Entenda como a revisão de tarifas pode reabrir as compras de carne bovina do Brasil pelos Estados Unidos e fortalecer o comércio bilateral
Os Estados Unidos devem retomar as compras de carne bovina brasileira após a esperada revisão das tarifas de importação, segundo Roberto Perosa, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes). O anúncio ocorreu durante o 2º Seminário Lide Agronegócio, realizado em São Paulo, em outubro de 2025, reunindo representantes do setor e autoridades públicas.
Perosa explicou que os Estados Unidos continuam dependentes da carne brasileira, mesmo com a alta das tarifas. Assim, quando as taxas forem revistas, o comércio deve retomar força e estabilidade. Ele também ressaltou que a demanda norte-americana se mantém alta, especialmente pela qualidade e regularidade da carne brasileira.
Dependência norte-americana e qualidade da carne brasileira
Segundo a Abiec, a carne do Brasil é mais magra e limpa, o que a torna essencial para o blend industrial norte-americano usado na produção de hambúrgueres e processados. Esse blend mistura carne local, mais gordurosa, com cortes brasileiros de maior qualidade, garantindo o padrão exigido pelo consumidor dos Estados Unidos.
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Além disso, os EUA enfrentam o menor ciclo pecuário em 75 anos, com 80 milhões de cabeças de gado, ante 100 milhões em períodos normais. Por isso, o país precisa importar carne para suprir a escassez interna. O Brasil se destaca como o principal fornecedor capaz de atender essa demanda com volume, qualidade e regularidade.
Impacto das tarifas e continuidade das exportações
Até julho de 2025, o Brasil exportou 200 mil toneladas de carne bovina aos EUA, o mesmo volume de todo o ano de 2024. O setor esperava dobrar esse número até dezembro, mas a tarifa total de 76% tornou parte dos embarques inviável economicamente.
Mesmo assim, a Abiec informou que o Brasil manteve exportações regulares, com 10 mil toneladas enviadas apenas no último mês. Essa continuidade mostra a resiliência do setor e a força da indústria nacional, mesmo diante de barreiras comerciais.
De acordo com Perosa, as tarifas reduziram a competitividade da carne brasileira, mas não eliminaram o interesse norte-americano. Isso ocorre porque a carne do Brasil segue sendo indispensável para a indústria alimentícia dos Estados Unidos.
Redirecionamento de exportações e diferença de preços
Com as barreiras tarifárias, o Brasil redirecionou parte das exportações para a Ásia e o Oriente Médio, mercados em expansão e com crescente demanda. Ainda assim, os Estados Unidos continuam sendo o destino mais lucrativo.
Segundo a Abiec, o mesmo corte vendido à China por US$ 5,7 mil a tonelada é negociado por US$ 7,5 mil nos EUA. Essa diferença de preço reforça a importância econômica do mercado norte-americano para o Brasil. Além disso, o país exporta cortes especiais para a Itália, usados na produção de bresaola, e carnes do dianteiro para a China, voltadas ao processamento industrial.
Perspectivas e diálogo entre governos
Perosa afirmou que a Abiec mantém diálogo ativo com autoridades e parlamentares norte-americanos para buscar uma solução viável. Segundo ele, há espaço para entendimento diplomático e expectativa de retomada gradual das exportações ainda em 2025.
O executivo destacou também que o Brasil se consolidou como fornecedor estratégico mundial de carne bovina, combinando qualidade, capacidade produtiva e sustentabilidade. Com a revisão das tarifas, o país deve retomar o posto de principal exportador para o mercado americano.