Ministro da Fazenda aposta em queda dos juros e inflação sob controle, enquanto estabilidade do dólar e metas fiscais reforçam o otimismo do governo com a retomada econômica e o equilíbrio das contas públicas.
A poucos dias da nova decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo vê espaço para redução dos juros nos próximos meses.
Durante uma videoconferência na Jafra Investment Conference, o ministro disse acreditar que o país pode encerrar o atual mandato presidencial com a menor inflação acumulada desde o Plano Real, lançado em 1994.
Perspectiva de juros mais baixos
Segundo Haddad, a combinação entre o arcabouço fiscal, a reforma tributária e a inflação mais controlada tem criado condições para uma queda gradual do custo do crédito.
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Ele reiterou o compromisso do governo com as metas fiscais: déficit zero em 2025 e superavit primário de 0,25% do PIB em 2026, conforme previsto no novo arcabouço.
O ministro destacou ainda que a cotação do dólar próxima de R$ 5,30 tem colaborado para estabilizar os preços internos e ajudar o Banco Central a conter a inflação.
“Acredito que vai se abrir um espaço para a queda do juro. Não sou do Banco Central, mas tudo me leva a crer que o ciclo de corte de juros vai se iniciar em algum momento nos próximos meses”, afirmou.
Haddad disse também que o governo está otimista com a trajetória econômica, mencionando avanços nas reformas e novos setores que devem impulsionar o crescimento, como o de economia verde, seguro, crédito e inteligência artificial.
Expectativa em torno do Copom
O Copom iniciou mais uma reunião nesta terça-feira (data aproximada), com expectativa de definir a nova taxa Selic, atualmente em 15% ao ano — o maior patamar desde 2006.
Na última decisão, no fim de julho, o Banco Central havia interrompido o ciclo de alta, após elevar os juros em 4,5 pontos percentuais nos nove meses anteriores.
Analistas do mercado esperam que a taxa seja mantida, o que representaria a terceira reunião consecutiva sem alterações.
Essa decisão deve levar em conta os indicadores de inflação e emprego, além das projeções fiscais apresentadas pelo governo.
Inflação e crescimento sob controle
Haddad avaliou que o país pode estar entrando em um ciclo sustentável de queda dos juros, sustentado por reformas estruturais e estabilidade econômica.
Segundo ele, “superada a fase de inflação mais alta no primeiro semestre, há condições para que o país entre em uma trajetória de juros mais baixos com sustentabilidade”.
O ministro afirmou acreditar que, ao final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil terá a menor inflação acumulada em quatro anos desde 1994, ficando abaixo de 20%.
Ele também mencionou expectativa de crescimento médio de 3% ao ano e desemprego em nível historicamente baixo.
Mercado de trabalho em recuperação
No mesmo dia do evento, o IBGE divulgou novos dados sobre o mercado de trabalho, mostrando queda na taxa de desemprego.
No trimestre encerrado em julho, o índice ficou em 5,6%, o que corresponde a 6,1 milhões de pessoas desempregadas — o menor número da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012.
Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve queda de 18% no total de desempregados e redução de 1,2 ponto percentual na taxa de desocupação, que estava próxima de 7% em 2024.
Na comparação com o trimestre anterior, a queda foi de 0,2 ponto percentual.
Esses dados reforçam o bom momento do mercado de trabalho e sustentam o discurso do governo de que a economia está em recuperação.
Analistas apontam cautela do Banco Central
Apesar do otimismo do governo, especialistas acreditam que o Banco Central deve manter cautela antes de iniciar cortes significativos nos juros.
O analista de política e economia Vinícius Torres Freire observou que a taxa de desemprego historicamente baixa pode pressionar custos, sobretudo no setor de serviços, ainda que a inflação geral esteja desacelerando.
Segundo ele, o mercado de trabalho aquecido é um dos fatores que podem adiar uma redução na Selic, já que a inflação de serviços continua elevada e as expectativas para 2027 ainda estão acima da meta de 3%.
“Há desconfiança sobre o controle das contas públicas e isso mantém as expectativas de inflação altas.
O Banco Central só deve mexer na taxa de juros quando estiver seguro de que essas expectativas estão ancoradas na meta”, explicou.
O analista afirmou que, mesmo com o cenário positivo, o Banco Central deve esperar sinais mais claros de desaceleração para iniciar cortes expressivos, o que pode ocorrer entre dezembro e março de 2026.
Otimismo versus prudência
O governo Lula aposta em um cenário de equilíbrio fiscal e inflação controlada para permitir a redução dos juros e impulsionar o crescimento.
Já o Banco Central mantém discurso mais conservador, priorizando o controle das expectativas de inflação antes de flexibilizar a política monetária.
Enquanto isso, o dólar segue estável e o superavit fiscal ajuda a reforçar a confiança no país.
Com a economia mostrando sinais de recuperação e o emprego em alta, o Brasil pode estar próximo de um novo ciclo de crescimento sustentável.
Mas a pergunta que ainda domina os bastidores de Brasília é: quando, de fato, o Copom começará a cortar os juros?



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