Na China, fábricas de carros, robôs e fundições viram atrações turísticas — e mostram ao mundo a nova face da indústria chinesa
A China transformou parte de seu parque industrial em ponto turístico. Nos últimos meses, fábricas de carros elétricos e robôs humanoides têm atraído multidões. O que antes era território exclusivo de engenheiros e técnicos, agora virou passeio para famílias, escolas e empresas.
Roteiros incluem robôs, fundição e monotrilhos
A reportagem visitou três polos industriais chineses que exemplificam esse novo fenômeno: a fábrica da BYD em Xian, a da Geely em Changxing e a da Magiclab Robotics em Suzhou.
Na BYD, considerada a maior unidade da montadora no mundo, o visitante pode embarcar em um monotrilho entre prédios e observar a linha de montagem em um micro-ônibus aberto.
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A demanda é tão alta que a reserva precisa ser feita com dez dias de antecedência. Escolas e empresas têm prioridade.
Na Geely, o passeio também inclui um pequeno veículo para transitar entre os setores. O destaque fica para os robôs gigantes em ação.
Eles montam partes dos carros com pouquíssima intervenção humana. As visitas ocorrem aos sábados.
Os grupos, de 15 a 20 pessoas, pagam 299 yuan (R$ 230) por ingresso. Crianças são permitidas, desde que tenham mais de cinco anos. Fotografias, no entanto, são proibidas para o público geral.
Robôs humanizados são os novos anfitriões
Em Suzhou, a Magiclab aposta em uma experiência mais aberta. A fábrica permite filmagens e fotos. Robôs humanoides e cães robôs em movimento fazem parte da visita.
Eles são montados e testados na frente dos visitantes. Os próprios diretores, incluindo o CEO Wu Changzheng, conduzem as explicações.
Startups da região, como Leju Robot e AISpeech, também se engajaram na prática. Elas veem o turismo como estratégia de marketing.
A aposta é atrair atenção, ganhar reconhecimento e firmar seus nomes no mercado. No caso da AISpeech, o foco está nas aplicações de inteligência artificial, como os tradutores simultâneos.
Xiaomi vira destaque nacional e abala concorrência
Em Pequim, a fábrica da Xiaomi virou parada obrigatória no roteiro. Turistas que visitam a Grande Muralha e a Cidade Proibida também passam pelo distrito de Yizhuang, voltado à alta tecnologia.
O modelo SU7, lançado em abril do ano passado, causou impacto ao competir diretamente com a alemã Porsche. A repercussão foi tão forte que, desde janeiro, a linha de montagem se tornou aberta ao público.
Dados fornecidos revelam que a taxa de automação da fábrica é de 91%. São 700 robôs que produzem um carro novo a cada 76 segundos.
A área mais visitada é a seção de fundição, onde o metal líquido cria peças sem interrupção. Por segurança, os visitantes devem seguir regras rígidas de vestimenta e higiene, como uso de calças, camisas de manga longa e cabelo preso.
Proibição de fotos não afasta visitantes
Assim como na Geely, a Xiaomi controla o uso de celulares. A empresa quer evitar vazamentos de seus processos industriais.
Mesmo com essas restrições, a busca por ingressos é intensa. Eles são sorteados gratuitamente, mas chegam a ser revendidos online por até 2 mil yuan (R$ 1.540).
Ideia vem dos anos 1990, mas só agora ganhou força
O conceito de “turismo tecnológico industrial” não é novo na China. Na década de 1990, o grupo FAW já havia criado uma agência voltada a esse tipo de visita.
A linha de montagem do Hongqi, limusine oficial do governo chinês, foi uma das primeiras a abrir as portas. Esse mesmo modelo foi elogiado pelo presidente americano Joe Biden em reunião com Xi Jinping, em 2023.
Apesar disso, o grande impulso recente ocorreu após a Feira Internacional de Turismo de Xangai, em novembro do ano passado.
O estande da Xiaomi despertou debates e curiosidade. Desde então, outras fábricas seguiram a tendência.
Exemplos espalhados pelo país aumentam a atração
Além das gigantes BYD, Geely e Xiaomi, outras iniciativas se destacam. Entre elas, a “fábrica escura” da GAC Aion, em Hunan, opera sem humanos.
O parque industrial da Sany, também em Hunan, oferece visitação a caminhões pesados. Já em Xangai, a AgiBot montou a primeira linha de produção em massa de robôs humanoides do país.
Portanto, o turismo industrial chinês virou vitrine de inovação. Entre robôs, veículos e fundições, a China encontrou mais um caminho para exibir sua força tecnológica — e atrair olhares de todo o mundo.
Com informações de Folha de São Paulo.