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Estudo identifica adaptações genéticas idênticas em peixes de águas profundas e detecta poluição humana na Fossa das Marianas datadas dos anos 1970

Publicado em 02/04/2025 às 09:15
Fossa das Marianas, Peixes de águas profundas, Mutação genética
Ilustração artística da Fossa das Marinas. Foto: IA
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Peixes encontrados na Fossa das Marianas apresentam mutações genéticas iguais. Cientistas acreditam que isso indica adaptação específica às condições extremas do local

Peixes de águas profundas do oceano desenvolveram a mesma mutação genética, mesmo tendo evoluído de forma independente e em períodos distintos. A descoberta surpreendeu os cientistas e revisita não somente a força da seleção natural, mas também os impactos da atividade humana em locais até então considerados isolados.

Padrão genético repetido em diferentes espécies de peixes de águas profundas

Um novo estudo publicado em 6 de março na revista Cell analisou o DNA de 11 espécies de peixes de águas profundas. Entre eles, estavam peixes-caracol, enguias-de-crista e peixes-lagarto que habitam a chamada zona hadal — regiões oceânicas situadas a mais de 6.000 metros de profundidade.

Os pesquisadores investigaram como essas espécies sobreviveram a condições tão adversas: pressão altíssima, temperaturas extremamente baixas e completa escuridão.

Os peixes se adaptaram com estruturas esqueléticas diferentes, mudanças no ritmo circadiano e sentidos aprimorados para viver com pouca luz — ou mesmo sem luz nenhuma.

Com o auxílio de submarinos tripulados e veículos operados remotamente, os cientistas coletaram amostras entre 1.200 e 7.700 metros de profundidade. As expedições aconteceram na Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, e também em fossas do Oceano Índico.

A mesma mutação genética surgiu nove vezes em linhagens diferentes

A análise genética mostrou que as oito linhagens estudadas chegaram às profundezas do mar em momentos distintos. Algumas datam do período Cretáceo, há cerca de 145 milhões de anos.

Outras evoluíram durante o Paleógeno, entre 66 e 23 milhões de anos atrás. E houve espécies que só chegaram a essas regiões no período Neógeno, há cerca de 2,6 milhões de anos.

Apesar dessa diferença de tempo, todas as espécies que vivem abaixo de 3.000 metros apresentaram uma mutação no gene Rtf1. Esse gene controla como o DNA é codificado e expresso. A mutação apareceu pelo menos nove vezes, separadamente, em linhagens diferentes.

Segundo Kun Wang, ecologista da Northwestern Polytechnical University, essa semelhança genética não vem de um ancestral comum. Ela é resultado direto do ambiente extremo, o que indica que condições semelhantes podem levar à mesma resposta evolutiva em organismos distintos.

Evolução convergente: uma resposta a desafios extremos

Para Ricardo Betancur, ictiólogo da Universidade da Califórnia em San Diego, que não participou do estudo, o achado é um exemplo claro de evolução convergente. Isso acontece quando espécies diferentes desenvolvem características parecidas como forma de adaptação a ambientes semelhantes.

É um lembrete poderoso de que a evolução frequentemente reutiliza o mesmo conjunto limitado de soluções quando confrontada com desafios semelhantes — neste caso, a adaptação às condições extremas do mar profundo”, afirmou Betancur.

Essa descoberta reforça a ideia de que o oceano profundo exerce uma pressão seletiva intensa sobre as espécies que nele vivem, moldando sua biologia de maneira surpreendentemente semelhante, mesmo em linhagens evolutivas distantes.

Poluentes industriais atingem até as maiores profundidades

Além das descobertas genéticas, os cientistas encontraram evidências preocupantes de poluição humana em regiões profundas do oceano. Na Fossa das Marianas e na Fossa das Filipinas, foram detectadas substâncias químicas nocivas em amostras de peixes e do solo marinho.

Entre os poluentes estavam os bifenilos policlorados (PCBs), usados até os anos 1970 em equipamentos elétricos, e os éteres difenílicos polibromados (PBDEs), que atuavam como retardantes de chamas em produtos de consumo.

Os PCBs foram encontrados nos tecidos do fígado de peixes-caracol hadal. Já os PBDEs e os próprios PCBs estavam presentes em sedimentos retirados de mais de 10.000 metros de profundidade na Fossa das Marianas.

Contaminação em locais isolados chama atenção de cientistas

Embora pesquisas anteriores já tenham apontado a presença de microplásticos e poluentes químicos na Fossa das Marianas, os novos dados mostram que a poluição chegou a níveis ainda mais profundos e com maior concentração.

O estudo reforça que nem mesmo os locais mais remotos do planeta estão livres do impacto da atividade humana. Mesmo nas regiões onde a vida é quase impossível, há sinais claros da presença e da interferência do homem.

Com informações de Live Science.

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Romário Pereira de Carvalho

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