O motor Fire marcou gerações por sua durabilidade, simplicidade e baixo custo de manutenção, tornando-se símbolo da Fiat e referência no mercado automotivo brasileiro até ser aposentado em 2025 por novas regras ambientais.
A Fiat encerrou a era do motor Fire no Brasil com a entrada em vigor do Proconve L8 em 1º de janeiro de 2025.
Após quatro décadas de história global e mais de 10 milhões de veículos equipados, o propulsor conhecido pela robustez e pelo baixo custo de manutenção sai de cena porque não atende aos novos limites de emissões exigidos para carros de passeio e comerciais leves.
A transição marca a substituição definitiva do Fire por famílias mais eficientes, como a Firefly, além de projetos híbridos e elétricos já em desenvolvimento.
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Fim de uma era com o Proconve L8
As regras L8 elevaram o patamar de controle de poluentes e exigiram eletrônica mais avançada, pós-tratamento mais eficaz e calibrações de combustão compatíveis com padrões globais mais rígidos.
A Stellantis, controladora da Fiat, avaliou que o investimento para adequar o Fire aos novos limites não se justificaria diante da disponibilidade de motores atuais mais limpos e eficientes.
O movimento vinha sendo preparado desde 2024 e se consolidou na linha 2025, quando os últimos modelos nacionais que usavam o Fire migraram para opções compatíveis com a norma.
Enquanto isso, o Mobi 2025 voltou a usar o 1.0 Firefly de três cilindros, e a Fiorino também adotou o 1.3 Firefly.
A decisão encerra a presença do Fire nos 0 km e simboliza o fechamento de um ciclo iniciado há 25 anos no mercado brasileiro.
Origem e estreia do Fire no Brasil
Criado em 1985 na Europa, o Fire — sigla de Fully Integrated Robotised Engine — estreou na linha do Autobianchi/Lancia Y10 e se destacou pelo projeto leve, modular e pela produção amplamente robotizada, algo avançado para a época.
No Brasil, a chegada ocorreu em março de 2000, quando o Palio 1.3 16V deixou a linha de Betim (MG) com o novo conjunto, apresentado como evolução direta dos antigos motores Fiasa.
A partir dali, a família se expandiu por cilindradas e configurações de cabeçote, criando um leque de versões 1.0, 1.3 e 1.4, com oito ou 16 válvulas, conforme a aplicação.
Evolução e versões flexíveis do motor
Nos primeiros anos, o Fire nacional combinava leveza e simplicidade com injeção eletrônica moderna para o período.
Com o amadurecimento da linha, vieram simplificações de arquitetura para facilitar manutenção e cortes de custo sem comprometer a confiabilidade.
A família ganhou versões bicombustível a partir de 2003, inicialmente em configurações maiores; depois, a tecnologia se estendeu às variantes 1.0 ao longo da metade da década.
Em 2010, a atualização Fire EVO trouxe novos pistões, bielas e melhorias de eficiência, além de variador de fase no 1.4 em aplicações específicas, reduzindo consumo e emissões.
Mais recentemente, ajustes de calibração e de pós-tratamento foram aplicados para atender ao Proconve L7, etapa anterior às metas vigentes, num esforço para prolongar a vida comercial do conjunto.
Ainda assim, a chegada do L8 impôs requisitos que o veterano já não alcançava sem intervenções profundas e economicamente desvantajosas.
Modelos que usaram o Fire
Ao longo de duas décadas e meia, o Fire equipou alguns dos maiores sucessos da Fiat no país.
Uno, Palio e Siena carregaram a reputação de mecânica simples e confiável, enquanto Mobi e Fiorino sustentaram o Fire até a reta final, sobretudo em frotas e no trabalho urbano, onde custo por quilômetro e facilidade de reparo pesam mais do que potência.
Em oficinas pelo país, o propulsor virou “língua franca”: havia abundância de peças, conhecimento disseminado e manutenção previsível, atributos que reduziram tempo de parada e mantiveram despesas sob controle para proprietários e empresas.
A fama de “inquebrável” não surgiu por acaso.
Multiplicaram-se relatos de unidades que ultrapassaram 300 mil quilômetros sem intervenções graves, desde que respeitado o plano de manutenção e usados lubrificantes e fluidos corretos.
Essa combinação ajudou a motorizar milhões de brasileiros com orçamentos apertados, especialmente em regiões onde a oferta de assistência técnica é limitada.
O impacto do Fire no carro popular
O Fire foi peça-chave na democratização do acesso ao carro novo.
Sua presença em versões de entrada manteve preços competitivos em momentos sensíveis do mercado, e a robustez ajudou a preservar valor de revenda.
Programas de renovação de frota e políticas para veículos de trabalho também se beneficiaram da confiabilidade mecânica do conjunto, que permitia uso intenso com custos previsíveis.
Ainda hoje, é comum ver Palio, Uno e Siena com motores Fire circulando em bom estado, reflexo direto de um projeto que privilegiou simplicidade, intercambialidade de componentes e reparabilidade.
A longevidade também criou um ecossistema de peças paralelas, recondicionadas e originais acessíveis, o que retroalimentou a popularidade do conjunto por mais tempo do que o usual em motores compactos.
Por que o fim era inevitável
Mesmo com a boa base, o Fire nasceu em outra era de regulação ambiental.
A arquitetura do cabeçote, as estratégias de combustão e o pacote de pós-tratamento tinham limites naturais de evolução.
Para cruzar o novo sarrafo do Proconve L8, seria necessário redesenho caro e incompatível com o posicionamento de custo dos veículos que ele equipava.
A conta deixou de fechar justamente onde o Fire se destacava: relação custo-benefício.
Além disso, a própria Stellantis acelera a padronização global de motores modernos em suas marcas, o que favorece as famílias Firefly e os projetos turbo e híbridos em detrimento de arquiteturas antigas.
Em termos industriais, convergir para conjuntos mais atuais simplifica estoques, reduz complexidade de produção e melhora a eficiência de emissões na média da linha.
O futuro da Fiat no Brasil
Com o Fire fora dos 0 km, a Fiat passa a concentrar a base da gama em motores três e quatro cilindros Firefly, combinando menor atrito interno, comando variável e calibrações mais finas.
Em paralelo, a Stellantis amplia o desenvolvimento de soluções híbridas e prepara produtos elétricos em segmentos estratégicos.
A meta é clara: atender às metas ambientais sem abrir mão de desempenho e de custos competitivos em mercados como o brasileiro.
O legado do Fire, porém, permanece nas ruas e nas oficinas.
Ele pautou um padrão de durabilidade, acesso a peças e mecânica descomplicada que serviu de referência para o segmento de motores compactos e marcou uma geração de carros populares.
A pergunta que fica, diante desse histórico, é inevitável: qual motor será capaz de repetir a combinação de robustez, economia e popularidade que fez do Fire um sinônimo de confiança por tantos anos?