A Índia, com seus 1,4 bilhão de habitantes e um mercado automotivo em plena expansão, transformou-se no novo palco da batalha global entre a chinesa BYD, que cresce em ritmo acelerado, e a Tesla, dos Estados Unidos, que busca recuperar espaço com sua chegada tardia e preços elevados.
A disputa pelo domínio global do mercado de veículos elétricos ganhou um novo palco: a Índia. Tesla e BYD, dois gigantes do setor, intensificam os esforços para conquistar consumidores em um país considerado desafiador, mas com enorme potencial de crescimento.
A batalha acontece em um momento em que a BYD, sediada em Shenzhen, ameaça ultrapassar a Tesla como maior vendedora mundial de carros elétricos.
A empresa chinesa já superou a marca americana em vendas na Europa em abril e agora vê na Índia uma oportunidade de expansão, mesmo diante de barreiras políticas e econômicas.
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A chegada tardia da Tesla
O caminho da Tesla até a Índia foi longo. A montadora abriu pré-vendas há quase uma década, mas só começou a entregar veículos em julho deste ano.
O modelo disponível é o SUV Model Y, vendido por cerca de 6 milhões de rúpias (US$ 70 mil).
O preço, inflado pelos impostos de importação, quase dobra o valor de entrada do mesmo carro nos Estados Unidos.
A empresa inaugurou duas lojas, em Mumbai e Delhi, mas analistas apontam falta de empenho. A Tesla ainda não investiu em fábricas nem ampliou a rede de atendimento.
Além disso, a falta de uma rede de supercarregadores e o custo elevado restringem o público a um nicho premium.
Mesmo assim, a marca continua atraindo atenção por seu valor simbólico. Caso a empresa invista em produção local e amplie sua rede de vendas, a demanda poderá crescer rapidamente.
O peso dos impostos e da produção local
Um dos maiores obstáculos para fabricantes estrangeiros é a política fiscal indiana.
O governo cobra até 70% de imposto de importação sobre veículos, uma estratégia para forçar a produção local.
Tentativas de Tesla de construir uma fábrica no país já fracassaram diversas vezes.
Em junho, autoridades indianas disseram que a montadora não demonstrou interesse real em produzir internamente.
Enquanto isso, empresas locais como Tata Motors e Mahindra ocupam o espaço.
Elas produzem modelos mais acessíveis e aproveitam as vantagens de fabricar no próprio território. Essa posição reforça a competição interna e pressiona marcas estrangeiras a se adaptarem.
A aposta da BYD
A situação da BYD não é menos complicada. A rival chinesa enfrenta entraves ainda mais severos, por conta das tensas relações diplomáticas entre Índia e China.
Relatórios apontam que executivos da BYD Índia tiveram dificuldades até para conseguir vistos de entrada no país.
Apesar disso, a companhia já conseguiu algum avanço. A BYD lançou modelos como o Atto 3 e o Sealion 7, alcançando em setembro a marca de 10 mil veículos vendidos no mercado indiano.
A força da BYD está em sua estratégia de preços competitivos.
Seus carros oferecem tecnologia e recursos por valores menores, algo que combina melhor com a realidade indiana. Para ele, se os impostos forem reduzidos, a marca pode transformar o mercado.
Diplomacia e futuro incerto
Recentemente, sinais de distensão diplomática entre Índia e China abriram espaço para novos movimentos.
Após encontro entre o primeiro-ministro Narendra Modi e o presidente Xi Jinping, restrições de viagem começaram a ser revistas, permitindo maior participação da liderança da BYD Índia.
Esse movimento é visto como positivo para a empresa, que depende da expansão internacional diante da estagnação das vendas na China e da guerra de preços no setor.
Por outro lado, tanto BYD quanto Tesla precisam lidar com o histórico indiano. Montadoras globais como General Motors e Ford desistiram do país após anos de dificuldades.
Um mercado promissor e arriscado
A Índia pode se tornar um dos maiores mercados de carros elétricos do mundo. As vendas anuais podem saltar de 100 mil unidades em 2024 para até 3 milhões até 2030, quase o dobro do mercado dos Estados Unidos no ano passado.
Esse potencial, porém, exige comprometimento total. Simplesmente repetir estratégias aplicadas em outros países seria um erro. O mercado indiano pede adaptação às suas características próprias, tanto em preço quanto em infraestrutura.
A disputa entre Tesla e BYD na Índia ainda está no início, mas já mostra como o país pode definir o futuro da mobilidade elétrica global.