Déficit de engenheiros ameaça avanços do setor elétrico brasileiro diante de salários baixos, evasão universitária e desafios tecnológicos. Setor enfrenta dificuldade inédita para contratar e reter profissionais essenciais à modernização e segurança energética.
Crise sem precedentes no setor elétrico brasileiro
A crise de escassez de mão de obra qualificada atinge o setor elétrico brasileiro em proporções inéditas, impulsionada por fatores como a baixa atratividade salarial, evasão universitária e um crescente descompasso entre a oferta e demanda por engenheiros eletricistas.
O país enfrenta atualmente um déficit de 75 mil profissionais na área, segundo pesquisa divulgada pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) no primeiro trimestre de 2025.
Essa situação, inédita no histórico do setor, vem impactando diretamente a expansão da infraestrutura, a modernização tecnológica e a segurança energética nacional.
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Oferta de profissionais não acompanha a demanda
O cenário se agravou nos últimos anos, diante das transformações tecnológicas e mudanças regulatórias que demandam uma mão de obra ainda mais especializada.
Empresas do segmento relatam dificuldade não apenas para preencher vagas técnicas e operacionais, mas também para reter jovens talentos formados em engenharia elétrica.
Conforme relato de Aldemir Drummond, diretor da Imagine Brasil e professor da Fundação Dom Cabral, há um gargalo expressivo de profissionais capacitados, especialmente para funções que exigem conhecimento prático e experiência.
Formação de engenheiros no Brasil: um desafio crescente
Segundo levantamento realizado por especialistas, a formação de novos engenheiros no Brasil está muito aquém das necessidades do setor.
Anualmente, cerca de 40 mil engenheiros se formam em instituições brasileiras, número que contrasta com o volume de profissionais formados em outros países que integram o grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Apenas a China e a Rússia, juntas, registram mais de 450 mil engenheiros graduados por ano, o que evidencia o abismo na capacitação de mão de obra especializada entre o Brasil e mercados internacionais estratégicos.
Evasão universitária e busca por salários maiores
A evasão universitária representa um dos principais entraves para suprir o déficit de engenheiros.
De acordo com Dorel Ramos, professor de engenharia elétrica da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 40% dos estudantes que ingressam em cursos de engenharia não concluem a graduação.
O docente observa que muitos optam por migrar para o mercado financeiro, em busca de salários mais elevados e ascensão profissional mais rápida.
Dados de 2025 do site Glassdoor apontam que o salário inicial de um engenheiro eletricista gira em torno de R$ 3 mil a R$ 6 mil, enquanto profissionais recém-formados no setor financeiro podem receber de R$ 8 mil a R$ 9 mil mensais, além de bonificações por desempenho.
Outro fator que desestimula a permanência nos cursos de engenharia é a alta exigência acadêmica.
Ramos destaca que o curso demanda dedicação intensiva, o que acaba por afastar parte dos alunos.
Esse fenômeno contribui para o déficit de mão de obra qualificada no setor elétrico, agravando um cenário já complexo para empresas e instituições de ensino.
Impactos na infraestrutura e inovação do setor elétrico
O impacto da falta de engenheiros reflete-se não só na expansão de redes de transmissão e distribuição de energia, mas também na capacidade de inovação do setor.
Sem profissionais qualificados em número suficiente, o Brasil enfrenta barreiras para implementar projetos estratégicos, como a modernização das redes inteligentes (smart grids), a integração de energias renováveis e a digitalização de processos operacionais.
A lacuna evidencia, assim, desafios estruturais e educacionais que dificultam tanto o ingresso quanto a permanência de jovens em carreiras ligadas à engenharia elétrica.
Iniciativas para reverter o déficit de engenheiros
Para responder a esse desafio, iniciativas como a CCEE Academy vêm ganhando destaque.
Lançada em junho de 2025 pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a plataforma busca centralizar e ampliar a qualificação de profissionais do setor energético.
O programa oferece cursos de especialização em parceria com instituições renomadas, como a Universidade de São Paulo (USP), Fundação Dom Cabral e Insper, além de treinamentos voltados à gestão, liderança e certificação técnica para operadores do mercado de energia.
De acordo com Alexandre Ramos, presidente do Conselho de Administração da CCEE, a plataforma se propõe a consolidar o conhecimento acumulado pela entidade ao longo dos anos, preparando profissionais para os desafios contemporâneos do setor elétrico brasileiro.
Perspectivas para o futuro do setor elétrico brasileiro
O déficit de 75 mil engenheiros, conforme estimativas recentes da CNI, não apenas dificulta o crescimento do setor elétrico, mas também pode comprometer o ritmo de inovação e a competitividade do Brasil no contexto internacional.
Especialistas alertam que a solução exige um esforço conjunto entre governo, setor privado e academia para tornar as carreiras em engenharia elétrica mais atraentes e viáveis a longo prazo.
Entre as ações recomendadas estão o aprimoramento dos currículos universitários, a ampliação de estágios supervisionados, o incentivo à pesquisa aplicada e a revisão das políticas salariais para tornar o setor mais competitivo em relação a outras áreas do mercado.
A questão central permanece: como garantir que o Brasil forme, qualifique e mantenha engenheiros suficientes para suprir as demandas crescentes de um setor vital para o desenvolvimento econômico e tecnológico?