França testa rodovia com bobinas indutivas que recarregam carros e caminhões elétricos em movimento, inaugurando nova era para o transporte sustentável
A França iniciou os testes da primeira rodovia do mundo capaz de recarregar veículos elétricos em movimento. O trecho de 1,5 km da A10, próximo a Paris, usa bobinas sob o asfalto que transmitem até 300 kW de potência de forma totalmente sem fio.
Em um marco histórico para o transporte sustentável, a França iniciou os testes da primeira rodovia do mundo equipada com um sistema dinâmico de carregamento sem fio. A tecnologia permite que veículos elétricos sejam recarregados enquanto estão em movimento, transformando a forma como a energia é fornecida no transporte rodoviário.
A rodovia A10, localizada cerca de 40 quilômetros a sudoeste de Paris, foi o local escolhido para o projeto “Charge as you drive”. O consórcio responsável pela iniciativa reúne a VINCI Autoroutes, a Electreon, a VINCI Construction, a Universidade Gustave Eiffel e a Hutchinson. Após uma longa fase de testes em laboratório, que envolveu verificações de durabilidade e integração com o pavimento, o sistema começou a ser utilizado em tráfego real.
-
As cidades mais tecnológicas do mundo em 2025: como é viver onde a inovação dita o ritmo da vida
-
Cientistas revelam solução simples e barata que reduz em 51% as emissões de metano e acelera a compostagem — o segredo está no biochar, um pó preto feito de palha
-
Terra nunca esteve sozinha: nova quase-lua é confirmada por astrônomos e permanecerá ao nosso lado até o fim do século
-
Pescador encontra lagosta rara que encanta devido à coloração única e genética incomum, considerada única em 30 milhões de exemplares
No trecho experimental de aproximadamente 1,5 quilômetro, circulam veículos protótipos, incluindo um caminhão pesado, um utilitário, um carro de passeio e um ônibus.
Segundo os resultados iniciais, a potência de pico atingiu mais de 300 kW, enquanto a potência média ultrapassou 200 kW em condições ideais. Esses dados foram confirmados por medições realizadas pela Universidade Gustave Eiffel, que supervisiona a avaliação técnica.
O CEO da VINCI Autoroutes, Nicolas Notebaert, afirmou que a tecnologia pode acelerar a eletrificação das frotas pesadas na França. Ele destacou que o transporte de carga é responsável por mais de 16% das emissões totais do país, e que a nova rodovia pode contribuir significativamente para a redução desse impacto.
Já o CEO da Electreon, Oren Ezer, destacou o caráter inédito da inovação. Segundo ele, “nossa tecnologia é a única capaz de fornecer carregamento dinâmico com tanta potência e confiabilidade, sem nenhum concorrente que se aproxime desse padrão”.
Como a tecnologia funciona
O carregamento por indução dinâmica ocorre por meio de bobinas instaladas sob o asfalto. Elas geram um campo magnético que é captado por bobinas receptoras localizadas na parte inferior dos veículos. Essa interação induz uma corrente elétrica, que pode ser direcionada para alimentar o motor ou recarregar a bateria enquanto o veículo segue viagem.
Diferentemente do carregamento convencional, não há necessidade de parada ou conexão física. O processo acontece em movimento, reduzindo o tempo de inatividade e permitindo o uso de baterias menores e mais leves. Em caminhões e ônibus, isso representa aumento da capacidade de carga útil e economia no uso de matérias-primas.
O sistema exige o alinhamento preciso entre as bobinas de transmissão e recepção, bem como o monitoramento contínuo da transferência de energia por sensores e softwares embarcados.
A infraestrutura foi projetada para resistir a décadas de uso intenso, passando por testes equivalentes a 25 anos de tráfego de caminhões pesados.
Essa tecnologia também representa uma alternativa à dependência de baterias de grande porte e carregadores de altíssima potência, que podem chegar a 1 megawatt.
Com o carregamento dinâmico, o transporte de longa distância torna-se mais eficiente e sustentável, reduzindo custos e o consumo de metais como lítio e cobalto.
Outros países avançam com pilotos de rodovias elétricas
Embora o projeto francês seja o primeiro a alcançar testes reais em rodovias abertas, várias nações já desenvolvem iniciativas semelhantes. Na Alemanha, um trecho de um quilômetro da rodovia A6, próximo à Baviera, será equipado com tecnologia da Electreon. A construção está prevista para começar no verão de 2025 e integra o programa nacional E|MPOWER.
Na Itália, o projeto “Arena del Futuro”, na Lombardia, testa o mesmo conceito de recarga dinâmica para ônibus e caminhões em uma rodovia pedagiada. Já na Suécia, estudos conduzidos pela autoridade nacional de transportes avaliaram o desempenho da tecnologia por anos. No entanto, um relatório divulgado em dezembro de 2024 desaconselhou a criação de uma rede nacional completa, devido aos altos custos, embora corredores específicos possam ser mantidos.
Outros países, como Estados Unidos, China, Coreia do Sul e Israel, também desenvolvem sistemas de carregamento dinâmico — alguns por indução, outros por trilhos condutivos ou cabos aéreos. Essas experiências internacionais estão ajudando a definir padrões técnicos, modelos de custo e escalabilidade para as futuras rodovias elétricas.
Por que a implantação francesa é importante
A rodovia A10 representa o primeiro experimento global em condições reais de tráfego. Até agora, as demonstrações de carregamento dinâmico haviam ocorrido apenas em pistas controladas ou ambientes urbanos. Dessa vez, caminhões, ônibus e automóveis trafegam em uma rodovia ativa, com o sistema operando em tempo integral.
Além da relevância tecnológica, o projeto tem peso estratégico para a França e para a Europa. A possibilidade de usar baterias menores e leves reduz a dependência de insumos importados e favorece a competitividade industrial. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento e a fabricação local dos componentes de infraestrutura elétrica fortalecem a soberania tecnológica e a geração de empregos.
O consórcio continuará monitorando o desempenho da rodovia nos próximos meses, com foco em confiabilidade, eficiência energética, manutenção e custos de operação. A análise desses dados definirá a viabilidade da expansão para trechos mais longos.
O atual segmento de 1,5 quilômetro é apenas o primeiro passo de um projeto ambicioso. Caso os resultados se mantenham positivos, a tecnologia poderá ser replicada em milhares de quilômetros de estradas na França e em outros países europeus.
Mais do que um experimento científico, a A10 se tornou um laboratório de mobilidade em escala real. Ao unir engenharia, inovação e sustentabilidade, ela inaugura uma nova era para o transporte elétrico — uma em que a estrada se torna parte ativa da rede de energia, transformando o simples ato de dirigir em um processo contínuo de recarga limpa e eficiente.


Seja o primeiro a reagir!