Pesquisas inéditas revelam que os feijões da Amazônia exibem rica composição nutricional e biodiversidade, com impacto na valorização de mercado e certificação sustentável
Os feijões da Amazônia atraem atenção de cientistas, nutricionistas e agricultores por sua notável composição nutricional e biodiversidade regional, segundo uma matéria publicada.
Um estudo realizado ao longo de três anos mapeou 14 variedades cultivadas no Vale do Juruá, no Acre, evidenciando que a agricultura tradicional local preserva genética valiosa.
As análises laboratoriais mostraram que duas variedades de feijão: o feijão-caupi Costela de Vaca e a Manteiguinha Branco atingiram teores de proteína de até 27 %, superando a média de 20 % habitual em outras regiões.
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Também foram identificados níveis de antocianinas entre 420 e 962 microgramas por grama em feijões Preto de Arranque e Preto de Praia, valores superiores aos observados em feijões brancos ou de cores menos intensas.
A pesquisa sobre os feijões da Amazônia garantiu ainda que após 12 meses de armazenamento sob condições variadas, os grãos mantiveram sua qualidade nutricional.
Esse acúmulo de informações é fundamental para promover reconhecimento, valorização econômica e segurança alimentar para famílias, povos indígenas e populações tradicionais.
Biodiversidade comprovada em feijão criolo do Vale do Juruá
O levantamento de ocorrência revelou que em Marechal Thaumaturgo foram identificadas 23 variedades de feijão, tornando essa localidade um dos centros mais ricos em diversidade genética dos feijões amazônicos.
A partir desse mapeamento dos feijões da Amazônia, registrou-se a presença tanto de feijão-comum (Phaseolus vulgaris) quanto de feijão-caupi (Vigna unguiculata), cultivados nas margens de rios como o Juruá, Breu, Tejo e Amônia.
Agricultores familiares, indígenas e quilombolas mantêm esse patrimônio agrícola mediante sistemas agrícolas tradicionais, muitas vezes em roçados de até um hectare.
Em regiões mais populosas do Acre, a diversidade se reduz a apenas três variedades dominantes, o que reforça a singularidade do Vale do Juruá como polo genético vivo.
O documento sistematizado resultou em mapa regional das variedades crioulas no estado e servirá como base para políticas de conservação in situ.
Essa biodiversidade autêntica é essencial para garantir resiliência diante de pragas, mudanças climáticas e demandas futuras.
Altos teores energéticos e antioxidantes nos feijões da Amazônia
Um estudo divulgado pela Embrapa Acre, as análises da composição nutricional das variedades foram realizadas no laboratório de Bromatologia.
As amostras revelaram que as variedades Costela de Vaca e Manteiguinha Branco alcançaram 27 % de proteína, superando claramente o patamar mundial.
Além disso, os feijões Preto de Arranque (Phaseolus vulgaris) e Preto de Praia (Vigna unguiculata) evidenciaram níveis entre 420 e 962 microgramas por grama de antocianinas, substâncias antioxidantes ligadas à redução do envelhecimento celular e à prevenção de doenças como câncer, Alzheimer e enfermidades cardíacas.
Isso sugere enormes benefícios nutricionais do feijão amazônico em termos de aminoácidos, compostos fenólicos e estabilidade durante o armazenamento prolongado.
A consistência dos valores nutricionais dos feijões da Amazônia foi comprovada após um ano de estocagem em diferentes embalagens, o que reforça a viabilidade desse alimento para comercialização segura e duradoura.
Estratégias de mercado para comercialização diferenciada
Com a riqueza das características nutricionais e genéticas dos feijões da Amazônia, surge a oportunidade de criar um mercado de grãos diferenciados. Para tanto, é necessário articular políticas públicas e iniciativas privadas.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar lançou recentemente o Selo Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil – Identificação de Origem, que permite que associações e cooperativas solicitem reconhecimento para os grãos.
Também está em estudo a obtenção de Indicação Geográfica (IG) e certificação orgânica para os feijões da região, por analogia ao que já ocorreu com a farinha de mandioca regional.
A adoção de embalagens a vácuo, para reduzir o uso de inseticidas, é apontada como estratégia de conservação eficiente.
Ao assegurar rastreabilidade, certificação e apelo nutricional, as cadeias produtivas poderão atingir nichos de consumidores dispostos a pagar um prêmio pela qualidade e identidade cultural do produto.
Caminhos para reconhecimento e inclusão nas políticas públicas
Para consolidar esse caminho de agregação de valor, é essencial que os feijões da Amazônia sejam incorporados em agendas de sustentabilidade e certificação.
A pesquisa já demonstrou que variedades crioulas mantêm estabilidade nutricional por até 12 meses e que sua relevante diversidade genética reforça resiliência ecológica.
Com o uso do selo de origem e indicações geográficas, esses grãos ganham visibilidade nacional e internacional. Isso estimula maior renda para agricultores familiares, povos tradicionais e comunidades ribeirinhas.
Em especial, os pequenos produtores que cultivam variedades raras terão respaldo institucional para acessar mercados mais seletivos.
Ao longo dos próximos eventos como a COP e no espaço Agrizone da Embrapa, as estratégias de valorização poderão ser apresentadas e articuladas em nível institucional.
Esse cenário abre possibilidades reais de que os feijões da Amazônia se tornem referência de excelência nutricional, biodiversidade e identidade cultural em escala nacional.