Horário de verão não deve voltar ao Brasil: estudos e o ONS mostram que não há economia de energia e o país já produz energia limpa de sobra.
A cada ano, com a aproximação do fim da primavera, volta o debate: o horário de verão deveria ser retomado no Brasil? Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a resposta é clara — e definitiva.
Em recente entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, ele afirmou que “não há necessidade de adotar o horário de verão em 2025”, destacando que o país vive um momento de “segurança energética completa e absoluta”.
O motivo é simples: os hábitos de consumo mudaram, a matriz elétrica nacional evoluiu e a economia de energia proporcionada pela mudança nos relógios se tornou insignificante.
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O mito da economia de energia caiu por terra
Durante décadas, o horário de verão foi defendido como uma estratégia eficiente para reduzir o consumo de energia no início da noite. A lógica era que, ao adiantar o relógio em uma hora, as pessoas aproveitariam mais a luz natural e dependeriam menos da iluminação artificial.
Contudo, estudos recentes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que esse raciocínio já não se sustenta.
Um levantamento da instituição, realizado em 2024, apontou que o impacto financeiro seria mínimo — uma economia de até R$ 400 milhões em todo o período de vigência, o que representa cerca de R$ 4 por domicílio.
Além disso, a redução no uso de lâmpadas é compensada pelo aumento do consumo de ar-condicionado nas manhãs mais quentes, quando o sol passa a nascer mais tarde. Em outras palavras, a medida apenas desloca o consumo, sem reduzir o total.
O Brasil agora produz energia de sobra
O cenário energético brasileiro é hoje completamente diferente daquele que justificava o horário de verão. O país é uma potência em energia renovável, com mais de 90% da geração proveniente de fontes limpas, como hidrelétricas, eólicas e solares.
Em várias regiões, a produção é tão alta que o sistema precisa, em alguns momentos, interromper temporariamente o funcionamento de turbinas e parques solares para evitar sobrecarga.
Silveira reforçou essa mudança de paradigma ao afirmar que o desafio atual não é gerar energia, mas armazená-la de forma eficiente.
“Vamos literalmente armazenar vento”, disse o ministro, referindo-se aos novos leilões de baterias de armazenamento que permitirão guardar energia eólica e solar para uso noturno.
Custos sociais superam benefícios
Além da baixa economia de energia, o retorno do horário de verão traria prejuízos à saúde e à rotina da população. Diversos estudos internacionais indicam que a mudança repentina de horário pode afetar o sono e a concentração.
Pesquisas da University of British Columbia, no Canadá, revelaram um aumento de 8% no número de acidentes de trânsito no dia seguinte à implantação do horário de verão, devido à sonolência e à desregulação do relógio biológico.
No Brasil, especialistas alertam ainda para o impacto negativo em setores que dependem de horários fixos, como transporte aéreo e educação. O desconforto social e logístico não compensa o ganho mínimo em consumo energético.
Debate político, não técnico
Apesar das evidências, o tema costuma voltar à pauta por pressão de alguns setores e por apelo político. O próprio ministro Silveira admitiu que o governo teria “coragem completa e absoluta de implementá-lo”, mas ressaltou que “estamos completamente seguros de que não precisamos do horário de verão”.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que historicamente via a medida como ferramenta para equilibrar o consumo, reconhece hoje que as mudanças no perfil de uso e o avanço das energias renováveis tornaram o programa obsoleto.
Uma ideia ultrapassada no século XXI
O horário de verão surgiu no início do século XX, quando o mundo vivia um cenário de escassez energética e dependência total da luz artificial.
Era uma solução prática para uma época sem painéis solares, sem redes elétricas inteligentes e sem aparelhos modernos de refrigeração.
Mas em 2025, a realidade é outra. O Brasil dispõe de um sistema interligado robusto, que garante o fornecimento de energia mesmo diante de falhas pontuais, como o incêndio ocorrido recentemente na Subestação de Bateias (PR).
O ONS confirmou que o episódio foi apenas operacional e que a carga foi restabelecida em até uma hora e meia.
Hoje, o verdadeiro desafio é como armazenar e otimizar o uso da energia limpa já disponível — e não “enganar o relógio” para poupar alguns centavos.