Salários defasados, estrutura precária e poucas perspectivas estão acelerando a saída de pilotos da FAB. Só em 2025, o número de baixas já ameaça bater recorde. Enquanto isso, companhias privadas oferecem bônus de até R$ 80 mil.
A crise que se anunciava em 2024 explodiu de vez em 2025. Somente entre janeiro e março deste ano, 22 pilotos da FAB pediram desligamento. E o número total de oficiais que deixaram a Força Aérea já chega a 45 militares, incluindo engenheiros, médicos e profissionais altamente especializados. É uma evasão em massa — e o pior: ela está só começando.
A projeção é preocupante. Se o ritmo continuar, o Brasil vai assistir à maior debandada de sua história na aviação militar. A raiz do problema? Falta de valorização. Os pilotos da FAB, treinados para voar caças, aeronaves de transporte e patrulha, estão abandonando o uniforme em busca de melhores salários e, principalmente, melhores condições de trabalho.
Pilotos da FAB: formados com dinheiro público, mas voando para o setor privado
Formar um aviador militar não é barato. Estima-se que cada piloto da FAB represente um investimento de mais de R$ 100 milhões, considerando formação na Academia da Força Aérea, horas de voo, cursos de especialização e treinamentos constantes. Tudo isso bancado com recursos públicos.
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Mesmo assim, os profissionais estão saindo. Um primeiro-tenente aviador, responsável por comandar aeronaves de milhões de dólares, ganha cerca de R$ 13 mil brutos por mês. Já um piloto comercial pode ganhar de R$ 15 mil a R$ 20 mil, sem contar bônus e incentivos. Só a LATAM, por exemplo, pagou R$ 80 mil de entrada aos novos pilotos aprovados em seu processo seletivo de 2024.
Fica difícil competir.
Rotina puxada, pouca valorização: por que tantos estão indo embora?
Os relatos são recorrentes. Muitos pilotos da FAB reclamam que recebem o mesmo salário base que oficiais da infantaria, apesar de lidarem com altíssima responsabilidade, manuseando equipamentos estratégicos, muitas vezes em situações de risco.
O número de voos dentro da FAB tem sido limitado por falta de recursos, de peças e até de combustível. Na prática, isso significa que muitos aviadores militares voam menos do que gostariam — ou do que precisariam para manter as horas de comando exigidas até para migrar de carreira. Isso cria um paradoxo: eles são formados para voar, mas acabam presos no solo.
Outro fator que pesa na decisão de deixar a Força: o estresse burocrático. Missões adiadas, manutenção defasada, metas de horas de voo não cumpridas, e um sistema de promoção cada vez mais engessado e politizado.
E o impacto disso? Perda de capacidade operacional real
A saída dos pilotos da FAB afeta diretamente a prontidão da defesa aérea brasileira. Somente em 2025, já se foram sete pilotos de caça F-5 — os mesmos que defendem os céus do país em caso de violação do espaço aéreo. Eles atuavam em bases estratégicas como Canoas (RS) e Galeão (RJ).
O reflexo imediato é a redução de esquadrões ativos, aumento da carga para quem fica, e dificuldade em repor os quadros, já que formar um novo aviador leva, no mínimo, dez anos.
Mais grave ainda: a evasão de pilotos não é um caso isolado. Ela faz parte de uma crise estrutural nas Forças Armadas. No total, 23 outros oficiais de áreas técnicas também deixaram a FAB nos primeiros meses do ano. O que significa perda de engenheiros, controladores de voo, pessoal médico e de apoio — todos com formação estratégica para o funcionamento da Aeronáutica.
A conta não fecha: ou muda agora, ou o prejuízo será enorme
A situação é tão crítica que, se nada for feito, o Brasil corre o risco de perder sua capacidade de dissuasão aérea. E num cenário geopolítico cada vez mais instável — com tensões na Venezuela, avanço do narcotráfico nas fronteiras e pressões externas — isso pode sair muito caro.
A história mostra que países com Forças Armadas frágeis pagam o preço mais alto. O Brasil tem 8,5 milhões de km² e uma das maiores riquezas naturais do planeta. Não pode abrir mão de sua soberania por falta de investimento e gestão.
Valorizar os pilotos da FAB não é só questão de salário. É questão de segurança nacional. Eles são formados com dinheiro público para proteger o país, mas estão sendo absorvidos por empresas privadas que reconhecem — e remuneram — seu valor.