, infraestrutura, burocracia e encargos trabalhistas. Isso vem incentivando as empresas a buscar alternativas externas, mesmo ao custo de desemprego e perda de conteúdo local.

Em recente análise do economista José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), publicada pelo Valor Econômico, o cenário é preocupante:

“O que estamos vendo não é apenas queda pontual. É uma mudança de modelo de negócios, em que produzir localmente deixa de ser viável. Estamos importando até produtos básicos que antes eram 100% nacionais.”

Vista aérea da planta industrial em Três Corações (MG), avaliada em até R$ 1,5 bilhão e com capacidade para produzir 500 mil toneladas de ração animal por ano. O complexo será desativado em 90 dias após o fracasso nas negociações de venda e o anúncio da demissão de quase mil trabalhadores

Impactos no emprego e na balança comercial

O reflexo imediato da retração industrial e da substituição por importações é sentido no mercado de trabalho formal. De acordo com o Caged, entre abril e junho de 2025, a indústria de transformação brasileira fechou mais de 28 mil postos de trabalho, especialmente em segmentos como metalurgia, têxtil e bens duráveis.

A balança comercial, embora ainda superavitária, começa a sentir o impacto da mudança de perfil das importações. Enquanto exportações de commodities como soja, minério e petróleo seguem elevadas, há um aumento expressivo nas importações de produtos industrializados de valor agregado, como eletrônicos, maquinário e até alimentos processados.

Essa inversão fragiliza a autonomia industrial do país e compromete cadeias produtivas que antes geravam empregos e impostos localmente.

Falta de política industrial agrava o cenário

Analistas apontam que a falta de uma política industrial consistente tem agravado a desindustrialização. Sem incentivos à inovação, à produtividade e à nacionalização de cadeias estratégicas, o Brasil perde espaço para países com políticas industriais agressivas, como a própria China, Índia e até os Estados Unidos, que recentemente lançaram pacotes bilionários para reindustrialização.

O professor de economia da UFRJ, Pedro Rossi, declarou à BBC Brasil:

“Enquanto o mundo vive um novo ciclo de industrialização verde e digital, o Brasil continua apostando na exportação de commodities e negligenciando sua base produtiva.”

O país também vem falhando em aproveitar os grandes investimentos globais em tecnologias limpas, semicondutores e baterias. Diversas fábricas desse tipo estão sendo construídas no México, Vietnã e Europa — e não no Brasil.

O que esperar para o segundo semestre de 2025?

Com o PMI abaixo de 50, demissões em curso e dependência crescente de produtos chineses, o segundo semestre de 2025 será decisivo para medir a capacidade de reação da economia industrial brasileira.

A esperança de retomada passa por três fatores principais:

  • A redução de juros internos, que pode reaquecer o consumo e os investimentos;
  • A retomada de projetos de infraestrutura e transição energética com conteúdo local;
  • E o lançamento de uma nova política industrial estruturante, que valorize a produção nacional e modernize o parque fabril.

Sem essas ações, especialistas alertam que o país corre o risco de entrar em uma espiral de dependência externa e perda de soberania econômica, aprofundando a tendência de desindustrialização precoce que já compromete o crescimento sustentável de médio e longo prazo.

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Alfredoaes mabba
Alfredoaes mabba
29/07/2025 14:05

Trabalhei com representantes comercial, na área textil desde 2000 vem havendo uma ďesidustrializacao do brasil, é custo brasil, .no México para ter direito a 30 dias de férias, tenho que trabalhar 10 anos na mea presa, ainda estão querendo implantar maternidade 15 para pais mais na hora de comprar levam ovos barato,não importa onde foi feito, a longo prazo vai faltar prego

Rogerio Brostoline
Rogerio Brostoline
28/07/2025 22:44

tomei essa decisão desde ano 2000, fabricar aqui jamais…. custos justiça trabalhista e impostos sem chance…. importo tenho menor custo vendo mais cresço mais….. tudo mais e melhor….. 1/3 dos funcionários

Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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