China abre portas para mais de 180 exportadores de café do Brasil, reforçando acordos bilionários e ampliando o protagonismo do país no mercado asiático. Consumo local cresce e impulsiona cenário promissor para produtores brasileiros.
A China ampliou o espaço para o café brasileiro em seu mercado ao habilitar, 183 novas empresas brasileiras para exportação do produto, revelou o jornal Folha de S. Paulo neste sábado (02).
O anúncio foi feito pela Administração Aduaneira Geral da China e divulgado por meio das redes sociais da Embaixada da China no Brasil, além de compartilhado oficialmente pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
A medida entra em vigor com validade de cinco anos, estabelecendo um novo marco nas relações comerciais entre Brasil e China no setor cafeeiro.
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Exportadores de café brasileiros e tarifas dos EUA
A decisão chinesa foi anunciada no mesmo dia em que o governo dos Estados Unidos, sob comando do presidente Donald Trump, determinou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro.
Atualmente, o Brasil responde por cerca de um terço das 25 milhões de sacas consumidas anualmente pelos norte-americanos.
A nova taxação cria desafios para os exportadores brasileiros nos EUA, mas, ao mesmo tempo, reforça o protagonismo do Brasil no mercado chinês e asiático.
Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), as exportações brasileiras para a China ainda eram modestas até meados deste ano, totalizando 538 mil sacas nos primeiros seis meses de 2025.
No entanto, a expectativa de crescimento é significativa, impulsionada por acordos firmados com grandes redes locais.

O principal exemplo é a parceria com a Luckin Coffee, maior rede de cafeterias da China, que vem superando concorrentes internacionais como a Starbucks no mercado chinês.
Parcerias estratégicas com a Luckin Coffee
Em junho de 2024, durante missão da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Atração de Investimentos) a Pequim, a Luckin Coffee e representantes do agronegócio brasileiro fecharam um acordo para a compra de 120 mil toneladas de café brasileiro até 2029.
Esse volume foi ampliado em novembro do mesmo ano, quando as duas partes decidiram dobrar a meta para 240 mil toneladas, sinalizando o apetite crescente do consumidor chinês pelo café nacional.
A agência ApexBrasil tem sido um dos principais articuladores dessas parcerias, atuando em feiras, rodadas de negócio e eventos de promoção do café brasileiro no país asiático.
Crescimento do consumo de café na China
A ascensão do café brasileiro na China acompanha uma mudança nos hábitos de consumo locais.
Em 2023, a média per capita era de 16,7 xícaras por ano, segundo dados do setor.
Em 2024, esse número subiu para 22,22 xícaras, e as previsões indicam que, até o final do ano, o consumo chegue a cerca de 30 xícaras anuais por pessoa.
Embora o índice esteja longe da média global, de aproximadamente 150 xícaras por ano, o potencial de crescimento é considerado expressivo por analistas e especialistas do mercado de café.
Ampliação das exportações brasileiras
De acordo com a Administração Aduaneira Geral da China, a habilitação dos exportadores faz parte de um movimento mais amplo de aproximação comercial com o Brasil.
Além do café, outros setores do agronegócio foram beneficiados na mesma ocasião:
- 30 empresas brasileiras receberam autorização para exportar gergelim
- 46 foram habilitadas para vender farinhas de aves e suínos para o mercado chinês
Todas essas permissões passaram a valer em 30 de julho de 2025, fortalecendo a presença do agronegócio brasileiro na China.
Diplomacia e comércio internacional
A postura do governo chinês diante das tensões comerciais globais também foi evidenciada.
No início da mesma semana, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, declarou: “A China está disposta a trabalhar com o Brasil, outros países da América Latina e do Brics para defender o sistema multilateral de comércio centrado na OMC [Organização Mundial do Comércio] e salvaguardar a justiça internacional”.
A declaração reforça o interesse chinês em diversificar fornecedores e buscar parcerias de longo prazo com países estratégicos, como o Brasil.
Protagonismo do café brasileiro no mercado chinês

O crescimento do café brasileiro na China tem provocado movimentos estratégicos entre os principais players globais do setor.
Com a Luckin Coffee expandindo sua presença e desbancando a americana Starbucks em número de lojas no país, cresce também a influência do Brasil como fornecedor de matéria-prima de qualidade para atender à demanda asiática.
Segundo especialistas, a escolha do café brasileiro se deve à sua qualidade reconhecida, à regularidade da produção e à capacidade logística instalada no Brasil.
Potencial de crescimento para produtores brasileiros
Dados da Organização Internacional do Café (OIC) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil reforçam a relevância do mercado chinês para o futuro das exportações brasileiras.
A China, que há menos de uma década tinha consumo restrito ao chá, tornou-se um dos principais mercados emergentes para o café mundial.
O país asiático aparece, atualmente, entre os dez maiores importadores de café do Brasil, e a tendência é de ascensão contínua nos próximos anos.
O aumento da exportação de café para a China também deve impulsionar a economia de regiões produtoras no Brasil, especialmente Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Rondônia, estados líderes na produção nacional.
O setor cafeeiro brasileiro, responsável por milhões de empregos diretos e indiretos, vê na abertura do mercado chinês uma oportunidade estratégica para diversificar destinos e garantir maior estabilidade diante de oscilações internacionais.
Relações comerciais e histórico sino-brasileiro
A relação comercial sino-brasileira no agronegócio ganhou força especialmente a partir da década de 2010, com avanços significativos em acordos sanitários, parcerias tecnológicas e missões de promoção comercial.
O Brasil já é o principal fornecedor de soja, carne bovina e carne de frango para a China, e o café caminha para ocupar posição semelhante nos próximos anos, conforme sinalizam os dados recentes.
Em um cenário global marcado por tensões comerciais e políticas, o café brasileiro conquista a China e amplia sua presença internacional, contando com acordos bilionários, reconhecimento de qualidade e uma demanda em expansão.
Diante desse panorama, você acredita que o café nacional pode assumir papel de liderança absoluta no mercado asiático nos próximos anos? Qual o impacto desse movimento para a economia brasileira e para os consumidores do país?