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Gás natural mais acessível: potencial para impulsionar o crescimento econômico

Escrito por Paulo H. S. Nogueira
Publicado em 22/08/2025 às 14:18
Botijões de gás de diferentes cores e tamanhos dispostos em área industrial com tubulações ao fundo.
Conjunto de botijões de gás coloridos em primeiro plano com tubulações metálicas ao fundo.
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Tornar o gás natural mais acessível pode fortalecer a indústria, reduzir custos e impulsionar o crescimento econômico de forma sustentável no Brasil.

O gás natural mais acessível se tornou uma das principais demandas do setor industrial brasileiro. Isso porque o recurso não é apenas uma fonte de energia, mas também um elemento estratégico para o crescimento econômico e para a transição rumo a uma matriz energética menos poluente.

Quando se olha para a história recente, nota-se que o Brasil avançou muito em sua capacidade de produção de petróleo e gás. Entretanto, mesmo com números expressivos de extração, os custos elevados do insumo ainda representam um grande obstáculo para a indústria.

Esse cenário mostra que o potencial do gás natural ainda não foi totalmente explorado, principalmente pela falta de infraestrutura e pelo preço alto, que afetam diretamente a competitividade nacional.

Além disso, o país enfrenta desafios relacionados à gestão eficiente das reservas. Muitas vezes, decisões sobre reinjeção ou escoamento do gás dependem de fatores econômicos de curto prazo, o que impede que a indústria se beneficie plenamente do recurso disponível.

Histórico do gás natural no Brasil

O uso do gás natural no Brasil tem origem nos anos 1940, quando surgiram os primeiros aproveitamentos em campos terrestres. No entanto, foi a partir das descobertas na Bacia de Campos, nos anos 1970, que o recurso passou a ganhar mais relevância.

Mesmo assim, durante décadas, o gás natural não recebeu a mesma atenção que o petróleo. Ele era tratado como subproduto da exploração, muitas vezes queimado ou reinjetado nos poços por falta de infraestrutura adequada.

Somente a partir dos anos 2000, com a ampliação dos investimentos em gasodutos e com a descoberta do pré-sal, o país começou a enxergar o gás natural como um insumo estratégico.

A partir desse momento, o governo e a iniciativa privada passaram a discutir mais intensamente formas de transformar o recurso em fator de competitividade e em motor de reindustrialização.

Além disso, surgiram novos modelos de contrato e de comercialização, permitindo que empresas privadas participassem do mercado e contribuíssem para o crescimento sustentável da oferta de gás natural.

O preço elevado como entrave econômico

Apesar da abundância de reservas, o custo do gás no Brasil ainda é muito superior ao de outros países. Enquanto no mercado internacional o preço gira em torno de US$ 7 por milhão de BTU, a indústria brasileira desembolsou em 2024 aproximadamente US$ 16 pelo mesmo volume.

Essa diferença acentuada limita a capacidade de diversos setores industriais. Empresas de fertilizantes, petroquímica, vidro e cerâmica enfrentam custos elevados que reduzem margens de lucro e enfraquecem a competitividade do Brasil no cenário global.

Para especialistas, a explicação está tanto na falta de infraestrutura de escoamento e processamento quanto na forma de precificação adotada ao longo dos anos. Assim, o resultado é um mercado engessado, onde o consumidor paga caro por um insumo abundante no próprio território.

Portanto, reduzir o preço do gás natural não representa apenas uma vantagem econômica imediata, mas também uma estratégia de longo prazo para garantir a sustentabilidade do setor industrial brasileiro.

A necessidade de infraestrutura adequada

O Brasil produz mais de 150 milhões de metros cúbicos de gás por dia, segundo a Agência Nacional do Petróleo, mas apenas cerca de metade desse volume chega ao mercado.

Boa parte é reinjetada nos poços para manter a pressão dos reservatórios ou por falta de gasodutos e unidades de processamento.

Se houvesse infraestrutura adequada, parte significativa desse volume poderia atender à indústria e ao setor elétrico, reduzindo a necessidade de importações e equilibrando os preços.

