Ibama intensifica ações no Espírito Santo para conter riscos de javalis e onças. Espécies representam ameaças diferentes, com impactos na agricultura, saúde animal e equilíbrio ambiental. Oficinas orientam moradores e gestores rurais sobre prevenção e segurança.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) intensificou ações no Sul do Espírito Santo para prevenir danos causados por javalis, espécie exótica invasora, e por onças em áreas rurais.
A prioridade é conter prejuízos à agropecuária e reduzir riscos a pessoas, com monitoramento em campo e capacitação de gestores e lideranças locais.
Enquanto os javalis são alvo de controle por gerarem impactos econômicos e sanitários, as onças têm papel ecológico relevante e devem ser preservadas, segundo o órgão.
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Risco imediato à agropecuária e à saúde animal
Em cidades do Sul capixaba, produtores rurais e moradores relataram ocorrências envolvendo lavouras, rebanhos e, em alguns casos, pessoas.
O Ibama alerta que, uma vez estabelecidos, os javalis devastam plantações e podem transmitir doenças de importância para a pecuária.
De acordo com o analista ambiental Vinícius Seixas, o problema é concreto no campo.
“Eles atacam plantações, lavouras de milho, feijão, arroz, soja, cana de açúcar, e podem também prejudicar pastagens. Também oferecem um risco sanitário à agropecuária, que é o risco de transmissão da peste suína”, afirmou.
Além do impacto direto nas culturas agrícolas, a presença da espécie eleva o custo de produção com cercas, vigilância e recuperação de áreas danificadas.
O tema preocupa o Ministério da Agricultura, porque surtos de enfermidades em rebanhos podem afetar exportações e mercados internacionais, ressaltou Seixas.
Monitoramento e prevenção na fronteira do Caparaó
O Ibama relata que a invasão de javalis ainda não está estabelecida em território capixaba.
Contudo, técnicos já identificam animais em vida livre na tríplice fronteira entre Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, especialmente na região do Caparaó.
Nas áreas vizinhas, há relatos de reprodução confirmada, o que exige ação preventiva do lado capixaba.
No Espírito Santo, equipes do órgão vêm realizando apreensões de javalis mantidos em cativeiro, prática proibida, e detectaram solturas irregulares.
Técnicos também observaram casos de cruzamento com porcos domésticos, gerando o chamado javaporco, igualmente não permitido.
“Do lado de Minas e do lado do Rio, já existem vários relatos de reprodução de javalis em vida livre. Mas aqui no Estado estamos tentando nos antecipar, trabalhando de forma preventiva”, disse Seixas.
Onças: ameaça percebida e função ecológica
A presença de onças costuma gerar temor na população rural. Porém, o Ibama destaca que esses felinos controlam populações de animais como capivaras e os próprios javalis, atuando como predadores de topo e favorecendo o equilíbrio dos ecossistemas.
Por essa razão, diferentemente dos javalis, as onças devem ser preservadas. Segundo a superintendência do Ibama no Espírito Santo, o cenário local difere do Pantanal e da Amazônia.
A onça-pintada está quase extinta no Estado, restrita ao complexo florestal Linhares–Sooretama e em número muito reduzido. Já a onça-parda é mais comum e ocorre em diversos ambientes rurais capixabas.
“Esses felinos oferecem risco muito baixo”, afirmou o superintendente Rodrigo Vargas, ao defender medidas de convivência e prevenção, e não de eliminação.
Situação no Espírito Santo: espécies e distribuição
Enquanto o registro de onça-pintada é raro e concentrado em grandes remanescentes, a onça-parda apresenta ampla distribuição e maior capacidade de adaptação.
Mesmo assim, o Ibama orienta que produtores adotem condutas simples de ordenamento do rebanho, manejo de carcaças e proteção de currais noturnos, o que reduz conflitos com a fauna e evita atrair predadores.
Em paralelo, o órgão reforça que eventuais ataques a animais domésticos devem ser comunicados, para que as equipes possam avaliar áreas de maior vulnerabilidade, recomendar ajustes no manejo e, quando necessário, instalar medidas dissuasórias.
Apreensões e cruzamentos ilegais com porcos domésticos
No lado capixaba, as equipes já recolheram javalis encontrados em cativeiro, o que é vedado pela legislação.
Também foram identificadas solturas sem autorização, consideradas graves por facilitar a dispersão da espécie.
Casos de hibridização com suínos domésticos, que originam o javaporco, agravam o problema por conferir maior resistência e adaptabilidade aos animais, ampliando danos em lavouras e pastagens.
O Ibama enfatiza que manter, transportar, soltar ou cruzar javalis sem autorização é proibido e sujeito a sanções.
A orientação é comunicar a presença dos animais para que as equipes avaliem a necessidade de ações de controle e de educação ambiental.
Caça e controle: o que vale no Estado
Apesar do status de invasora dos javalis, o Ibama esclarece que a caça é proibida no Espírito Santo tanto para javalis quanto para onças.
Em outras unidades da federação, onde a invasão dos javalis está consolidada, há regras específicas que permitem o controle da espécie sob determinadas condições.
No território capixaba, entretanto, vigora a proibição, e qualquer iniciativa de manejo deve seguir as orientações oficiais.
Para as onças, por se tratarem de espécies nativas e protegidas, a diretriz é preservação, com foco em prevenção de conflitos.
Capacitação em Castelo e Iconha para resposta a incidentes
Com o objetivo de preparar a população do Sul do Estado para lidar com ocorrências envolvendo javalis e onças, o Ibama promove oficinas de capacitação em parceria com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e as prefeituras de Castelo e Iconha.
Segundo o órgão, as atividades se estendem até a próxima sexta-feira (5), com foco em comportamento dos animais, identificação de riscos e medidas simples de segurança que protejam pessoas e conservem a fauna.
Interessados ainda podem participar do encontro de Iconha, programado para quinta (4) e sexta-feira (5), no Cras do município. Não há necessidade de inscrição.
A programação inclui orientações para gestores públicos, técnicos agropecuários e lideranças comunitárias, a fim de padronizar procedimentos de resposta e reduzir danos em lavouras e criações.
Como a população deve agir diante de ocorrências
A recomendação do Ibama é evitar o contato direto com javalis, acionar as autoridades ambientais diante de avistamentos e registrar danos em propriedades rurais.
Em áreas com circulação de onças, medidas de manejo noturno do gado, proteção de bebedouros e descarte adequado de resíduos ajudam a minimizar o risco de encontros.
Em caso de emergência, a orientação é procurar as defesas civis municipais e os canais oficiais do órgão ambiental.
Além disso, o órgão sugere que produtores mantenham comunicação ativa com vizinhos e associações rurais para identificar rotas de deslocamento dos animais e organizar respostas coordenadas.