Abandonado após anos de promessas, o parque temático mais ambicioso do Brasil virou símbolo de desperdício. Descubra como o projeto de US$ 235 milhões, conhecido como a “Disney brasileira”, fracassou mesmo após ser o maior parque do país
Inaugurado em janeiro de 1998, o Terra Encantada foi o maior parque de diversão do Brasil em seu lançamento. Com um investimento de US$ 235 milhões, o projeto contava com o apoio de empresas como Coca-Cola, Petrobras e o BNDES. A meta era ambiciosa: atrair 3,5 milhões de visitantes por ano, com uma bilheteria de US$ 70 milhões. Localizado na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, o parque temático reunia mais de 85 atrações em uma área de 300 mil m². A proposta unia diversão com referências à cultura brasileira. Era o início de um sonho que lhe rendeu o apelido de Disney brasileira.
Problemas desde o início
Apesar da promessa, a inauguração foi marcada por atrasos. Prevista para 1997, só ocorreu em janeiro de 1998 — ainda com várias atrações inoperantes ou em obras. Havia falhas de sinalização, filas desorganizadas e relatos de atendimento ineficiente.
A pressa para aproveitar o verão prejudicou a primeira impressão e impactou diretamente o fluxo de visitantes nos primeiros meses. A falta de testes e ajustes operacionais comprometeu o projeto desde o início.
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Acidentes e insegurança
Logo nos primeiros meses, a atriz Isis de Oliveira sofreu uma queda grave na torre de queda “Kabum”, lesionando a coluna. O caso ganhou repercussão nacional e acendeu o alerta para as falhas na segurança.
Nos anos seguintes, novos acidentes reforçaram a desconfiança do público. Em 2002, durante um show da banda Charlie Brown Jr., um tumulto deixou feridos e lojas saqueadas. Em 2004, um balão caiu sobre a montanha-russa Monte Makaya, causando incêndio. E em 2005, um jovem sofreu traumatismo craniano após cair de uma atração. Cada episódio minava a reputação do parque.
A queda do parque temático no Brasil
O episódio mais trágico ocorreu em junho de 2010, quando Heydiara Lemos Ribeiro, de 61 anos, morreu após ser arremessada da atração “Monte Aurora”. A perícia concluiu que ela não estava devidamente presa ao assento. A fatalidade levou o Ministério Público a interditar o parque definitivamente.
Com isso, o Terra Encantada perdeu qualquer chance de recuperação. A confiança do público foi abalada de forma irreversível, e o parque encerrou suas atividades naquele mesmo ano.
De promessa turística a símbolo de abandono
Após o fechamento, a estrutura do parque foi deixada ao abandono. A vegetação tomou conta, o vandalismo se intensificou e os equipamentos se deterioraram rapidamente.
Em 2013, o terreno foi vendido por cerca de R$ 1,5 bilhão para as construtoras Cyrela e Queiroz Galvão. No lugar do antigo parque, surgiram condomínios de alto padrão. Nenhum projeto cultural, de lazer ou memorial sobre o parque foi desenvolvido no local.
Impacto econômico e social do parque de US$ 235 milhões
O parque de US$ 235 milhões foi pensado para operar com lucro sustentável, mas a realidade foi outra. O número de visitantes nunca alcançou o patamar projetado, e os custos operacionais elevados tornaram o negócio inviável.
Cerca de 1.500 funcionários foram demitidos com o fechamento. Lojistas e comerciantes do entorno perderam fluxo de clientes. O impacto econômico foi sentido não apenas pela empresa, mas também pela comunidade ao redor.
A memória afetiva que ficou
Apesar de todos os problemas, o Terra Encantada deixou lembranças marcantes para quem frequentou o local. Nas redes sociais, é comum ver ex-visitantes relembrando shows, atrações e a estética única do parque. Fóruns e vídeos no YouTube mantêm viva a nostalgia por aquilo que poderia ter sido.
Essa memória afetiva também mostra a carência de opções de lazer de qualidade no Brasil. O fracasso do Terra Encantada ainda gera debate sobre a viabilidade de um parque temático no Brasil de grande porte.
Comparações com parques internacionais
Parques internacionais, como os da Disney, contam com operações sólidas, protocolos rigorosos e constante reinvestimento. O Disneyland Resort, por exemplo, atrai mais de 18 milhões de visitantes por ano e segue expandindo suas áreas temáticas e atrações.
A chamada Disney brasileira falhou justamente onde essas marcas se destacam: na padronização, manutenção e gestão eficiente. Não houve planejamento de longo prazo, tampouco atualizações que mantivessem o interesse do público.
Modelo sem adaptação ao mercado nacional
Outro erro foi tentar replicar modelos estrangeiros sem adaptações à realidade brasileira. O valor elevado dos ingressos, a escassez de transporte público e a localização afastada dificultaram o acesso de boa parte da população.
Além disso, não havia políticas de inclusão social ou ações educativas que integrassem o parque à vida cultural do país. Era um produto caro e distante da maioria dos brasileiros.
O legado do maior parque do Brasil
O fracasso do maior parque de diversão do Brasil oferece lições valiosas. Não basta construir uma megaestrutura: é preciso garantir segurança, operação eficaz e envolvimento com o público. A ausência de um plano de contingência também foi fatal. Quando surgiram os problemas, a gestão não teve flexibilidade para reagir.
Para que novos empreendimentos prosperem, é essencial pensar além da inauguração. Um parque precisa evoluir com o tempo, renovar atrações, escutar os visitantes e manter padrões de qualidade.
O que o setor pode aprender?
- Segurança deve ser prioridade absoluta.
- O planejamento financeiro precisa ser realista.
- A experiência do usuário é o maior ativo de um parque.
Projetos que pretendem lançar um novo parque temático no Brasil devem estudar profundamente o que não funcionou no Terra Encantada. O setor de entretenimento exige constância, inovação e responsabilidade social.
O que restou da Disney brasileira?
O Terra Encantada começou como uma promessa: transformar o lazer nacional com um parque de padrão internacional. Com arquitetura grandiosa, atrações modernas e uma identidade visual marcante, aspirava ser a Disney brasileira.
Entretanto, o que se viu foi uma combinação de descuidos, má gestão e tragédias. O parque, que custou tanto e atraiu tanta expectativa, tornou-se símbolo de desperdício e oportunidade perdida.
Hoje, o terreno abriga prédios de luxo. Mas a memória do maior parque de diversão do Brasil – Terra Encantada continua viva — como exemplo do que o Brasil ainda precisa desenvolver para oferecer experiências culturais e de lazer realmente seguras, acessíveis e duradouras.