Descoberta com teores recordes reforça o potencial brasileiro e pode colocar Araxá entre os maiores polos globais de terras raras e nióbio
A mineradora australiana St George Mining anunciou a descoberta de um novo e expressivo depósito de terras raras e nióbio em Araxá, Minas Gerais.
A revelação foi feita após os primeiros resultados de sondagens por perfuração de circulação reversa (RC) na área denominada Projeto Araxá, localizada a cerca de um quilômetro a leste do atual recurso mineral estimado (MRE) do projeto.
Os dados indicam teores muito acima da média mundial, o que provocou forte reação do mercado e fez as ações da empresa dispararem mais de 20% após o comunicado.
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“Estamos muito satisfeitos com os resultados das perfurações mais profundas realizadas em Araxá Leste, que confirmaram a continuidade e a extensão em profundidade desta descoberta de terras raras e nióbio de alto teor próxima à superfície“, disse o presidente da St George Mining, John Prineas.
Descoberta em East Araxá surpreende pela alta concentração
Segundo a St George, as perfurações iniciais revelaram camadas espessas e ricas em minerais logo abaixo da superfície.
Os resultados apontaram teores de até 16,87% de óxidos totais de terras raras (TREO) — o equivalente a 168.700 partes por milhão — e até 4,06% de pentóxido de nióbio (Nb₂O₅), cerca de 40.600 ppm.
Esses números colocam a descoberta entre as mais concentradas do Ocidente.
Três furos de sondagem foram destacados pelo relatório técnico: um deles interceptou 48 metros com teor médio de 5,71% TREO a partir de apenas 2 metros de profundidade, incluindo um trecho com 15 metros a 12,61% TREO.
Outro registrou 32 metros com 1,04% Nb₂O₅ a partir de 11 metros, enquanto um terceiro furo encontrou 40 metros com 2,62% TREO e 1,05% Nb₂O₅ desde a superfície.
Esses resultados reforçam o potencial de expansão do projeto e indicam que a mineralização é contínua e de grande volume.
Elementos críticos para tecnologia e defesa
Além dos altos teores, a composição dos minerais encontrados aumenta ainda mais a relevância da descoberta.
Os resultados apontaram níveis elevados de elementos magnéticos e terras raras pesadas, especialmente neodímio e praseodímio (NdPr), que atingiram até 3,96% — cerca de 39.600 ppm.
O NdPr é um componente essencial para a produção de ímãs permanentes de alta potência usados em turbinas eólicas, carros elétricos e equipamentos industriais.
Outro destaque é o samário, que atingiu até 2.600 ppm nas amostras.
Esse elemento é usado na fabricação de ímãs de samário-cobalto, indispensáveis em aplicações militares de alta performance, como os caças F-35, mísseis guiados e sistemas de radar.
Também foram detectados teores relevantes de disprósio, térbio, lutécio e gadolínio, que somam cerca de 1.500 ppm do TREO total — todos considerados críticos para tecnologias avançadas e geralmente obtidos em pequenas quantidades no mercado mundial.
Segundo a St George, a presença desses elementos em níveis tão elevados torna East Araxá uma fonte estratégica rara no mundo, capaz de atender setores de tecnologia de ponta e defesa nacional em diversos países.
Araxá ganha destaque no cenário global de terras raras
A nova descoberta se soma ao depósito já conhecido no projeto Araxá, que possui um recurso estimado de 40,6 milhões de toneladas com teor médio de 4,13% TREO e 41,2 milhões de toneladas com 0,68% Nb₂O₅.
Isso faz de Araxá o maior depósito de terras raras hospedado em carbonatito da América do Sul e o segundo de maior teor do mundo ocidental, atrás apenas da mina Mountain Pass, nos Estados Unidos, e de Mt Weld, na Austrália.
Ambos esses projetos internacionais são referências globais e, assim como Araxá, estão hospedados em carbonatitos, um tipo de formação geológica raro e altamente favorável à concentração de terras raras.
A presença dessa mesma geologia coloca o projeto brasileiro em um patamar semelhante aos principais produtores mundiais, mas com a vantagem de estar em uma região com infraestrutura consolidada e tradição na mineração, graças à atuação da CBMM, que responde por cerca de 80% da produção global de nióbio.
Apoio do governo brasileiro e de Minas Gerais
Outro ponto que fortalece o potencial de Araxá é o apoio institucional que a St George recebeu.
A empresa foi selecionada pelo governo federal para participar do programa MAGBRAS, que busca criar uma cadeia de suprimento nacional de produtos de terras raras, incluindo a produção de ímãs permanentes inteiramente no Brasil.
Além disso, a companhia firmou um acordo de cooperação com o governo de Minas Gerais, que se comprometeu a agilizar processos de licenciamento e apoiar o avanço dos estudos e da futura implantação do projeto.
A St George também montou uma equipe local experiente e estabeleceu relações com autoridades e empresas brasileiras para garantir o andamento rápido das próximas etapas, algo que pode se tornar um diferencial competitivo relevante no mercado internacional.
Próximos passos e planos da empresa
De acordo com o comunicado, a empresa continua as perfurações em Projeto Araxá e pretende divulgar um novo recurso inferido ainda em 2025, incorporando a nova área ao MRE existente.
Três sondas diamantadas estão operando 24 horas por dia para ampliar a área conhecida do depósito.
A mineradora também firmou uma aliança estratégica com a norte-americana REAlloys, especializada em materiais para ímãs e com contratos no setor de defesa dos EUA.
A parceria inclui testes com o concentrado de terras raras de Araxá e pode resultar em um contrato de fornecimento de longo prazo para os Estados Unidos.
Uma descoberta com peso estratégico global
A descoberta em Araxá pode reposicionar o Brasil como um ator-chave no mercado global de terras raras e nióbio, reduzindo a dependência ocidental da China no fornecimento desses minerais estratégicos.
Se os próximos resultados confirmarem o potencial estimado, o projeto poderá transformar Araxá em um dos maiores polos mundiais para esses elementos críticos da indústria e da tecnologia.
Comunicado completo em PDF.