Relatório internacional revela que a Petrobras lidera a expansão do petróleo na América Latina, enquanto 290 bancos investiram US$ 129 bilhões em combustíveis fósseis, levantando questionamentos sobre transição energética.
A discussão sobre o futuro energético da América Latina ganhou força com a divulgação de um relatório internacional que aponta o crescimento expressivo da exploração de petróleo na região. O estudo, intitulado The Money Trail Behind Fossil Fuel Expansion in Latin America and the Caribbean, foi elaborado pela organização alemã Urgewald em parceria com o Instituto Internacional Arayara e trouxe dados que chamaram atenção de ambientalistas e economistas, conforme noticiado nesta quinta, 02.
Entre 2022 e 2024, segundo o levantamento, 290 bancos financiaram novos projetos de petróleo e gás, totalizando cerca de US$ 129 bilhões. Apenas em iniciativas de prospecção de novas reservas, o montante chegou a US$ 28,3 bilhões. Esses números evidenciam que, apesar das metas de redução de emissões de carbono, os combustíveis fósseis continuam recebendo altos volumes de investimento.
Petrobras lidera expansão exploratória na região
A Petrobras surge como protagonista nesse cenário. De acordo com o relatório, a estatal responde por 29% da expansão exploratória de petróleo na América Latina. Essa posição coloca a companhia brasileira no centro do debate global sobre energia e sustentabilidade.
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Nicole Figueirêdo, CEO do Instituto Arayara, foi categórica durante a divulgação do estudo: “A Petrobras continua expandindo reservas enquanto divulga ações de transição que consideramos mínimas e irrisórias”. A crítica ressalta o contraste entre o discurso da empresa sobre energias renováveis e suas práticas de exploração fóssil.
Bancos financiam expansão do petróleo apesar de metas climáticas
Outro ponto destacado pelo relatório é o papel das instituições financeiras. O Santander aparece como o principal banco financiador da expansão de petróleo na América Latina, liderando os aportes destinados a companhias do setor. Esse movimento gera controvérsias, já que a instituição espanhola mantém compromissos públicos de sustentabilidade.
Segundo a própria Arayara, “nós financiamos benefícios para o estrangeiro, enquanto ficamos com as consequências ambientais”. O comentário reforça a percepção de que a região arca com os impactos sociais e ambientais, enquanto investidores globais seguem lucrando com o petróleo e o gás.
Vale lembrar que o Santander anunciou a meta de mobilizar € 220 bilhões em financiamentos verdes até 2030, uma promessa que, na prática, ainda convive com a realidade dos aportes aos combustíveis fósseis.
Contradições entre economia e meio ambiente
Para especialistas em energia, a principal contradição está na coexistência de compromissos climáticos com a continuidade dos investimentos em petróleo. O relatório mostra que, mesmo após o Acordo de Paris, o setor financeiro segue injetando bilhões em projetos fósseis. Essa postura levanta dúvidas sobre a velocidade da adaptação das empresas e bancos às exigências globais de redução das emissões de gases de efeito estufa.
Além disso, o avanço da Petrobras sobre novas reservas de petróleo reforça as tensões em torno do papel do Brasil na transição energética. A estatal é considerada peça-chave tanto no abastecimento da América Latina quanto nas negociações internacionais sobre energia e clima.
Desafios e possíveis caminhos para a transição energética
O relatório da Urgewald e do Instituto Arayara aponta que a América Latina permanece como uma região estratégica para o fornecimento de petróleo. Essa condição, no entanto, coloca governos e empresas diante de dilemas urgentes: como equilibrar a necessidade de desenvolvimento econômico com a pressão internacional por sustentabilidade?
A Petrobras, como maior player regional, carrega a responsabilidade de conciliar investimentos em petróleo com iniciativas de energia limpa. Já os bancos, por sua vez, enfrentam o desafio de alinhar suas carteiras de crédito às metas ambientais que divulgam publicamente.
O futuro da região dependerá, portanto, da capacidade de harmonizar crescimento econômico e preservação climática. O peso da Petrobras e o papel dos financiadores internacionais serão determinantes para definir se a América Latina avançará rumo a uma transição energética consistente ou continuará dependente do petróleo fóssil.