Estudo aponta possível volta do horário de verão para evitar riscos de falta de energia, diante de desafios na matriz elétrica e no atendimento à demanda em horários de pico.
O retorno do horário de verão no Brasil voltou a ser debatido como alternativa para evitar riscos de apagão nos próximos anos, diante dos desafios enfrentados pelo sistema elétrico nacional.
Segundo o Plano da Operação Energética 2025 (PEN 2025), divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) em julho de 2025, o país deve enfrentar dificuldades crescentes para suprir a demanda de potência nos horários de pico, principalmente ao anoitecer, entre 2025 e 2029.
A análise do ONS indica que, se não houver a realização de leilões de potência elétrica nos próximos anos, o Sistema Interligado Nacional (SIN) poderá registrar situações críticas, sobretudo nos períodos de maior consumo, como o final do dia.
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Uma das soluções avaliadas pelo órgão é justamente a possível retomada do horário de verão, mecanismo que havia sido suspenso em 2019 pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com o documento do ONS, a geração de energia no Brasil vem crescendo, impulsionada principalmente por fontes renováveis, como a energia eólica, a solar e a mini e microgeração distribuída solar (MMGD).
No entanto, estas fontes, apesar do avanço, apresentam produção reduzida ou até nula durante a noite, justamente quando o consumo atinge seu pico.
Isso obriga o sistema a acionar usinas térmicas flexíveis para garantir o fornecimento, o que pode aumentar custos e emissões de gases do efeito estufa.
Cenário energético e riscos de apagão
Para os próximos quatro anos, a previsão é de acréscimo de 36 gigawatts (GW) na capacidade instalada do Brasil, totalizando 268 GW em 2029.
O protagonismo das fontes renováveis é confirmado pela projeção de que a mini e microgeração distribuída solar, em conjunto com a geração solar centralizada, representará 32,9% de toda a matriz elétrica nacional até 2029.
Assim, a energia solar passará a ocupar a segunda posição em capacidade instalada dentro do Sistema Interligado Nacional.
Mesmo diante da ampliação da geração, o ONS alerta para a necessidade de adaptar a operação do sistema elétrico, que exige maior flexibilidade, sobretudo das hidrelétricas – fontes capazes de ajustar rapidamente sua produção.
O operador destaca que a dependência das fontes intermitentes, como solar e eólica, intensifica o desafio de garantir o fornecimento de energia nos momentos de maior demanda.
Leilões de potência e impasses regulatórios
O plano apresentado pelo ONS detalha que, a partir de outubro deste ano, poderá haver necessidade de acionar as usinas térmicas em volumes ainda mais elevados do que os já previstos, especialmente para garantir o fornecimento de potência no horário de pico.
O documento ressalta que, em praticamente todos os cenários analisados para o segundo semestre de 2025, será preciso utilizar a chamada “reserva de potência”, mecanismo que permite ativar usinas de forma rápida para atender a picos inesperados de demanda.
O relatório, porém, não recomenda ampliar a contratação de geração térmica com pouca flexibilidade ou que demande muito tempo para iniciar operação.
Conforme o ONS, o cenário atual exige que o sistema disponha de recursos com rápida capacidade de resposta, adaptando-se a variações bruscas na demanda e nas oscilações das fontes renováveis ao longo do dia.
Os desafios para viabilizar esse modelo mais flexível esbarram em impasses regulatórios.
Estava previsto para agosto de 2024 o chamado Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência, que contrataria energia elétrica de novos e antigos empreendimentos, incluindo hidrelétricas, termelétricas a gás natural e a biocombustíveis.
No entanto, disputas judiciais adiaram o certame, e em abril de 2025 o Ministério de Minas e Energia revogou as regras do leilão, cancelando a disputa prevista para junho.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), caso seja publicada nova portaria, o leilão poderá ser retomado em data futura, reaproveitando as etapas e documentos já elaborados.
Insuficiência de oferta e novas demandas do setor elétrico
Além do impasse nos leilões, o PEN 2025 chama atenção para o risco crescente de insuficiência da oferta de potência, tecnicamente chamado de LOLP (Loss of Load Probability).
O documento prevê que o nível de segurança do sistema poderá ser violado em diversos períodos entre 2026 e 2029, indicando vulnerabilidade contínua para atender à demanda, especialmente entre os meses de agosto a dezembro de cada ano.
Os estudos do PEN 2024 já haviam apontado esse risco, agora reforçado pelo aprofundamento das violações no novo ciclo avaliado.
O relatório destaca ainda que a presença crescente de cargas especiais, como plantas de datacenters e projetos de hidrogênio verde, acentua o desafio, já que essas operações demandam grande quantidade de energia com baixa flexibilidade para reduzir consumo em horários críticos.
A recomendação do ONS é de atenção especial à viabilidade de atendimento dessas cargas no período noturno de ponta, justamente quando a oferta encontra mais obstáculos para acompanhar a demanda.
Perspectivas e alternativas para o horário de verão
No contexto atual, o debate sobre o retorno do horário de verão ganha força porque, tradicionalmente, a medida desloca parte do consumo de energia dos horários mais críticos para períodos em que há maior oferta, reduzindo a pressão sobre o sistema no início da noite.
A decisão sobre a adoção ou não do horário de verão dependerá das projeções de atendimento dos próximos meses, segundo informou o ONS.
Essa possível retomada busca evitar situações de emergência energética, mas ainda depende de análises técnicas e da evolução das condições do sistema.
Diante do cenário de instabilidade e da necessidade de soluções rápidas, especialistas do setor elétrico e entidades do segmento debatem caminhos para ampliar a segurança no abastecimento, seja por meio da diversificação das fontes, avanços em armazenamento de energia ou incentivos à eficiência no consumo.
No entanto, a urgência se impõe, já que, sem ajustes e planejamento, o risco de falta de energia se mantém elevado, especialmente em anos de demanda crescente e oferta intermitente.
Com a possibilidade de retomada do horário de verão e os desafios do setor elétrico brasileiro, como a sociedade pode se preparar para evitar transtornos e participar ativamente das discussões sobre o futuro da energia no país?