Produtor promete salários de até R$12 mil por mês para atrair trabalhadores urbanos para o campo.
A remuneração da mão de obra rural no Espírito Santo atingiu patamares inéditos na safra deste ano, evidenciando a força do agronegócio e o desafio da escassez de mão de obra no campo.
Em Laranja da Terra, o produtor Adelson Rossmann planeja pagar até R$ 12 mil mensais para cada um dos oito colhedores de sua lavoura de café conilon — um valor que ultrapassa a média histórica e atrai atenção sobre a importância de valores competitivos.
De acordo com Rossmann, a produção desta safra deve atingir cerca de 300 sacas de café conilon, volume levemente superior ao de 2024, impulsionada por preços altos tanto do conilon quanto do arábica.
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Esse cenário fortalece a remuneração dos trabalhadores e coloca em evidência a escassez de mão de obra no setor.
O secretário estadual de Agricultura, Enio Bergoli, confirma a tendência: recentemente, surgiram relatos de ganhos entre R$ 7 mil e R$ 8 mil por mês entre os colhedores capixabas.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, reforça que há casos de pagamentos diários entre R$ 500 e R$ 1.000, conforme o desempenho e tipo de contrato.
Em Linhares, o catador de café João da Silva, de 45 anos, afirmou ter recebido R$ 7 mil no último mês. Ele percorreu diversas lavouras em jornadas que começavam na madrugada, dividindo o benefício com a família. “Essa grana vai ajudar a consertar o teto da casa e ainda sobrar para as crianças”, disse.
Relatos anônimos de trabalhadores revelam que é possível ganhar até R$ 3 mil por semana, apesar de alguns preferirem não se identificar por receio de exposição.
Por que os salários subiram tanto?
Segundo Abraão Carlos Verdin Filho, coordenador de cafeicultura do Incaper, a valorização salarial se deve ao preço médio de R$ 40 por saca, com colhedores retirando cerca de 15 sacas por dia — gerando remuneração mensal típica de R$ 6 mil a R$ 8 mil por trabalhador.
O produtor Márcio José Gomes, 48 anos, acrescenta que há contratos que pagam entre R$ 35 e R$ 75 por saca.
Algumas propriedades adotaram o arrendamento de terra, oferecendo 20% da produção ao proprietário, tendência que vem crescendo em resposta à escassez de mão de obra especializada.
Êxodo urbano e disputa por colhedores no Espírito Santo
Um fenômeno curioso tem ocorrido: profissionais do setor urbano têm migrado temporariamente para o campo durante a safra.
Muitos trabalhadores do comércio nas cidades se inscrevem como colhedores para obter uma renda extra, às vezes até indo de férias para trabalhar na colheita de café, segundo Júlio Rocha.
Entretanto, o ingresso desses trabalhadores no campo esbarra em barreiras burocráticas relacionadas a benefícios assistenciais, como o Bolsa Família.
Para lidar com isso, um projeto de lei aprovado na Câmara pretende permitir que beneficiários mantenham seus auxílios ao conseguir carteira assinada temporária — proposta que agora segue para análise no Senado.
Crescimento da produção e rentabilidade no Espírito Santo
O Espírito Santo deve ser responsável pela colheita de 16,4 milhões de sacas de café em 2025, somando conilon e arábica, um crescimento de 18,2% em relação ao ano anterior.
O estado concentra a maior área de conilon do país — 286,7 mil hectares dos 379,8 mil hectares totais — e responde por parte vital da tradição nacional dessa variedade.
Espera-se uma safra de 13,1 milhões de sacas de conilon (+33,1%) e 3,3 milhões de sacas de arábica (‑18,2%, por efeito da baixa bienalidade). Essa dinâmica reflete a resiliência e adaptabilidade do café conilon ao clima capixaba.
Preços recordes e retorno econômico
Os preços atuais agregam ainda mais valor à colheita. No mercado interno, a saca de arábica tipo bebida rio tem sido negociada por mais de R$ 1.900, enquanto o conilon segue acima de R$ 1.600.
Com isso, o valor bruto da produção cafeeira no Espírito Santo pode alcançar R$ 30,88 bilhões em 2025, representando cerca de 24,6% do valor total do café produzido no Brasil (estimado em R$ 125,7 bilhões).
Esse cenário reforça a importância do agronegócio capixaba e a urgência de estratégias para atrair colhedores.
O crescimento dos salários reflete o equilíbrio entre oferta e demanda de mão de obra, e evidencia a necessidade de manter políticas que harmonizem desenvolvimento rural e segurança social.
Gestão, sucessão familiar e salários no campo
Embora os ganhos para colhedores estejam altos, o setor enfrenta outro desafio crescente: a profissionalização da gestão e a sucessão familiar.
Com herdeiros frequentemente ocupando outras áreas, muitas propriedades têm contratado gestores especializados.
Esse perfil profissional de nível superior pode receber entre R$ 6,5 mil a R$ 7 mil por mês — chegando a R$ 20 mil mensais em cargos estratégicos — reforçando ainda mais a competitividade do agronegócio e conduzindo a uma maior formalização do campo.