1. Início
  2. / Economia
  3. / “Pobres não usam gasolina”: presidente da Colômbia defende aumento de imposto sobre o combustível para financiar o funcionamento do estado
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

“Pobres não usam gasolina”: presidente da Colômbia defende aumento de imposto sobre o combustível para financiar o funcionamento do estado

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 04/09/2025 às 20:49
“Pobres não usam gasolina”: presidente da Colômbia defende aumento de imposto, afirmando que apenas os ricos seriam prejudicados
Foto: Reprodução
  • Reação
  • Reação
4 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo

O governo colombiano colocou em pauta uma reforma tributária polêmica. A proposta, apresentada pelo presidente Gustavo Petro, busca arrecadar mais para financiar o orçamento de 2026. Mas o impacto maior está na gasolina, no diesel e até no etanol, combustíveis que fazem parte da rotina da população. Por isso, o anúncio já causa reações, debates e preocupação em todo o país.

O governo do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, apresentou nesta semana sua segunda reforma tributária. A proposta busca arrecadar 26,3 bilhões de pesos, cerca de R$ 35 milhões, para complementar o Presupuesto General de la Nación de 2026.

Entre as medidas centrais está o aumento progressivo do IVA sobre gasolina e diésel, até alcançar a tarifa geral de 19%. Hoje, a gasolina paga 5% e o diesel praticamente não paga imposto. A meta é atingir a cobrança total até 2028.

No caso da gasolina, a tarifa sobe para 10% em 2026 e chega a 19% em janeiro de 2027. Já odiesell terá 10% em 2026 e 2027, passando para 19% a partir de janeiro de 2028.

Além disso, a reforma amplia o imposto ao carbono e estende o IVA de 19% ao etanol, o que deve elevar ainda mais os preços dos combustíveis.

Discurso oficial e reação

Petro defende a medida afirmando que os mais afetados serão os setores de maior renda. Segundo ele, a gasolina é usada principalmente por quem tem carros de alto cilindro ou de quatro portas.

Quando falamos em impostos sobre veículos de alta potência, estamos tributando a gasolina, sim. Mas os pobres quase nunca usam gasolina. Os que mais usam gasolina são os veículos de quatro portas”, declarou.

A declaração, no entanto, gerou forte reação. Setores políticos e econômicos alertam que a alta nos combustíveis atinge toda a população, inclusive famílias de baixa renda, que dependem de transporte individual para trabalhar e se deslocar.

O tamanho da frota na Colômbia

Dados do Registro Único Nacional de Tránsito (Runt) mostram que o país tem cerca de 19,8 milhões de veículos em circulação.

As motocicletas representam 62% da frota (12,3 milhões). Os veículos de quatro rodas são 37% (7,3 milhões). O 1% restante corresponde a maquinaria, reboques e semirreboques (218.958).

Até dezembro de 2024, havia 3,9 milhões de automóveis, 1,8 milhão de camionetas e 754 mil camperos. Em média, para cada carro circulam três motos, e para cada camioneta existem quase sete motocicletas no país.

Outro dado importante: 95% da frota consome gasolina (18,7 milhões de unidades). Apenas 5% (1,06 milhão) roda com diésel.

Segundo o Ministério da Fazenda, em 2024 os colombianos consumiram diariamente 6,0 milhões de galões de gasolina corrente e 6,1 milhões de galões de diésel.

Quem usa motocicletas

As motos são fundamentais para a mobilidade de quem tem menor renda. A Câmara da Indústria de Motocicletas da Andi mostra que a maioria dos compradores pertence aos estratos 1, 2 e 3, que ganham entre um e três salários mínimos mensais.

De acordo com o levantamento, 91% dos compradores de motos novas estão nessa faixa de renda. Isso reforça o papel da moto como alternativa de transporte barato e acessível.

O perfil educacional dos compradores também é variado: técnicos e tecnólogos (41%), universitários (30%) e bacharéis (27%).

Além disso, o veículo se tornou fonte de renda. O estudo aponta que 12,9% compram motos para aumentar os ganhos e 20,9% utilizam tanto para transporte quanto para trabalhar.

Esse cenário é bem diferente de países como os Estados Unidos, onde as motos representam menos de 5% da frota e são usadas principalmente para lazer. Na Colômbia, elas têm papel econômico e social central.

Quanto pode subir a gasolina

Cálculos do presidente da Fundación Xua Energy, Julio César Vera, indicam que o galão de gasolina pode subir 1.783 pesos, cerca de R$ 2,50, se a reforma for aprovada.

A Confederação de Distribuidores Minoristas de Combustíveis e Energéticos (Comce) estima um impacto ainda maior: 2.012 pesos por galão (“R$ 2,82”). Atualmente, o preço médio nacional é de 15.868 pesos (“R$ 22,26”).

O aumento se deve a três pontos principais: o imposto ao carbono, que terá alta de 94%; o IVA sobre combustíveis, que alcançará 19%; e a inclusão do etanol na cobrança.

Como o preço é formado

O valor final da gasolina na Colômbia já é composto por uma série de impostos e tarifas, que somados pesam diretamente no bolso do consumidor. Entre eles:

  • Ingresso ao produtor
  • Ingresso ao produtor de etanol
  • Imposto nacional
  • IVA sobre o ingresso ao produtor
  • Imposto ao carbono
  • Tarifa de marcação
  • Tarifa de transporte por polidutos
  • Tarifa de transporte do etanol
  • Margem Plan de Continuidad
  • Margem ao distribuidor maiorista
  • IVA sobre o distribuidor maiorista
  • Sobretaxa
  • Margem do distribuidor minorista
  • Perda por evaporação
  • Transporte da planta ao posto

Com tantos componentes, qualquer nova cobrança amplia o valor que o consumidor paga na bomba. Portanto, a reforma deve intensificar a pressão sobre o orçamento familiar.

Discussão aberta

O governo insiste que a reforma é fundamental para financiar programas sociais e manter equilíbrio fiscal. Petro defende que a conta recairá sobre os mais ricos, donos de carros grandes e de alto consumo.

Por outro lado, especialistas lembram que motos e carros pequenos, usados por milhões de trabalhadores de baixa renda, também dependem da gasolina.

O debate, portanto, não é apenas econômico. Ele reflete uma disputa de narrativas: de um lado, a promessa de justiça tributária; de outro, o temor de que os mais pobres sejam atingidos com força.

Na prática, a grande questão é saber quem pagará a conta da nova tributação. E a resposta parece ir muito além dos “ricos de quatro portas” citados pelo presidente.

Aplicativo CPG Click Petroleo e Gas
Menos Anúncios, interação com usuários, Noticias/Vagas Personalizadas, Sorteios e muitos mais!
Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x