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Fechamento da empresa mais antiga do Rio Grande do Sul após 170 anos de história expõe impacto da enchente de 2024 na economia local e encerra ciclo iniciado no período imperial

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 02/09/2025 às 22:12
Fachada da Azevedo Bento em Porto Alegre alagada após a enchente de 2024.
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Companhia fundada em 1855 encerra operações após crise logística agravada pela enchente de Porto Alegre, que inviabilizou transporte de cargas e marcou o fim da tradicional marca Pirata no setor de sal

A Azevedo Bento, considerada a empresa mais antiga em operação no Rio Grande do Sul, anunciou oficialmente o encerramento de suas atividades em 2025. Fundada em 1855, a companhia não resistiu às dificuldades logísticas provocadas pela enchente de 2024, que comprometeu a hidrovia de Porto Alegre e elevou os custos de transporte a patamares insustentáveis. O fechamento encerra um ciclo de quase dois séculos de atuação no setor de alimentos.

A crise foi desencadeada pela redução do calado no canal de navegação, o que limitou a carga de navios a granel e inviabilizou a continuidade das operações. A sede da empresa, localizada no 4º Distrito de Porto Alegre, também foi severamente atingida pelas águas, ficando completamente inundada.

O impacto foi imediato e definitivo. A companhia, conhecida nacionalmente pela marca Pirata, declarou que não havia mais condições técnicas e financeiras de manter a produção de sal, mesmo após tentativas de adaptação e reestruturação.

A Azevedo Bento ficou conhecida em todo o Brasil pela marca Pirata, que produzia sal marinho em diferentes versões, incluindo embalagens para uso doméstico e industrial. O sal Pirata era comercializado em pó e grosso, sendo tradicionalmente utilizado na culinária gaúcha e em processos de conservação de alimentos. Durante décadas, a marca esteve presente em supermercados e mercearias, tornando-se um símbolo da empresa no setor alimentício. Imagem: Produzida por IA

Trajetória desde o período imperial

A história da Azevedo Bento remonta ao século XIX, quando o comerciante João Batista Ferreira de Azevedo abriu um armazém no centro de Porto Alegre. A iniciativa prosperou rapidamente e, ao longo das décadas, a empresa expandiu sua atuação para a importação e exportação de alimentos, consolidando filiais em cidades estratégicas como Rio Grande e Pelotas.

Durante o século XX, a companhia diversificou suas operações. Além da venda de produtos coloniais, passou a representar companhias de navegação, ampliando seu papel no setor logístico e consolidando-se como uma referência no comércio gaúcho.

O crescimento, no entanto, não impediu que a empresa enfrentasse dificuldades financeiras recentes. Em 2022, a Azevedo Bento concluiu um processo de recuperação judicial, tentando reorganizar suas finanças e retomar a competitividade no mercado.

Recuperação judicial e nova gestão

Após o período conturbado, a companhia foi adquirida pela Indústria de Sal Romani, do Paraná, que assumiu a gestão com o objetivo de modernizar processos e ampliar a distribuição. A expectativa era de que a união de forças garantisse a sobrevivência da marca Pirata e fortalecesse o setor.

Entretanto, o cenário natural adverso comprometeu as estratégias da nova administração. A enchente histórica de 2024 não apenas paralisou parte da produção como também interrompeu de forma prolongada o transporte pela hidrovia, essencial para o escoamento do sal.

Segundo informações divulgadas por veículos de imprensa regionais, as medidas emergenciais foram insuficientes para superar o impacto acumulado. A queda na receita, aliada ao aumento nos custos logísticos, levou à decisão final de encerrar as atividades.

Impacto econômico e histórico no Rio Grande do Sul

O fechamento da Azevedo Bento representa mais do que a perda de uma empresa. Para Porto Alegre e para o Rio Grande do Sul, significa o fim de uma trajetória que atravessou o período imperial, a República Velha, o Estado Novo e o Brasil contemporâneo.

A paralisação da marca Pirata simboliza também um golpe para a economia local, já fragilizada pelos efeitos da enchente. Trabalhadores, fornecedores e parceiros comerciais foram diretamente afetados pelo encerramento, em um cenário que evidencia a vulnerabilidade da infraestrutura logística regional.

Conforme reportagens do jornal Zero Hora, a inundação prolongada transformou o episódio em um divisor de águas para diversas empresas que dependiam do modal hidroviário. A Azevedo Bento, mesmo sendo a mais antiga, não foi capaz de resistir à pressão imposta pelo desastre climático.

Fim de um ciclo

A história da Azevedo Bento, iniciada em um armazém no século XIX, encerra-se 170 anos depois sob a força de um fenômeno natural que expôs fragilidades estruturais no sistema de transporte e logística do estado. O fechamento ficará marcado não apenas como o fim de uma empresa tradicional, mas como um capítulo da memória econômica e cultural do Rio Grande do Sul.

Após o fechamento da empresa mais antiga do estado por causa da enchente de 2024, será que Porto Alegre e o Rio Grande do Sul estão realmente preparados para enfrentar uma tragédia semelhante no futuro?

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Felipe Alves da Silva

Profissional com formação militar pelo Exército Brasileiro e experiência em gestão administrativa e logística no setor industrial. Escreve sobre defesa, segurança, geopolítica, indústria automotiva, ciência e tecnologia. Sugestões de pauta: fa06279@gmail.com

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