Mesmo com a desaceleração global e o preço do barril em baixa, o governo quer preservar o plano bilionário da Petrobras, que divide diretoria e conselheiros sobre riscos de endividamento e retorno financeiro.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a direção da Petrobras enfrentam um impasse estratégico sobre o novo plano de investimentos da estatal, que deve abranger o período eleitoral de 2026. Enquanto o Palácio do Planalto insiste na manutenção dos aportes bilionários, executivos da companhia defendem uma revisão diante da queda do preço do petróleo e do risco de sobrecarga financeira.
De acordo com o jornal de Brasília, a divergência se tornou o principal tema no conselho da petroleira, que reúne representantes do governo e acionistas minoritários. Manter o ritmo de investimentos, mesmo com menor receita, pode elevar o endividamento e reduzir o pagamento de dividendos à União e investidores privados.
Queda do petróleo reabre debate sobre rentabilidade
O contexto internacional tem sido decisivo para o debate. Após o acordo entre Israel e Hamas, o relaxamento das tensões no Oriente Médio reduziu o preço do barril do tipo Brent, que fechou a última semana a US$ 61,33 16% abaixo de um ano atrás.
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A guerra comercial entre Estados Unidos e China também pressiona o mercado, com receios de desaceleração global e menor demanda por energia.
A Agência Internacional de Energia (AIE) prevê excedente de oferta de petróleo em 2026, o que reforça a preocupação da cúpula técnica da Petrobras.
Mesmo assim, o plano aprovado no fim de 2024 prevê US$ 111 bilhões em investimentos entre 2025 e 2029, alta de 4,7% em relação ao ciclo anterior.
Projeções bilionárias e dilema de sustentabilidade
Do total projetado, US$ 98 bilhões já estão vinculados a projetos em execução, principalmente de exploração e produção, com financiamento assegurado.
Outros US$ 13 bilhões ainda dependem de avaliação de viabilidade financeira, incluindo o projeto de produção de querosene sustentável de aviação a partir do etanol.
A CEO da Petrobras, Magda Chambriard, defende que a estatal deve “adaptar seu planejamento estratégico à nova realidade do mercado”.
Em agosto, ela afirmou que diversos projetos maduros voltaram à fase de reavaliação por causa do preço mais baixo do petróleo, citando inclusive operações em terra na Bahia que vinham sendo reconsideradas.
Lula reforça discurso de soberania e geração de empregos
Em sentido oposto, Lula reforçou que a Petrobras ainda não atingiu seu potencial de retorno ao país. Durante discurso na Bahia, afirmou ter “convicção de que a estatal deve ir além do que já entregou ao povo brasileiro”.
O presidente também retomou a defesa da indústria naval nacional, lembrando que insistiu, em gestões anteriores, na construção de sondas e embarcações no Brasil como forma de gerar empregos e tecnologia.
“É mais fácil fazer fora, mas eu quero que gere emprego aqui, gere imposto aqui e conhecimento aqui”, declarou o presidente.
O discurso foi acompanhado por Chambriard, que tem buscado equilibrar as demandas políticas por investimentos com a prudência financeira cobrada pelo mercado.
O debate interno da Petrobras tem reflexo direto na percepção dos investidores. Analistas do Itaú BBA classificam a revisão dos investimentos como tema central para o desempenho das ações em 2026.
Parte do mercado acredita em cortes inevitáveis, enquanto outros apostam que a pressão do governo manterá o plano robusto, mesmo diante de margens menores.
O diretor financeiro da estatal, Fernando Melgarejo, também reforçou a necessidade de ajustes: “Vamos reavaliar todas as premissas e identificar os projetos viáveis.
Os que não passarem na nossa régua serão postergados ou reformulados.”
A Petrobras volta a viver o dilema histórico entre a função social e a disciplina econômica. De um lado, o governo vê na empresa um instrumento de reindustrialização e política energética; de outro, o mercado exige foco em rentabilidade e controle da dívida.
O novo plano de investimentos para 2026–2030, a ser definido até o fim do ano, colocará à prova o equilíbrio entre soberania e solvência.
Você concorda que a Petrobras deve manter os investimentos mesmo com o petróleo em queda? Ou acredita que o ajuste é essencial para preservar o caixa da estatal? Deixe sua opinião nos comentários queremos ouvir quem vive essa realidade no dia a dia.