Tecnologia inédita de asfalto ecológico utiliza resíduos plásticos reciclados e material reaproveitado de pavimento antigo para criar rodovias mais resistentes, econômicas e amigas do meio ambiente, mudando o futuro das estradas brasileiras e inspirando inovação em obras públicas.
Um trecho da rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), em Parapuã (SP), tornou-se pioneiro ao adotar uma solução sustentável na pavimentação: asfalto com plástico reciclado pós-consumo, capaz de aumentar a resistência do pavimento e reduzir o impacto ambiental.
A iniciativa, liderada pela concessionária Eixo-SP, destaca-se como referência nacional no uso de tecnologia voltada à sustentabilidade viária.
Segundo Assis Villela, gerente de Pavimentação da Eixo-SP, a tecnologia utiliza uma mistura de plástico reciclado pós-consumo (PCR) e material fresado (RAP, sigla em inglês para pavimento asfáltico reciclado) no pavimento asfáltico, o que representa uma alternativa inovadora para o aproveitamento de resíduos sólidos urbanos.
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De acordo com Villela, “o objetivo é não apenas melhorar o desempenho do pavimento, mas também dar uma destinação correta ao plástico descartado, que se acumula em aterros e polui o meio ambiente”.
A iniciativa garantiu à Eixo SP o prêmio na 6ª edição do Inovainfra 2025, promovido pela revista O Empreiteiro, pelo terceiro ano consecutivo.
Sustentabilidade e impacto ambiental
O Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), produz mais de 11 milhões de toneladas de resíduos plásticos anualmente, e menos de 2% é reciclado.
A adoção do asfalto com plástico reciclado ajuda a dar destino sustentável a esses resíduos, reforçando a responsabilidade socioambiental do setor de infraestrutura.
Além da sustentabilidade, a iniciativa também gera impactos positivos na durabilidade das rodovias.
Conforme destaca Robinson Avila, diretor de Engenharia da Eixo-SP, a adição de plástico reciclado à mistura asfáltica aumenta a resistência à fadiga e às deformações provocadas pelo tráfego intenso, reduzindo custos com manutenção.
“Trata-se de um avanço importante para a pavimentação nacional, pois diminui a necessidade de materiais virgens e amplia a vida útil do pavimento”, afirma Avila.
Tecnologia inédita na América Latina
A experiência brasileira segue uma tendência mundial.
Países como Reino Unido e Índia já utilizam tecnologias semelhantes para ampliar a sustentabilidade em suas rodovias, mas, segundo Emerson Rodrigues Maciel, gerente de Soluções em Engenharia da Stratura Asfaltos, a experiência na SP-294 se destaca pelo uso combinado de 6% de plástico reciclado no ligante asfáltico e 25% de RAP, superando padrões internacionais.
“O percentual de plástico empregado aqui é muito superior ao de outros países, o que reforça o caráter inovador do projeto”, explica Maciel.
O RAP, componente reciclado proveniente da fresagem de asfalto antigo, passa por processamento e correção granulométrica para garantir desempenho.
Os engenheiros utilizam agentes rejuvenescedores para devolver flexibilidade ao material reciclado e mantêm rigoroso controle de temperatura durante o processo, evitando a oxidação do ligante asfáltico.
Segundo Villela, esse controle tecnológico foi decisivo para o bom resultado da mistura final aplicada no trecho de Parapuã.
No experimento, o ligante CAP 30/45, modificado com PCR, apresentou benefícios como menor suscetibilidade térmica, melhor adesão entre agregados e resistência superior à oxidação, pontos destacados pelos engenheiros da concessionária.
O trecho escolhido recebe diariamente cerca de 835 veículos comerciais, e os primeiros resultados apontam aumento na resistência do pavimento asfáltico sustentável às trincas, deformações permanentes e afundamentos de trilha de roda, problemas crônicos em rodovias brasileiras.
Asfalto de plástico: economia, meio ambiente e inovação
Além de contribuir para o meio ambiente, a inovação pode gerar impacto econômico positivo.
Cada tonelada de plástico reciclado incorporada ao asfalto evita o descarte de milhares de embalagens plásticas e reduz o consumo de recursos naturais na produção do pavimento.
Segundo dados apresentados pelos pesquisadores, isso também contribui para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa, alinhando a iniciativa aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
O uso de asfalto com plástico reciclado e RAP na pavimentação também impulsiona a cadeia produtiva da reciclagem, ao ampliar a demanda por materiais reaproveitados e fomentar o desenvolvimento de novas tecnologias no setor.
Conforme Maciel, a experiência em Parapuã pode servir de modelo para outras regiões do Brasil e fortalecer políticas públicas voltadas à infraestrutura viária sustentável.
Pavimento asfáltico sustentável é tendência para o futuro
Para os responsáveis pelo estudo, a viabilidade do pavimento asfáltico sustentável está comprovada tanto sob o ponto de vista técnico quanto ambiental, restando agora ampliar a aplicação dessa tecnologia em larga escala.
“O asfalto com plástico não só atende às exigências técnicas, como contribui de forma decisiva para a sustentabilidade e inovação das rodovias brasileiras”, afirma Robinson Avila.
Diante dessas inovações, fica a pergunta: será que as estradas brasileiras, um dia, terão como padrão o uso do asfalto com plástico reciclado em sua pavimentação?
Como essa tecnologia pode transformar o futuro do transporte e a relação do país com seus resíduos plásticos?
Deveriam usar também pneus.