Escala 996: o que é e por que está sendo adotada nos EUA. Modelo de trabalho chinês que prevê 72 horas semanais é visto por críticos como risco à saúde e aos direitos trabalhistas.
A escala 996, que significa trabalhar das 9h às 21h, seis dias por semana, está ganhando espaço em algumas startups dos Estados Unidos, especialmente no setor de tecnologia. O modelo, originário da China, soma 72 horas semanais e foi banido no país asiático após pressão de trabalhadores e autoridades, mas começa a ser testado em solo americano.
Defensores argumentam que a jornada intensa acelera resultados e pode ser compensada por benefícios como refeições no local de trabalho. Já críticos alertam que a prática ignora séculos de avanços trabalhistas e pode trazer impactos graves à saúde, com casos documentados de mortes por exaustão e aumento de suicídios em países onde o modelo foi aplicado de forma ampla.
Origem e polêmica na China
A escala 996 se popularizou em grandes empresas de tecnologia na China na década de 2010, quando o setor vivia um boom de inovação. Na prática, significava trabalhar 12 horas por dia, seis dias por semana, muitas vezes sem pagamento de horas extras.
-
5 profissões técnicas pagam mais de R$ 8 mil por mês e expõem escassez de mão de obra qualificada no Brasil
-
Nova rodada de pagamentos do PIX de R$ 200 do Caixa Tem será pago a alunos de ensino fundamental, médio, técnico e superior da rede pública
-
Nova moeda do BRICS entraria nas negociações após dólar cair para R$ 5,3870, menor valor desde junho de 2024
-
Lula pede a Xi Jinping retomada de embarques de 561 mil toneladas de frango suspensos desde maio por gripe aviária
O modelo foi alvo de protestos de funcionários, investigações do governo e críticas de organizações de direitos humanos. Entre os casos mais emblemáticos está o de um programador de 25 anos que morreu após uma hemorragia cerebral, levantando o debate sobre a ligação direta entre a jornada excessiva e o agravamento de problemas de saúde.
Por que os EUA estão adotando a escala 996
Nos Estados Unidos, a escala 996 está aparecendo principalmente em startups de rápido crescimento, onde a pressão por resultados e a cultura de “meritocracia extrema” incentivam jornadas prolongadas. Como não há limites federais claros para a carga horária em certos contratos, empresas se aproveitam de brechas legais para implementar modelos mais agressivos.
Especialistas afirmam que, além de importar empregos da China, parte do setor tecnológico americano estaria importando também formas antigas de exploração do trabalho que já foram abandonadas no próprio país asiático.
A justificativa usada por empresários é a “liberdade de escolha” dos funcionários, mas críticos lembram que, em ambientes competitivos, essa escolha muitas vezes não é real.
Riscos à saúde e conceito de “morte por exaustão”
O Japão cunhou o termo karoshi, que significa “morte por excesso de trabalho”. A China também registrou casos semelhantes durante o auge da escala 996, incluindo altos índices de suicídios ligados a jornadas exaustivas.
Médicos alertam que rotinas acima de 60 horas semanais elevam o risco de problemas cardíacos, AVCs e distúrbios psicológicos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera jornadas excessivas um dos elementos que podem caracterizar trabalho análogo à escravidão no contexto moderno.
Impactos trabalhistas e comparação com outros modelos
Historicamente, o movimento sindical defendeu a regra “8-8-8”: oito horas para trabalhar, oito para descansar e oito para lazer. Essa divisão foi conquistada após décadas de luta, mas hoje, em alguns setores, já se fala em jornadas mais curtas, como 4 dias de trabalho por semana.
No Brasil, a legislação limita a jornada a 44 horas semanais, e qualquer ampliação significativa exigiria mudanças na CLT. Ainda assim, profissionais autônomos e trabalhadores de aplicativos já enfrentam rotinas semelhantes à 996, muitas vezes sem proteção social.
O que esperar daqui para frente
Especialistas preveem que o debate sobre a escala 996 nos EUA terá repercussão internacional. Com a globalização das relações de trabalho e o avanço do trabalho remoto, modelos adotados por empresas americanas tendem a se espalhar para outros países.
Para analistas, o risco é que a normalização de jornadas extremas acabe corroendo direitos básicos conquistados ao longo do último século, especialmente em setores com alta concorrência por vagas.
Você acha que a escala 996 é um passo para aumentar a produtividade ou um retrocesso perigoso nos direitos trabalhistas? Como essa carga horária afetaria a sua vida? Deixe sua opinião nos comentários.