Uma ferrovia transcontinental inédita começa a ser desenhada entre Brasil e China, prometendo mudar rotas comerciais, unir oceanos e transformar a logística da América do Sul com investimentos bilionários e tecnologia de ponta no coração do agronegócio brasileiro.
Brasil e China deram um passo histórico ao iniciarem um ambicioso projeto ferroviário que promete conectar o Oceano Atlântico ao Pacífico por trilhos, encurtando rotas, reduzindo custos e revolucionando a logística continental.
Na última segunda-feira, 7 de julho de 2025, foi assinado em Brasília um memorando de entendimento entre o governo brasileiro, representado pela Infra S.A., e a China State Railway Group, maior companhia ferroviária do planeta.
O projeto visa construir uma ferrovia continental interligando o Centro-Oeste brasileiro ao Porto de Chancay, no Peru, operado pela China, criando um novo eixo logístico entre a América do Sul e a Ásia.
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A proposta, que integra os planos do Novo PAC, promete transformar o Brasil em uma peça central no comércio internacional, principalmente na exportação de grãos e minérios.
Uma nova rota estratégica entre oceanos
O corredor ferroviário entre Brasil e Peru deve ser a espinha dorsal de um modelo logístico moderno, sustentável e eficiente.
Com a obra, produtos agrícolas e minerais do Centro-Oeste brasileiro poderão chegar ao Oceano Pacífico por via terrestre, diminuindo a dependência dos portos do Sudeste e do Arco Norte.
Isso significa encurtar em milhares de quilômetros o trajeto das exportações brasileiras com destino ao mercado asiático, reduzindo em até 30% o tempo de transporte, segundo especialistas em logística.
O Porto de Chancay, no Peru, foi inaugurado em 2024 e está sob controle da empresa chinesa Cosco Shipping.
De acordo com a Autoridade Portuária do Peru, o terminal já movimenta milhões de toneladas de carga por ano e tem capacidade para se tornar o maior hub do Pacífico Sul.
O papel do corredor Fico-Fiol no projeto
O plano inclui a integração da futura ferrovia transcontinental com o corredor Fico-Fiol, que conecta regiões do Centro-Oeste aos portos do Arco Norte e à Bahia.
O leilão para a concessão do trecho Fico-Fiol está previsto para 2026 e será fundamental para viabilizar a conexão interoceânica.
Maurício Muniz, secretário do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), destaca que esse trecho é considerado prioritário pelos governos do Brasil e da China.
“Essa conexão vai reposicionar o Brasil no comércio global”, afirmou Muniz.
Segundo ele, o novo traçado ferroviário pode abrir uma alternativa ao Canal do Panamá para exportadores do continente sul-americano.
Confiança mútua e avanço diplomático
A assinatura do acordo simboliza não apenas um investimento bilionário, mas também o aprofundamento das relações estratégicas entre Brasil e China.
A China State Railway Group é reconhecida mundialmente por sua capacidade de entregar projetos de alta complexidade com velocidade e eficiência.
Atualmente, o país asiático opera a maior malha ferroviária de alta velocidade do mundo, com mais de 45 mil km de trilhos, de acordo com a Agência Xinhua.
Só nos primeiros quatro meses de 2025, mais de 1,4 bilhão de passageiros circularam pelos trens chineses, um recorde global.
Cooperação técnica desde abril de 2025
A colaboração entre os dois países ganhou força em abril de 2025, quando uma delegação chinesa visitou obras de infraestrutura ferroviária no Brasil, como os trechos da Fiol e da Fico.
No mês seguinte, autoridades brasileiras, incluindo o ministro da Casa Civil Rui Costa, visitaram a China para detalhar o projeto.
Desde então, grupos técnicos de ambos os países trabalham em estudos logísticos, ambientais e de viabilidade econômica.
Segundo o secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, essa é uma oportunidade histórica de elevar a infraestrutura brasileira a um novo patamar.
“Estamos trazendo os melhores do mundo para construir o futuro da nossa malha ferroviária”, afirmou Ribeiro.
Infra S.A.: o braço técnico do Brasil no projeto
A Infra S.A., empresa pública que coordena as ações técnicas no setor ferroviário, será responsável pela produção dos estudos de viabilidade.
Segundo o Ministério dos Transportes, a nova ferrovia poderá reduzir o custo logístico das exportações do Centro-Oeste em até 20%.
Elisabeth Braga, diretora de Administração e Finanças da empresa, afirma que a Infra S.A. já conta com equipes técnicas prontas para elaborar diagnósticos de alto nível para o projeto continental.
O objetivo é integrar modais — como rodovias, ferrovias e hidrovias — para criar um sistema de transporte mais eficiente e menos poluente.
Sustentabilidade e impacto regional
A proposta da ferrovia Brasil-Peru está alinhada com metas globais de sustentabilidade e com a agenda climática internacional.
Ferrovias, em geral, são até 75% menos emissoras de CO2 em comparação com caminhões, conforme dados da Agência Internacional de Energia (IEA).
Ana Costa, economista ambiental, ressaltou em entrevista à Folha de S.Paulo que o modal ferroviário deve ser priorizado em políticas públicas de transporte no Brasil.
Além de contribuir para a redução das emissões de carbono, o projeto pode impulsionar o crescimento do PIB regional em até 2% ao ano, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Integração continental e expansão para vizinhos
A nova ferrovia também poderá beneficiar países vizinhos, como Bolívia e Chile, criando um corredor logístico interconectado na América do Sul.
O governo peruano vê o projeto como uma oportunidade para tornar o país um polo logístico de escala continental.
O Ministério de Transportes e Comunicações do Peru aposta na iniciativa para atrair investimentos em infraestrutura e dinamizar o comércio na costa oeste sul-americana.
Esse novo eixo poderia transformar a relação comercial da América Latina com a Ásia, encurtando distâncias e tornando as exportações mais competitivas.
Estudos avançam até 2026 e obra pode atrair capital privado
Os estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental devem ser concluídos até 2026, quando o projeto poderá ser apresentado ao setor privado.
Leonardo Ribeiro afirmou que o Brasil está preparado para liderar essa nova fase da infraestrutura global, com engenharia avançada e parcerias sólidas.
A expectativa é que a ferrovia continental atraia investidores internacionais e fortaleça o modelo de concessões ferroviárias no Brasil.
Especialistas projetam que o projeto pode estimular ainda mais os investimentos no setor logístico brasileiro e impulsionar a competitividade industrial.
Um novo capítulo para a infraestrutura brasileira
Essa megainiciativa simboliza uma virada na infraestrutura de transporte do país e pode inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento econômico.
Segundo o analista de logística João Silva, em artigo publicado no Estadão, o projeto tem o potencial de transformar o Brasil em um hub logístico intercontinental.
Ele acredita que, ao unir tecnologia, sustentabilidade e estratégia comercial, o país pode não só encurtar distâncias, mas também encurtar desigualdades regionais.
A ferrovia continental Brasil-Peru é mais do que uma obra de engenharia: é uma ponte para o futuro.
E você, o que acha desse projeto audacioso entre Brasil e China?
Acredita que ele pode redefinir a forma como o Brasil exporta e se conecta ao mundo?
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