O financiamento climático no Brasil mais que dobrou e alcançou US$ 67,8 bilhões em 2023, impulsionado pelo setor de energia e pela expansão da geração solar, segundo relatório da CPI/PUC-Rio.
O volume de investimentos destinados a ações climáticas no Brasil deu um salto expressivo nos últimos anos. De acordo com um relatório divulgado pela Climate Policy Initiative (CPI), ligada à PUC-Rio, o financiamento climático nacional atingiu US$ 67,8 bilhões em 2023, mais que o dobro do volume registrado em 2019.
Conforme o levantamento, o avanço reflete o fortalecimento de políticas voltadas à transição energética e ao desenvolvimento sustentável, especialmente nos setores de energia e de agropecuária e florestas.
“No Brasil, a mobilização de financiamento climático é crucial para atingir objetivos climáticos e de desenvolvimento do país, promover maior adaptação às mudanças climáticas e redução das vulnerabilidades socioeconômicas”, destacou Joana Chiavari, diretora de pesquisa do CPI/PUC-Rio.
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Energia puxa a alta com expansão solar e investimentos recordes
O setor de energia foi o grande motor do aumento dos investimentos. O estudo mostra que a geração solar foi o principal destaque, elevando os aportes de US$ 9,5 bilhões, em 2020 e 2021, para US$ 22,4 bilhões, no biênio seguinte (2022 e 2023).
Essa escalada reflete o avanço das fontes renováveis na matriz elétrica brasileira, o barateamento dos sistemas fotovoltaicos e a adesão crescente de empresas e residências à energia solar distribuída. Além disso, os incentivos do BNDES e de bancos privados impulsionaram novos projetos de infraestrutura energética e ampliação de parques solares e eólicos.
Setor agroflorestal também cresce, mas florestas ficam em segundo plano
O levantamento também aponta que o segmento de Agropecuária, Florestas e Outros Usos da Terra (AFOLU) quase dobrou seus recursos, passando de US$ 14,9 bilhões para US$ 28 bilhões entre 2020 e 2023. Parte desse aumento está associada ao avanço de práticas sustentáveis, como agrossilvicultura, agricultura de baixo carbono e pecuária regenerativa.
Entretanto, o relatório chama atenção para um desequilíbrio: as florestas receberam apenas 1% do total investido. O valor caiu de US$ 1,5 bilhão em 2019 para apenas US$ 254 milhões em 2023.
“O baixo investimento no setor de florestas revela como o papel delas na agenda do clima ainda é uma oportunidade subaproveitada. Para avançar no combate às mudanças climáticas, as florestas precisam ser compreendidas como ativos centrais”, afirmou Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/PUC-Rio.
Fontes privadas dominam os aportes e mostram papel decisivo do setor financeiro
O relatório revela que as fontes domésticas representaram 90% do total de investimentos entre 2019 e 2023. Instituições financeiras, empresas e famílias foram responsáveis por mais de dois terços dos recursos aplicados em 2022 e 2023.
Já no campo público, o governo federal e o BNDES se destacaram como os principais financiadores, com uma média anual de US$ 6,6 bilhões e US$ 7,2 bilhões, respectivamente.
A destinação dos recursos também demonstra o foco do país em reduzir emissões: 79% dos aportes foram voltados à mitigação climática, enquanto 7% foram destinados à adaptação e 11% a projetos de objetivos duplos.
Perdas e danos ganham relevância após tragédias climáticas
Embora ainda representem uma fatia menor do total, os investimentos em perdas e danos aumentaram de forma acelerada, passando de US$ 200 milhões em 2019 para US$ 2,2 bilhões em 2023. Após a tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024, esse valor chegou a US$ 8,1 bilhões, mostrando uma nova urgência no enfrentamento de desastres ambientais.
Para o Climate Policy Initiative, o mapeamento serve como uma linha de base para acompanhar se os investimentos seguirão alinhados à agenda climática brasileira, especialmente após o compromisso assumido na COP29, que prevê mobilizar US$ 300 bilhões até 2035.



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