O megaprojeto Forest City, na Malásia, está renascendo como palco de um experimento, a Network School, do ex-CTO da Coinbase Balaji Srinivasan, que ensina e testa “sociedades-startup”. Governo local oferece incentivos fiscais e a procura já passa de centenas de alunos.
Cidade erguida para ser um “paraíso urbano” de alto padrão, Forest City ficou famosa mundialmente pela baixa ocupação e pelos problemas da sua incorporadora chinesa. O complexo, orçado em cerca de US$ 100 bilhões, virou sinônimo de “cidade fantasma” e exemplo de excesso imobiliário.
Agora, volta ao noticiário com uma proposta diferente, atrair empreendedores de tecnologia e cripto para testar novos modelos de comunidade. De acordo com a Bloomberg e cobertura em veículos internacionais, a cidade “inacabada” ganhou nova utilidade ao sediar um programa que ensina a construir comunidades digitais com laços físicos.
A reviravolta ganhou tração a partir de agosto de 2025, quando foi noticiado que um hotel foi transformado em campus e passou a receber programadores, fundadores e investidores interessados em governança descentralizada e em modelos de “nação em rede”. A narrativa de “fracasso imobiliário” deu lugar ao experimento social e econômico.
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A Network School é o programa idealizado por Balaji Srinivasan, autor de The Network State e ex-CTO da Coinbase
A proposta reúne sprints de produto pela manhã, aulas de programação, seminários sobre história econômica e governança, além de um componente forte de alta performance física. O ponto de encontro é o Marina Hotel, em Forest City, que virou campus para os participantes.
Segundo a Bloomberg e o Los Angeles Times, quase 400 alunos já passaram pelo programa, muitos deles empreendedores. O preço inicial é de cerca de US$ 1.500 por mês, incluindo hospedagem e alimentação em quarto compartilhado, algo que, somado ao custo de vida local, tende a reduzir barreiras de entrada para quem deseja construir projetos durante o período.
Os conteúdos vão de Restauração Meiji e estado-empreendedor de Singapura a mecanismos de governança descentralizada. Há ainda palestras e encontros com fundadores, investidores e pesquisadores. O formato quer acelerar produtos e, ao mesmo tempo, validar se uma ideologia compartilhada é capaz de sustentar uma comunidade com regras próprias.
Sociedades-startup e “network state”, o que está realmente em jogo
No cerne do projeto está a ideia de sociedades-startup: comunidades alinhadas por valores e objetivos comuns, organizadas via internet, que adquirem presença física em diferentes lugares e perseguem reconhecimento como unidades políticas legítimas. Em The Network State e nas apresentações públicas, Balaji argumenta que a internet encurta a distância entre valores e governança, permitindo arranjos voluntários que competem com o Estado tradicional.
A visão prática aparece no currículo e nas falas recentes do fundador, inclusive no Bitcoin Asia em Hong Kong, onde ele comparou a escolha de um país à escolha de uma universidade, reforçando a ideia de que indivíduos poderão “escolher sua sociedade” com base em regras e incentivos. A Network School seria o protótipo para replicar o modelo em outras cidades.
Por que escolher a “cidade fantasma” na Malásia
Além do custo de ocupação e da disponibilidade de espaços, Forest City ganhou uma carta de atração poderosa, a isenção de 0% para Single-Family Offices que se instalarem na Forest City Special Financial Zone. O desenho do incentivo foi anunciado em setembro de 2024 e detalhado por consultorias e pelo regulador ao longo de 2025. A regra prevê isenção sobre renda elegível por até 20 anos, mediante critérios de ativos sob gestão, substância econômica e outros requisitos. Para executivos, há menções a alíquota reduzida de 15%.
Essa política se soma à agenda da Johor-Singapore Special Economic Zone (JS-SEZ), acordo formalizado em janeiro de 2025 para facilitar comércio, mobilidade e investimentos, aproximando a logística e o capital de Singapura dos terrenos e custos da Malásia. O objetivo é destravar projetos de alto valor em manufatura avançada, data centers, finanças digitais e serviços. Para iniciativas como a Network School, estar ao lado de Singapura amplia acesso a investidores, voos e infraestrutura.
Há também a designação de zona duty-free e a tentativa do governo de revitalizar o projeto criticado como “elefante branco”, o que explica a convergência entre política pública e a aposta privada de atrair talentos e capital.