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Exportações de carne halal do Brasil crescem 20% em 2025 e consolidam país como ‘colosso’ no mercado árabe que movimenta US$ 1,4 trilhão por ano

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 20/08/2025 às 12:51
Atualizado em 21/08/2025 às 13:04
Exportações de carne halal do Brasil disparam 20% em 2025
Foto: Exportações de carne halal do Brasil disparam 20% em 2025
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Exportações de carne halal do Brasil crescem 20% em 2025 e reforçam liderança global, mas riscos de barreiras e dependência preocupam o setor.

O Brasil escreveu um novo capítulo histórico em 2025 ao disparar nas exportações de carne halal. Em um mercado global que movimenta mais de US$ 1,4 trilhão por ano, o país se consolidou como protagonista absoluto, abastecendo milhões de consumidores muçulmanos com carne bovina e de frango certificada segundo os rígidos padrões islâmicos. Só nos nove primeiros meses de 2025, as vendas brasileiras subiram 20% em relação a 2024, resultado que reforça a posição de gigante, mas também expõe riscos de dependência e gargalos que podem ameaçar o futuro do setor.

O crescimento que impressionou os mercados árabes

Segundo dados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, o Brasil exportou mais de US$ 3,6 bilhões em carne halal entre janeiro e setembro de 2025, representando uma alta superior a 20% frente ao mesmo período de 2024.

O resultado confirma a robustez da demanda nos países árabes, que enxergam o Brasil como fornecedor confiável e capaz de garantir escala e qualidade.

Esse desempenho tem um peso ainda maior quando comparado com o cenário global: estima-se que o mercado halal, que inclui não só carnes, mas todo um ecossistema de alimentos certificados, ultrapasse US$ 1,4 trilhão anuais. O Brasil responde por uma fatia expressiva desse bolo, liderando embarques para mercados estratégicos como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Indonésia.

O que significa o selo halal

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O conceito de halal vai muito além da carne. A palavra, que significa “permitido” em árabe, envolve um conjunto de normas de abate, manipulação e transporte de alimentos em conformidade com os preceitos islâmicos. No caso das carnes, exige que os animais sejam abatidos de forma ritualizada, com supervisão de autoridades religiosas e respeito às práticas que tornam o produto aceitável para o consumo da população muçulmana.

O Brasil desenvolveu uma indústria robusta para atender a essas exigências, com frigoríficos adaptados, certificadoras reconhecidas internacionalmente e um corpo técnico especializado em garantir que o produto atenda aos padrões mais rígidos. Essa infraestrutura é um dos segredos para o sucesso brasileiro no mercado halal.

Brasil, potência global da carne halal

O país não é apenas mais um fornecedor. Hoje, o Brasil é visto como uma potência global da carne halal, respondendo por mais de 40% da carne de frango importada pelos países árabes e sendo também um dos maiores fornecedores de carne bovina certificada.

Os frigoríficos nacionais disputam contratos bilionários e chegam a adaptar linhas inteiras de produção apenas para atender às encomendas halal.

Esse protagonismo trouxe ganhos expressivos para a economia. Estima-se que só o segmento halal seja responsável por cerca de US$ 5 bilhões em faturamento anual, além de gerar milhares de empregos em toda a cadeia produtiva — do campo aos portos. Para estados como Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul, especializados em proteína animal, o impacto é direto no desenvolvimento regional.

O alerta vermelho: dependência e barreiras

Mas nem tudo são cifras bilionárias e boas notícias. Especialistas alertam para o risco crescente de dependência excessiva desse mercado. Com mais de 95% das exportações destinadas aos países muçulmanos, qualquer alteração nas regras sanitárias ou nas tarifas de importação pode provocar um choque imediato no setor.

O alerta ficou ainda mais evidente após o anúncio de que alguns países estudam revisar suas exigências sanitárias, impondo padrões mais rígidos para garantir qualidade e bem-estar animal. Além disso, existe o risco de concorrência de outros gigantes do setor, como Índia e Turquia, que vêm ampliando investimentos para disputar fatias desse mercado bilionário.

Outro gargalo é a vulnerabilidade logística. Assim como acontece com o minério e o agronegócio, os portos brasileiros operam próximos ao limite. Filas e atrasos no embarque de contêineres de carne já foram registrados, o que pode comprometer a imagem do Brasil como fornecedor confiável.

O jogo geopolítico dos alimentos

O domínio do Brasil no mercado halal vai além da economia: é também uma carta geopolítica. Ser o maior fornecedor de proteína animal para países do Oriente Médio e do Norte da África garante ao país um poder de barganha estratégico em fóruns internacionais. Não por acaso, a diplomacia brasileira trabalha de perto com a Câmara Árabe-Brasileira para consolidar parcerias e ampliar o alcance desses produtos.

Essa relação estratégica, no entanto, pode se transformar em fragilidade se não houver diversificação. Um choque geopolítico, como guerras regionais ou sanções comerciais, teria impacto direto sobre um setor altamente concentrado em um único bloco de consumidores.

A promessa de expansão e os próximos passos

Apesar dos riscos, o potencial de crescimento continua enorme. Estimativas apontam que até 2030 o mercado halal deve ultrapassar a marca de US$ 2 trilhões em faturamento global. Com a população muçulmana crescendo e a classe média árabe expandindo seu poder de compra, a demanda por alimentos certificados só tende a aumentar.

O Brasil tem condições de ampliar ainda mais sua fatia, especialmente se investir em diversificação de produtos halal, incluindo derivados lácteos, processados e até cosméticos e fármacos, que também fazem parte do ecossistema de consumo permitido pelo Islã. Empresas brasileiras já começam a explorar essa fronteira, mas ainda timidamente.

O Brasil está diante de uma encruzilhada que pode definir seu papel no comércio global de alimentos nas próximas décadas.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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