Fernando Haddad disse que a corrente de comércio entre Brasil e Estados Unidos já é menos da metade do que foi nos anos 1980 e que tende a encolher ainda mais após a tarifa de 50%.
Em São Paulo, no dia 18 de agosto de 2025, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o comércio entre Brasil e Estados Unidos tende a cair ainda mais após a imposição de uma tarifa de 50% pelos EUA sobre parte relevante das exportações brasileiras.
Segundo ele, a corrente de comércio entre os dois países já representa menos da metade do que foi nos anos 1980, e a perspectiva é de retração se o impasse continuar. As declarações foram dadas em um seminário organizado pela Times Brasil CNBC e pelo Financial Times.
Haddad também confirmou que a reunião que trataria do tema com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, foi cancelada na semana anterior, o que esfriou a chance de avanço nas negociações a curto prazo. O encontro seria justamente para discutir caminhos de atenuação do tarifaço.
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EUA exigem “solução impossível” e Haddad diz que Brasil já fez sua parte nas negociações
No evento em São Paulo, Haddad disse que a negociação não avança porque os EUA têm exigido do Brasil uma “solução constitucionalmente impossível”, em referência à ideia de que o Executivo interfira em questões do Judiciário. Para o ministro, a condição seria incompatível com a Constituição brasileira. O governo reforçou que já “fez sua parte” na mesa de negociação e aguarda um gesto de Washington.
O seminário reuniu autoridades e lideranças empresariais para discutir crescimento e produtividade, mas o foco acabou dominado pelo impacto da tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras aos EUA. A fala de Haddad alinhou o diagnóstico político com a realidade do comércio exterior, reforçando que a corrente de comércio entre os dois países encolheu ao longo das décadas e pode recuar ainda mais com o novo custo tarifário.
Tarifa de 50%, o que ficou de fora e o cronograma
A tarifa adicional de 50% foi anunciada pelo governo dos EUA e começou a valer em 6 de agosto de 2025, com regras de transição para cargas embarcadas antes dessa data. A medida atinge um conjunto amplo de produtos brasileiros, elevando custos e reduzindo a competitividade no maior mercado mundial.
Houve, entretanto, exceções importantes. Segundo nota técnica do MDIC, 44,6% do valor exportado pelo Brasil aos EUA ficou fora da tarifa adicional, com quase 700 itens listados como exceção. Entre os produtos citados estão aviões, suco de laranja, petróleo e minério de ferro, que permaneceram sob alíquotas de até 10% já vigentes, e não sob a sobretaxa de 50%. O detalhamento foi divulgado no fim de julho.
Mesmo com as exceções, setores inteiros seguem pressionados. Fica claro que a estratégia americana combinou uma lista ampla com janelas de exceção para segmentos sensíveis ao próprio consumo interno dos EUA. Para o exportador brasileiro, o cenário é de mais incerteza de preço, necessidade de rever contratos e, em alguns casos, redirecionar vendas a outros mercados.
Setores mais afetados pelo tarifaço dos EUA: café, aço e manufaturados
No agronegócio, o café virou símbolo do impacto. Relatos da imprensa indicam que o produto não entrou no rol principal de exceções, o que mantém pressão de preço na importação americana e pode levar a realocação de parte das compras para outros fornecedores. A cadeia precisa avaliar prazos de entrega, custo logístico e prêmios de qualidade para sustentar margens.
Em bens industriais, aço e alumínio já vinham de um ambiente tarifário mais duro e permanecem sensíveis. Máquinas, eletrônicos e itens de madeira também perdem fôlego quando a sobretaxa é aplicada, obrigando empresas a renegociar cláusulas de reajuste e a revisar portfólios para mercados alternativos. O efeito tende a ser mais visível em contratos spot e em exportadores com baixa diversificação geográfica.
Na indústria aeronáutica, o risco de impacto elevado foi discutido assim que a tarifa foi anunciada. Parte da preocupação se dissipou com a exclusão de aeronaves na lista de exceções, mas subsiste incerteza para peças e componentes em classificações específicas. Para evitar ruídos, fabricantes seguem mapeando NCM por NCM, já que detalhes de listas e regras de origem podem alterar o cálculo efetivo da tarifa.
Dados do comércio e a tendência para 2025
Antes do tarifaço, os EUA figuravam entre os principais parceiros do Brasil. Em 2024, as exportações de bens somaram pouco mais de US$ 40 bilhões, com valor semelhante nas importações, compondo uma corrente de comércio relevante para a pauta brasileira. O pano de fundo para 2025, porém, é de volatilidade, com risco de desaceleração do fluxo bilateral.
A fala de Haddad sobre a corrente de comércio atual ser menos da metade do que foi nos anos 80 ajuda a dimensionar a mudança estrutural. Além da tarifa, pesam mudanças de composição da pauta e a maior integração do Brasil com outras regiões, como Ásia e Europa. Para o leitor, a tradução é simples: se o custo para vender aos EUA sobe, empresas tendem a procurar outros destinos, e isso mexe com preços, câmbio e investimento.
Relatos da imprensa internacional descrevem um impasse político e diplomático que travou a negociação a curto prazo. Na avaliação de analistas, enquanto perdurar a incerteza, o Brasil deve acelerar a diversificação de mercados e tentar fechar pendências comerciais, como o capítulo final do acordo Mercosul–União Europeia, para compensar perdas no eixo EUA.