Carrefour tenta vender toda sua operação na Argentina, com 700 lojas e 17 mil funcionários, em um negócio de até US$ 1,5 bilhão, enquanto grupos locais disputam o controle e enfrentam desafios trabalhistas e de marca.
O Carrefour colocou à venda sua operação na Argentina e busca um comprador para cerca de 700 lojas, em um negócio estimado entre US$ 800 milhões e US$ 1,5 bilhão.
O processo, conduzido pelo Deutsche Bank, prevê a continuidade das atividades até a escolha do novo controlador e envolve aproximadamente 17 mil funcionários distribuídos pelo país.
A empresa francesa afirma que a decisão integra uma reestruturação global com foco em mercados considerados mais estáveis, como Brasil, França e Espanha.
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Valor e alcance da negociação
A rede pretende transferir ao futuro controlador a gestão das unidades em diferentes formatos, do hipermercado ao varejo de proximidade.
Embora avaliações iniciais tenham chegado a US$ 2 bilhões, interlocutores próximos ao processo trabalham hoje com um intervalo menor, alinhado às ofertas recebidas na etapa não vinculante.
Mesmo assim, trata-se de uma das maiores transações do varejo argentino em anos recentes.
Principais interessados na compra
A corrida atraiu grupos locais com presença relevante no setor.
Entre os interessados estão Coto, do empresário Alfredo Coto; Changomás, comandado por Francisco de Narváez; e La Anónima, da família Braun.
Há também conversas envolvendo consórcios e alianças empresariais.
Uma das frentes citadas no mercado reúne a Newsan, de Rubén Cherñajovsky, e sócios ligados aos proprietários da rede Havanna.
Em paralelo, associações de supermercados chineses manifestaram interesse especificamente no formato de conveniência Express, estratégia que permitiria ampliar capilaridade com investimento controlado.
Condições impostas e riscos trabalhistas
O desenho da venda inclui exigências que influenciam o apetite dos candidatos.
Além de assumir a operação e sua folha de 17 mil empregados, o comprador precisará herdar os riscos trabalhistas existentes.
Outro ponto sensível é a impossibilidade de manter o uso da marca Carrefour após a conclusão da transação, condição estabelecida pelo grupo francês.
Essas travas elevam a necessidade de caixa, estrutura jurídica e gestão de pessoas, reduzindo o número de concorrentes efetivamente aptos a avançar para as últimas fases.
Lojas seguem abertas durante o processo
Enquanto o processo corre, as lojas seguem abertas e operando normalmente.
A companhia informou que não há plano de fechamento imediato de unidades e que o abastecimento e o atendimento ao consumidor serão mantidos até a transferência da gestão.
Na prática, a decisão preserva receita e valor do ativo à venda, além de reduzir incertezas para fornecedores e trabalhadores durante a transição.
Estratégia global e foco em mercados estáveis
A venda na Argentina se insere em uma reorganização global anunciada pela matriz, que busca concentrar capital onde a previsibilidade regulatória e de consumo é maior.
Segundo a companhia, a prioridade recai sobre Brasil, França e Espanha, mercados nos quais o grupo vê escala, sinergias e margens mais atrativas.
A escolha por desinvestir não implica interrupção imediata no país vizinho, mas sinaliza uma mudança de alocação de recursos no médio prazo.
Contexto econômico argentino
O varejo argentino atravessa um período de demanda fragilizada e custos pressionados.
Em meio a ajustes econômicos e volatilidade recente, multinacionais têm reavaliado rentabilidade e risco-país, movimento que ajuda a contextualizar a decisão de venda.
Analistas do setor pontuam que a combinação de consumo mais fraco, inflação passada elevada e desafios logísticos cria um quadro desafiador para grandes redes, sobretudo aquelas com forte exposição a hipermercados e formatos de grande área.
Ainda assim, operadores locais avaliam que, com redesenho de portfólio e foco em proximidade, há espaço para ganhos de eficiência.
Próximos passos da negociação
O Deutsche Bank conduz a triagem das propostas e a fase de due diligence com interessados habilitados.
A expectativa divulgada no mercado era de anúncio do comprador entre setembro e o início de outubro de 2025.
Contudo, propostas seguem em análise e o cronograma pode sofrer ajustes a depender de condições financeiras e da negociação de passivos.
Até lá, a operação permanece sob gestão do Carrefour, com fluxo preservado e sem mudança de rotina para consumidores.
Desafios e oportunidades para o novo dono
Para o novo dono, o primeiro teste será integrar equipes e redesenhar lojas mantendo atendimento e competitividade de preços.
Em seguida, virá a tarefa de rebranding, já que a marca atual não poderá ser utilizada.
Por outro lado, a capilaridade da rede — com presença nacional e formatos diversos — oferece base para estratégias de omnichannel e expansão de conveniência.
A equação final dependerá da habilidade do comprador em equilibrar custos trabalhistas, renegociar contratos e ajustar mix de produtos ao consumo local.
Impacto para clientes e trabalhadores
No curto prazo, pouco deve mudar no dia a dia de quem compra ou trabalha nas lojas.
A promessa é de continuidade operacional até a definição do novo controlador.
Eventuais alterações de layout, sortimento ou identidade visual tendem a ocorrer depois da assinatura do contrato e do período de transição.
Trabalhadores ficam no centro do processo: qualquer solução terá de contemplar realocação, treinamento e eventuais acordos, já que a escala do quadro de pessoal é um dos fatores determinantes do valor do negócio.
Em um cenário de disputa acirrada e ativos espalhados por praticamente todo o país, quem conseguirá reunir capital, gestão e uma estratégia de marca capaz de absorver 700 lojas e 17 mil contratos sem perder fôlego no caminho?