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Inaugurada em 1854, a primeira ferrovia do Brasil ligava o Rio à serra de Petrópolis com com trem inglês e rota de 14 km

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 23/06/2025 às 21:41
primeira ferrovia do Brasil
Foto: Reprodução
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Primeira ferrovia do Brasil, a Estrada de Ferro Mauá foi inaugurada em 1854 e revolucionou o transporte entre o Rio e a serra de Petrópolis

Em 30 de abril de 1854, o Brasil dava um passo importante rumo à modernização. Nesse dia, foi inaugurada a primeira ferrovia do Brasil: a Estrada de Ferro Mauá.

Idealizada por Irineu Evangelista de Sousa, mais conhecido como Barão de Mauá, a ferrovia ligava o Porto de Mauá, na Baía de Guanabara, à localidade de Fragoso, no município de Magé (RJ). Era o início da era dos trilhos no Brasil.

O Brasil do século XIX

Naquela época, o Brasil vivia sob o comando de Dom Pedro II.

O Império buscava formas de integrar o território, estimular a economia e escoar a produção de café.

No mundo, as ferrovias já eram realidade, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. A Inglaterra, por exemplo, havia iniciado sua rede ferroviária no início do século XIX.

Enquanto isso, o Brasil ainda dependia de estradas de terra e rios para transportar mercadorias e pessoas.

O caminho entre a cidade do Rio de Janeiro e o interior era lento e difícil. A necessidade de melhorar a infraestrutura de transporte era urgente, mas ainda não havia investidores dispostos a assumir os riscos.

Foi só em 1852 que o governo imperial aprovou uma lei oferecendo isenções fiscais e garantias de retorno aos investidores de ferrovias. Esse incentivo abriu as portas para o projeto de Mauá.

Estação Guia de Pacobaíba, antiga estação Mauá, a primeira do país

A visão do Barão de Mauá com a primeira ferrovia do Brasil

Irineu Evangelista de Sousa era um empresário ousado e inovador.

Já atuava em diversos setores, como navegação, indústria e finanças. Ao perceber o potencial da ferrovia, decidiu investir em um trecho curto, mas estratégico.

Ele propôs a construção de uma estrada de ferro ligando o Porto de Mauá à serra de Petrópolis, onde morava parte da elite imperial.

O trajeto serviria também para transportar café do interior do Rio até o porto, facilitando a exportação.

Com apoio de investidores estrangeiros e nacionais, Mauá fundou a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro Petrópolis. Em pouco tempo, a obra começou.

Retrato do Barão de Mauá.

A construção da primeira ferrovia do Brasil

As obras da primeira ferrovia do Brasil começaram em 1852. O trecho original tinha 14,5 km e ligava o porto à localidade de Fragoso. Mais tarde, foi estendido até a Raiz da Serra, totalizando 16,3 km.

A ferrovia foi construída com tecnologia importada da Inglaterra. Os trilhos, locomotivas e vagões vieram de lá. A bitola (distância entre os trilhos) era de 1,676 metro, padrão que seria usado em muitas ferrovias brasileiras depois.

O terreno era relativamente plano, o que facilitou a construção. Ainda assim, houve desafios, como deslizamentos de terra e falta de trabalhadores qualificados. Mauá teve que treinar a mão de obra local e improvisar materiais.

A locomotiva Baroneza

Baroneza foi a primeira locomotiva a vapor no Brasil e a única transformada em monumento cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

A estrela da inauguração foi a locomotiva Baroneza, nome dado em homenagem à esposa de Mauá. Fabricada na Inglaterra, ela foi a primeira locomotiva a vapor a circular no Brasil.

No dia 30 de abril de 1854, a Baroneza puxou o trem inaugural, levando Dom Pedro II e outras autoridades da Estação de Mauá até Fragoso. A viagem durou cerca de 20 minutos e marcou o início da era ferroviária no país.

O comboio percorreu os 14,5 km a uma velocidade média de 36 km/h. Era algo inédito para a população, que se reuniu ao longo dos trilhos para ver a novidade.

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Intermodalidade pioneira

O projeto de Mauá era inovador também por integrar dois meios de transporte. Os passageiros saíam do centro do Rio em barcos a vapor até o Porto de Mauá. De lá, embarcavam no trem até a base da serra. Depois, seguiam de diligência até Petrópolis.

Essa combinação de barco, trem e carruagem foi o primeiro exemplo de transporte intermodal no Brasil. Facilitava o deslocamento de pessoas e o transporte de cargas entre o interior e a capital.

Impacto econômico

O impacto da ferrovia foi imediato. No primeiro ano de operação, foram transportados mais de 650 mil passageiros e quase 3,7 milhões de arrobas de produtos, principalmente café.

