Entre ruínas de pedra e histórias de garimpo, Igatu, distrito de Andaraí, na Chapada Diamantina, preserva a memória do ciclo dos diamantes e encanta turistas com suas paisagens, trilhas e construções centenárias
Não é por acaso que o pequeno distrito de Igatu, em Andaraí, na Bahia, é conhecido como “a Machu Picchu brasileira”. Suas ruínas de pedra, espalhadas por ladeiras e trilhas, lembram a antiga cidade inca e impressionam quem chega à Chapada Diamantina.
Com cerca de 480 habitantes e localizado a 433 quilômetros de Salvador, o vilarejo tem uma história marcada pelo brilho dos diamantes e pela força de seus moradores.
Tudo começou no século 19, quando foram encontradas as primeiras pedras preciosas no rio Cumbucas.
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A notícia atraiu multidões. Garimpeiros, comerciantes e aventureiros ocuparam a serra e construíram suas casas com o material mais abundante: as rochas rejeitadas da mineração.
Assim nasceram as famosas “tocas”, casas feitas de pedras empilhadas, que parecem se fundir à paisagem.
Durante o auge do garimpo, Igatu chegou a ter quase 10 mil moradores. Mas, com o esgotamento das jazidas, o distrito foi abandonado.
As pedras ficaram, transformando-se em ruínas. Décadas depois, foram essas mesmas ruínas que atraíram novamente pessoas — agora turistas e artistas — dispostos a redescobrir o lugar.
Beleza e história em cada trilha da Machu Picchu brasileira
Caminhar por Igatu é como cruzar um portal do tempo. As cinco ruas principais do vilarejo podem ser percorridas a pé, em ritmo tranquilo, observando o cemitério de pedra, as antigas moradias e a Igreja de São Sebastião.
Nos arredores, o bairro de Luís dos Santos conserva um dos conjuntos arquitetônicos mais impressionantes da Chapada Diamantina.
Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o local mostra a engenhosidade dos antigos garimpeiros: paredes encaixadas com precisão, janelas talhadas na rocha e muros que parecem moldados pelo relevo.
O cenário natural é dominado pelo rio Paraguaçu e pelas serras que se perdem no horizonte. Antigos caminhos de tropeiros, antes usados para o transporte de mercadorias, hoje servem de trilhas.
Elas conduzem os visitantes a pontos históricos de garimpo, como Bicano, Califórnia e Raposo.
Raposo, o mais distante, oferece uma vista deslumbrante e uma sensação de isolamento absoluto. Já a cachoeira da Califórnia, com suas águas frias, convida ao descanso depois da caminhada.
Guardiões da memória
A história de Igatu também é feita por quem ficou. Os moradores locais preservam tradições e lembranças de um tempo em que o garimpo moldava a vida da comunidade.
Maria de Lourdes Oliveira, de 50 anos, é um exemplo dessa resistência. Neta de um homem escravizado, cresceu em uma toca com 11 pessoas.
Hoje, mistura pedra e concreto em sua nova casa, unindo conforto e tradição. Trabalha com artesanato e tecidos, enquanto as irmãs servem cafés e quitutes típicos aos visitantes.
Outro personagem fundamental é o artista visual Marcos Zacaríades. Criador da Galeria Arte & Memória, ele transformou parte das ruínas em um museu a céu aberto.
Catalogou tocas, ruínas e ferramentas da mineração, formando um acervo que mistura arte, história e arqueologia.
Graças a seu trabalho, Igatu se tornou um ponto de encontro de artistas e estudiosos que buscam inspiração entre as pedras.
Também se destaca Amarildo dos Santos, o “cronista” da vila. Filho do dono do tradicional Bar Igatu, ele mantém um censo próprio, registrando nascimentos, mortes e mudanças.
Esses dados viram livros vendidos em sua própria casa, um retrato fiel do cotidiano da comunidade.
O desafio de preservar o passado na Machu Picchu brasileira
Desde a criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina, em 1985, e o tombamento do conjunto arquitetônico de Igatu pelo Iphan, nos anos 2000, o distrito voltou a receber visitantes do Brasil e do exterior.
O turismo trouxe renda e novas oportunidades, mas também desafios. Construções modernas e reformas em alvenaria garantem conforto, porém ameaçam o equilíbrio estético que faz de Igatu um lugar único.
Entre pedras centenárias e memórias preservadas, o vilarejo de Andaraí segue como um exemplo raro de convivência entre passado e futuro — um museu vivo, esculpido na rocha e sustentado pela força de sua própria gente.
Com informações de Aventuras na História.