Essa limitação estrutural reforça a urgência de investimentos em gasodutos e em unidades de processamento de gás natural. Além disso, mostra que o desafio não é apenas produzir, mas também distribuir o insumo de forma eficiente.

Investir em infraestrutura não só aumenta a oferta como também permite reduzir perdas no transporte e melhorar a segurança energética, garantindo que o Brasil esteja preparado para demandas futuras.

O papel do pré-sal na oferta de gás natural

O pré-sal, responsável por mais de 70% da produção nacional de petróleo e gás, representa uma oportunidade única para o Brasil ampliar a oferta. Essa região possui reservas imensas e pode garantir abastecimento por décadas.

No entanto, para transformar esse potencial em realidade econômica, é preciso superar barreiras regulatórias e ampliar a capacidade de transporte.

Dessa forma, o gás natural extraído no pré-sal poderia chegar de forma mais competitiva ao mercado e atender à crescente demanda industrial.

Além disso, a exploração inteligente do pré-sal oferece oportunidades para parcerias público-privadas, modernização tecnológica e geração de empregos altamente qualificados, fortalecendo toda a cadeia energética nacional.

Caminhos para reduzir o preço do gás

Estudos da Empresa de Pesquisa Energética indicam que o preço do gás poderia cair pela metade se o Brasil adotar novas formas de remuneração para investimentos em infraestrutura.

Além disso, a revisão das tarifas de transporte e a amortização de ativos já instalados poderiam reduzir os custos repassados aos consumidores.

Com essas mudanças, o insumo se tornaria mais competitivo e poderia estimular um aumento significativo do consumo industrial.

Políticas públicas e programas estratégicos

O governo lançou, em 2023, o programa “Gás para Empregar”. A iniciativa buscou flexibilizar o acesso à infraestrutura, abrir espaço para novos fornecedores e autorizar a comercialização do gás da União pela PPSA.

Essas medidas aumentaram a concorrência no setor e permitiram avanços importantes. Em São Paulo, por exemplo, o mercado livre de gás já representa 30% do consumo.

Além disso, o Brasil passou a importar gás da Argentina, oriundo de Vaca Muerta, o que fortaleceu a integração energética regional e ajudou a pressionar os preços para baixo.

O fortalecimento das relações regionais também cria oportunidades para inovação tecnológica e compartilhamento de boas práticas, aumentando a eficiência do setor como um todo.

O gás natural e a reindustrialização do Brasil

Um gás natural mais acessível pode transformar a indústria nacional. O setor industrial responde por cerca de 60% do consumo de gás no Brasil. Logo, qualquer redução no preço representa ganho direto de competitividade.

Com custos menores, setores como o de fertilizantes poderiam se expandir e reduzir a dependência externa, fortalecendo a segurança alimentar do país.

Da mesma forma, indústrias de base, como vidro, cerâmica e siderurgia, poderiam retomar investimentos e gerar mais empregos.

Além disso, o gás natural pode funcionar como ponte para a transição energética, já que emite menos gases de efeito estufa do que o carvão e o petróleo.

Perspectivas para o futuro

Para que o Brasil consiga aproveitar plenamente esse potencial, será preciso investir em infraestrutura, melhorar o ambiente regulatório e ampliar a concorrência no setor.

Com essas medidas, o gás natural pode deixar de ser um gargalo e se tornar um motor de crescimento econômico sustentável.

Mais do que uma questão econômica, trata-se de uma decisão estratégica. O país tem o recurso, tem a demanda e tem o mercado. Portanto, falta apenas tornar o gás natural realmente acessível e competitivo.

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Paulo H. S. Nogueira

Sou Paulo Nogueira, formado em Eletrotécnica pelo Instituto Federal Fluminense (IFF), com experiência prática no setor offshore, atuando em plataformas de petróleo, FPSOs e embarcações de apoio. Hoje, dedico-me exclusivamente à divulgação de notícias, análises e tendências do setor energético brasileiro, levando informações confiáveis e atualizadas sobre petróleo, gás, energias renováveis e transição energética.

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