O lendário Fenemê, que transportou cimento para Brasília e desafiou estradas intransitáveis, ressurgiu em versão 100% elétrica. Modelo já roda em testes com empresas como Ambev e traz até 355 cv de potência. Mas será que ele vai reconquistar as estradas?
Pouca gente da nova geração ouviu o ronco inconfundível do Fenemê, aquele caminhão valente que cruzava o Brasil com 11 toneladas nas costas, atolado na lama ou engolido pela poeira. Ícone da indústria nacional dos anos 50 aos 70, o gigante sumiu discretamente nos anos 80. Só que agora, décadas depois, o improvável aconteceu: o Fenemê está de volta — e mais moderno do que nunca.
Dessa vez, sem motor diesel, sem fumaça, sem aquele barulho que acordava o bairro inteiro. A nova versão é elétrica, com zero emissão de poluentes e foco total em sustentabilidade. E sim, ele já está rodando — mesmo que ainda de forma tímida, mas com empresas gigantes de olho.
Fenemê: de avião a caminhão, da guerra ao canteiro de obras
O Fenemê nasceu em 1942, no auge do Estado Novo, para fabricar motores de avião durante a Segunda Guerra Mundial. Mas a guerra acabou antes que a fábrica engrenasse. Resultado: o Brasil ficou com uma megaestrutura parada no Rio de Janeiro.
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A saída? Transformar a missão: de aviões para caminhões. Com apoio da italiana Alfa Romeo, a Fábrica Nacional de Motores lançou em 1951 seu primeiro sucesso: o D-9500. Mas foi em 1958 que o Fenemê virou lenda, com o D-11000, o famoso “cara chata”, motorzão diesel de seis cilindros, barulho grave e força bruta.
Ele foi protagonista em obras gigantescas, como a construção de Brasília. Enquanto o governo JK prometia fazer “50 anos em 5”, era o Fenemê que levava o cimento, a brita e os operários pelo cerrado bruto. A cada atoleiro vencido, ganhava respeito.
De orgulho nacional ao sumiço: o ciclo de glória do Fenemê
Durante duas décadas, o Fenemê dominou as estradas brasileiras. Era sinônimo de robustez e independência. Muitos motoristas rodaram 20, 30 anos com o mesmo modelo. Em algumas cidades do interior, ver um Fenemê estacionado era tão comum quanto ver um Fusca.
Mas a partir dos anos 70, com a abertura de mercado e chegada de concorrentes como Mercedes-Benz, Scania e Ford, a história começou a mudar. A FNM foi vendida para a Alfa Romeo, depois repassada à Fiat. Em 1985, a última fábrica do Fenemê foi fechada. E o caminhão que construiu o Brasil virou item de museu e paixão de colecionador.
O retorno do Fenemê: do barulho ao silêncio elétrico
A virada veio em 2008. Uma empresa carioca anunciou que havia comprado os direitos da marca FNM. Mas o novo Fenemê não queria repetir o passado. A proposta era ousada: trazer de volta o ícone, agora como caminhão 100% elétrico.
A nova FNM, renomeada como Fábrica Nacional de Mobilidades, fechou parceria com a Agrale e passou a desenvolver dois modelos: o FNM 832 (13 toneladas) e o FNM 833 (18 toneladas). Ambos elétricos, com potência de 350 cv, torque instantâneo e autonomia de até 150 km.
Os primeiros testes já rodam em frotas da Ambev, que encomendou mil unidades. A fabricação ocorre em Caxias do Sul (RS), e os caminhões vêm equipados com sistemas de telemetria e zero emissão. É o Fenemê como você nunca viu: sem barulho, sem marcha, sem fumaça.
Vai dar certo? Os desafios da nova era Fenemê
Apesar da empolgação, o caminho do novo Fenemê ainda tem obstáculos. O maior deles é o preço. Caminhões elétricos custam bem mais caro que os a diesel. O Brasil ainda engatinha em infraestrutura de recarga.
A aposta da nova FNM é oferecer vendas diretas para grandes empresas, junto com pacotes de manutenção, gestão de frota e suporte técnico. A ideia é ser mais do que um fabricante — ser um parceiro de mobilidade limpa.
Ainda assim, o apelo emocional é forte. Motoristas veteranos e colecionadores vibraram com o retorno. O logotipo clássico foi mantido. E o nome Fenemê — aquele mesmo que nasceu da pronúncia popular das letras F-N-M — está estampado de novo nos capôs.