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Fabricante dos maiores motores do mundo traça rota ousada para eliminar toda poluição dos navios até 2050

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 11/09/2025 às 09:08
Wärtsilä revela plano ousado para zerar as emissões dos navios até 2050 com motores inovadores, combustíveis limpos e sistemas híbridos.
Wärtsilä revela plano ousado para zerar as emissões dos navios até 2050 com motores inovadores, combustíveis limpos e sistemas híbridos.
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Conhecida por construir os motores mais potentes do planeta, a gigante finlandesa Wärtsilä quer mudar a história do transporte marítimo pesado. A empresa apresentou um plano ambicioso para zerar as emissões de carbono dos navios até 2050

A finlandesa Wärtsilä, famosa por construir os maiores e mais potentes motores do mundo, decidiu investir pesado para reduzir a poluição do transporte marítimo pesado. Segundo o CEO Håkan Agnevall, a meta é clara: alcançar emissões zero até 2050.

“Hoje atendemos dois setores: marítimo e energético”, disse ele. “O marítimo representa cerca de 60% do nosso negócio, o energético, 40%. Nossa estratégia, se resumida em uma palavra, é a descarbonização.”

A tarefa não será fácil porque o transporte naval pesado, junto com a aviação, está entre os maiores desafios na corrida para zerar as emissões. Os enormes navios de carga usam o chamado “óleo bunker”, o combustível mais barato e mais poluente do mercado.

Um cargueiro como o Emma Maersk queima cerca de 312 toneladas por dia para mover seu motor Wärtsilä RT-series de 109.000 cavalos de potência. Esse consumo gera mais de mil toneladas de gases de efeito estufa diariamente

Plano da OMI cria imposto global sobre carbono

A Organização Marítima Internacional (OMI) aprovou um plano que pode ser adotado formalmente em outubro. Ele prevê um imposto de carbono sobre todas as emissões do setor naval, criando um incentivo direto para empresas reduzirem poluição.

Segundo Agnevall, essa mudança será um marco. A medida altera a Convenção MARPOL, que já tem 108 signatários representando 97% da frota mercante mundial. Caso seja ratificada, passará a aplicar multas de US$ 100 a US$ 380 por tonelada de CO2 acima dos limites, já a partir de 2028.

Empresas que atingirem emissões quase zero poderão receber o valor arrecadado com as penalidades, criando um estímulo para pesquisa e desenvolvimento de novas soluções.

Sincronizar portos e navios pode cortar 30% das emissões

Outro foco da Wärtsilä está na chamada otimização da agenda digital. Agnevall explica que os navios costumam acelerar para chegar na data marcada, mas depois ficam dias parados aguardando espaço no porto. Isso gera um enorme desperdício de combustível.

O Consórcio Blue Visby está desenvolvendo um sistema de agendamento global que promete reduzir de 8% a 30% do consumo de combustível apenas com melhor organização. O sistema também deve dividir os ganhos e custos entre portos e operadores, evitando prejuízos.

Captura de carbono embarcada entra em cena

Enquanto combustíveis limpos não chegam em escala, a Wärtsilä aposta em capturar carbono diretamente do escapamento dos navios. A empresa diz já conseguir reter 70% das emissões com tecnologia derivada dos depuradores que fabrica.

O processo consome energia, mas permite armazenar o CO2 em tanques no convés e vendê-lo depois para uso industrial. O custo atual fica entre € 50 e € 70 por tonelada. Segundo Agnevall, a grande barreira agora é criar infraestrutura para descarregar e reaproveitar esse carbono capturado.

Motores multicombustíveis para atravessar a transição

Como os navios duram de 25 a 30 anos, os que forem construídos agora ainda estarão ativos na era do carbono zero. Por isso, a empresa está criando motores capazes de operar com diferentes combustíveis. A ideia é usar os fósseis mais limpos hoje e migrar gradualmente para os verdes.

O gás natural é a principal aposta no curto prazo. Ele emite cerca de 20% menos carbono e muito menos poluentes tóxicos que o óleo bunker. Em alguns momentos, já teve preço competitivo em relação ao combustível tradicional, embora geralmente custe o dobro.

Metanol mostra potencial como combustível neutro

Outro caminho promissor é o metanol, que pode reduzir em até 95% as emissões de CO2 quando produzido de forma renovável. Ele já move veículos pesados e começa a ser usado em navios de contêineres. A Wärtsilä desenvolveu novos sistemas de injeção para adaptar motores a ele.

O combustível carrega menos energia que o diesel, mas pode ser obtido a partir de lixo gaseificado ou CO2 capturado, combinado com hidrogênio verde. A produção sustentável ainda é cara, porém pode crescer conforme a demanda aumentar.

Amônia surge como combustível totalmente verde

Para alcançar zero carbono, a empresa aposta na amônia. Ela não contém átomos de carbono e pode armazenar hidrogênio de forma muito mais barata que o próprio hidrogênio puro. Também pode ser queimada em motores a pistão ou usada em células de combustível.

A Wärtsilä já vendeu seu primeiro motor a amônia, que será testado em uma embarcação offshore no próximo ano. A tecnologia exige novos sistemas de segurança porque a substância é altamente tóxica, mas pode se tornar o padrão no futuro.

Agnevall lembra que a maioria da amônia atual vem do processo Haber-Bosch, poluente, mas novas técnicas limpas estão surgindo. Ele afirma que os motores a pistão já estão prontos para usá-la com boa eficiência, enquanto as células de combustível ainda precisam amadurecer.

Soluções híbridas ajudam a cortar consumo

Além dos combustíveis, a empresa aposta na hibridização. Usar baterias junto com motores a combustão pode reduzir o tamanho do motor principal e economizar até 30% de combustível. As baterias fornecem torque extra apenas nos momentos de pico de potência.

Para Agnevall, eficiência é a palavra-chave. Mesmo pequenos ganhos no consumo somados em milhares de viagens podem gerar impactos enormes.

Caminho depende de cooperação e viabilidade financeira

Apesar dos avanços tecnológicos, o CEO afirma que a transição só será possível com colaboração entre toda a cadeia. Estaleiros, operadores, fornecedores de combustível e fabricantes de motores terão de agir juntos.

Ele diz que, no passado, a Wärtsilä escondia novos projetos até o lançamento, mas isso mudou. Agora a empresa divulga antecipadamente suas tecnologias para que o ecossistema tenha tempo de se preparar. Caso contrário, os motores verdes não teriam mercado.

Agnevall defende também que taxas de carbono sejam aplicadas logo para equilibrar os custos dos combustíveis sustentáveis, hoje de duas a quatro vezes mais caros que o bunker. Sem incentivos financeiros, as empresas não conseguirão investir.

Expectativa para votação da MEPC 83

A proposta da OMI será decidida em outubro. Segundo Agnevall, há otimismo cauteloso no setor. China, Brasil, Índia e Europa apoiam, enquanto os Estados Unidos resistem. Se aprovada, criará um dos primeiros impostos globais de carbono do planeta.

Ele reforça que as tecnologias para descarbonizar já existem, mas exigem capital e tempo para serem implementadas em larga escala. A transição, diz, precisa ser ambientalmente sustentável e financeiramente viável.

“Queremos acelerar, mas também queremos ser realistas”, afirma. “Não existe solução mágica. Essa jornada depende da cooperação de todos e vai levar tempo.”

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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