A ferrovia reduziu o tempo e o custo do transporte. A rota passou a ser usada tanto pela elite quanto por comerciantes e produtores rurais. Com isso, a região de Petrópolis se desenvolveu ainda mais, atraindo investimentos e moradores.

O sucesso da Estrada de Ferro Mauá serviu de modelo para outras ferrovias no Brasil. Logo depois, começaram a surgir projetos em outras províncias, como São Paulo e Minas Gerais.

O reconhecimento imperial

Pelo feito, Mauá recebeu o título de barão no mesmo dia da inauguração da ferrovia. Dom Pedro II, entusiasta das inovações, viu na obra um símbolo do progresso que desejava para o país.

Mauá se tornaria também visconde e seria lembrado como um dos maiores empreendedores do século XIX no Brasil. Seu nome ficou associado à modernização e ao desenvolvimento econômico.

O declínio da ferrovia

Apesar do sucesso inicial, a ferrovia perdeu importância nas décadas seguintes. Em 1867, foi inaugurada a Estrada de Ferro Dom Pedro II, que ligava o Rio ao Vale do Paraíba. Essa nova linha desviou boa parte do tráfego que antes passava por Magé.

Além disso, a abertura da estrada União e Indústria, ligando Petrópolis a Juiz de Fora, ofereceu uma rota alternativa. Com isso, a ferrovia de Mauá passou a operar com prejuízo.

Em 1883, Mauá vendeu a companhia. A linha foi incorporada à Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará e depois à Leopoldina Railway. O trecho original continuou em operação por algumas décadas, mas sua importância nacional já havia diminuído.

O fim dos trilhos

No século XX, a ferrovia foi sendo desativada aos poucos. O trecho entre Mauá e Bongaba foi fechado em 1962. A subida da serra, que havia sido feita com cremalheira, também foi desativada em 1964.

Hoje, o único trecho ainda ativo é operado pela SuperVia e liga Piabetá a Vila Inhomirim, na Baixada Fluminense. É um trem de subúrbio, com poucos quilômetros, mas que ainda segue o traçado original da ferrovia de 1854.

A preservação da história

A estação original, em Guia de Pacobaíba (Magé), está em ruínas. Foi tombada como patrimônio histórico em 1954, no centenário da ferrovia, mas sofreu com o abandono.

Durante um tempo, funcionou ali um pequeno museu ferroviário. Porém, o local foi fechado na década de 1970 e o acervo transferido para o bairro do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, onde hoje funciona o Museu do Trem.

A locomotiva Baroneza foi restaurada e está em exibição nesse museu. É considerada uma das mais antigas locomotivas a vapor do mundo ainda preservadas.

Um legado que resiste

Mesmo sem operar como nos tempos de glória, a ferrovia de Mauá continua presente na história e na cultura brasileira. Ela foi o primeiro passo rumo à industrialização e à integração do país.

O Brasil dos trilhos nasceu ali, às margens da Baía de Guanabara, com uma locomotiva inglesa puxando o trem do futuro.

E mesmo que os trilhos tenham enferrujado, a lembrança ainda segue viva — como sinal de que o progresso é possível, mesmo diante dos desafios.

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Anamaria Bethlem
Anamaria Bethlem
25/06/2025 09:47

A maior **** que se fez neste país foi acabar com a malha ferroviária. Em vez de modernizar o que ja havia e aumentar para alcançar mais destinos, simplesmente foi destruida. Um país do nosso tamanho e com uma população com poucos recursos ganharia enormemente com uma malha ferroviária funcionando tanto para transporte de todo tipo de material quanto de pessoas que seria mais acessível e econômico. Não dependeríamos tanto do petróleo para a distribuiçao de mantimentos e transporte de passageiros tornando-os mais econômicos. Enquanto isso na Europa a malha ferroviária só faz crescer e se modernizar, agora o trajeto do túnel por baixo do Canal da Mancha além da França chega também a Holanda e a Bélgica.
Somos réfens do petróleo para a distribuiçao de bens e agora com a guerra e a subida do preço do barril certamente rezemos um aumento do preço dos combustíveis e dos alimentos. Graças a interesses políticos que na época queriam instalar e desenvolver a indústria automobilistica, destruíu-se a existente malha ferroviária quando poderia-se ter mantido as duas coisas.

Marcio
Marcio
25/06/2025 09:28

Moro nessa região de tantas histórias da época imperial que poderia ser mais exploradas e contadas nas escolas.

Wallace de Oliveira Nascimento
Wallace de Oliveira Nascimento
25/06/2025 00:58

Errata,o trem atual tem duas linhas: uma de Saracura até Raiz da serra e outra de Saracura até Guapimirim

Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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