Falta de silos para armazenar grãos traz prejuízo ao agronegócio. Safra recorde expõe fragilidade da rede de estocagem no Brasil e força produtores a vender mais rápido, reduzindo ganhos
A falta de capacidade de armazenagem adequada gera prejuízo ao agronegócio brasileiro, segundo reportagem publicada em O Globo. Com a safra de 2025 estimada em 345 milhões de toneladas de grãos, o país bate recordes de produção, mas enfrenta gargalos logísticos que comprometem o poder de barganha dos produtores.
Quase 40% da colheita fica sem espaço em silos e armazéns, o que obriga agricultores a vender rapidamente para tradings e cooperativas. Isso aumenta custos, reduz margem de lucro e limita a competitividade do Brasil frente a países como Estados Unidos e Canadá, que contam com capacidade de estocagem muito superior.
Quem perde mais com a falta de silos?
O impacto recai principalmente sobre pequenos e médios produtores rurais, que não conseguem arcar com os custos de construção e manutenção de silos próprios. Apenas 16% dos agricultores no Brasil possuem estruturas de armazenagem em suas propriedades.
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Isso significa que a maioria dos produtores precisa vender logo após a colheita, justamente quando os preços estão mais baixos. Já países como Estados Unidos e Canadá, que armazenam até 80% da produção dentro das fazendas, conseguem segurar a venda para momentos de maior valorização.
Quanto é a diferença entre Brasil e concorrentes?
Segundo dados da FAO e comparativos apresentados pelo O Globo, os Estados Unidos possuem capacidade estática de 680 milhões de toneladas, mais de 20% acima da sua produção anual de 540,5 milhões. Essa “folga” no sistema é considerada ideal para dar equilíbrio ao mercado.
No Brasil, porém, os quase 12 mil silos existentes comportam apenas 62% da produção, deixando o país em desvantagem competitiva. Para efeito de comparação: na Argentina, 40% dos grãos são estocados nas fazendas; na União Europeia, 50%; nos EUA, 65%; e no Canadá, 80%.
Onde estão os silos no Brasil?
Outro ponto crítico é a localização das unidades de armazenagem. Pouco mais de 10% estão em áreas rurais, próximos às lavouras. O restante concentra-se em zonas urbanas, sob controle de cooperativas e grandes tradings.
Essa concentração aumenta custos logísticos, já que produtores precisam transportar os grãos até esses pontos, muitas vezes em estradas precárias, antes mesmo de negociar a venda.
Por que o produtor evita investir em armazenagem?
Construir um silo é caro e envolve despesas fixas como energia, mão de obra e controle fitossanitário contra pragas e umidade. Para muitos agricultores, o custo não compensa diante da necessidade imediata de liquidez após a colheita.
Sem espaço próprio de estocagem, o produtor fica refém do mercado, tendo de vender por valores mais baixos ou arcar com custos adicionais de transporte e padronização dos grãos.
Vale a pena investir em novos programas de apoio?
O governo federal mantém linhas de crédito, via BNDES e Banco do Brasil, para financiar construção e ampliação de armazéns. No entanto, a adesão é limitada, já que os programas não atendem de forma eficaz às necessidades do setor.
Especialistas defendem que políticas públicas mais robustas são urgentes para evitar que o prejuízo ao agronegócio se torne recorrente, comprometendo o crescimento das exportações e a renda de milhares de produtores.
A falta de silos no Brasil não é apenas um problema logístico, mas um fator estratégico que impacta diretamente os preços, a renda do produtor e a competitividade internacional do país. Sem novos investimentos em armazenagem, o agronegócio brasileiro continuará perdendo bilhões todos os anos, mesmo com recordes de produção.
E você, acredita que o governo e o setor privado devem acelerar a construção de silos para evitar prejuízo ao agronegócio ou o modelo atual ainda pode ser sustentável? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive essa realidade no campo.