Com autorização da Senatran, Fortaleza será uma das primeiras capitais do Nordeste a testar a faixa azul para motos em quatro avenidas até março de 2026; projeto, criado em São Paulo, divide opiniões entre técnicos e especialistas em segurança viária
Fortaleza iniciou os preparativos para testar as chamadas faixas azuis, estrutura que prioriza o tráfego de motocicletas em corredores exclusivos entre faixas de rolamento. A medida foi autorizada pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e deve ser implantada, em caráter experimental, até março de 2026 em quatro avenidas principais da capital cearense: Alberto Craveiro, Humberto Monte, Santos Dumont e Presidente Costa e Silva.
O projeto, desenvolvido pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo em 2022, tem como objetivo reduzir o número de mortes e organizar o fluxo das motocicletas, que costumam circular entre os veículos. Em São Paulo, os resultados iniciais apontaram queda de quase 50% nas mortes no trânsito em 2024, segundo dados da CET.
Especialistas pedem cautela e apontam riscos de alta velocidade
Apesar do otimismo com a redução de sinistros, especialistas em segurança viária alertam que ainda é cedo para afirmar que as faixas azuis são eficazes. Segundo avaliações técnicas, o mau uso por parte dos motociclistas, especialmente o excesso de velocidade, pode anular os possíveis benefícios e aumentar o risco de colisões.
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“O comportamento do condutor é determinante. Muitos acabam usando a faixa como se fosse exclusiva para motos e trafegam em velocidade acima do permitido, o que pode tornar o projeto perigoso”, explicou Renato Campestrini, especialista em trânsito e mobilidade.
Conforme matéria publicada pelo Diário do Nordeste, o próprio projeto de regulamentação da faixa azul recomenda seu uso apenas em situações de trânsito lento ou congestionado, e não em vias de fluxo livre.
Estrutura e características técnicas em Fortaleza
As faixas azuis em Fortaleza terão largura entre 1,1 e 1,2 metro, ajustadas às velocidades máximas permitidas em cada via — 50 km/h ou 60 km/h. Elas serão posicionadas entre as faixas da esquerda e do meio, seguindo o padrão definido pela Senatran.
A implantação ocorrerá nos seguintes trechos:
- Avenida Alberto Craveiro: cerca de 2,7 km por sentido;
- Avenida Humberto Monte: 1,6 km entre as ruas José de Pontes e Rio Grande do Sul;
- Avenida Santos Dumont: 1 km, entre Eng. Santana Júnior e Prof. Otávio Lobo;
- Avenida Presidente Costa e Silva: 4 km entre as avenidas Juscelino Kubitscheck e Godofredo Maciel.
De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE), as motocicletas representam 30,9% da frota da cidade, e o número tende a crescer. Somente no primeiro semestre de 2025, foram 14,6 mil novos emplacamentos, alta de 29,08% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Dados de segurança e preocupações sobre o impacto nas estatísticas
Um estudo conduzido pela Vital Strategies, em parceria com a USP, UFC e Instituto Cordial, analisou 190 km de faixas azuis em São Paulo e identificou um aumento de 33% nas ocorrências com motociclistas em cruzamentos. Além disso, sete em cada dez condutores ultrapassaram o limite de velocidade em vias com faixa azul — contra apenas um em cada dez em vias sem a estrutura.
Para o coordenador nacional de segurança viária da Vital Strategies, Dante Rosado, a faixa azul pode gerar uma falsa sensação de segurança, desviando o foco de medidas mais eficazes. “Não podemos dizer que ela reduz os sinistros. É preciso ampliar a fiscalização e tratar o projeto como um teste, e não como política definitiva”, afirma.
A entidade reforça que o experimento é inédito e deve ser acompanhado com pesquisas mais complexas, levando em conta não apenas o número de mortes, mas também lesões graves, leves e danos materiais.
E você, acredita que as faixas azuis podem realmente reduzir os acidentes e organizar o trânsito de Fortaleza, ou que a alta velocidade pode transformar a proposta em mais um risco para os motociclistas?



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