Comerciante de Goiás recebe R$ 63,9 milhões por engano em 2019 e devolve tudo ao banco no mesmo dia; caso repercute como exemplo raro de honestidade.
Em agosto de 2019, um comerciante da cidade de Rio Verde, em Goiás, viveu um dos episódios mais improváveis já registrados no sistema bancário brasileiro. Ao consultar o extrato da sua conta, ele descobriu um depósito de R$ 63,9 milhões, feito por engano. O valor que equivalia a mais de mil vezes o faturamento mensal de sua loja havia sido creditado indevidamente por uma falha no sistema do banco.
Em vez de tentar usar o dinheiro ou esperar o problema se resolver, o comerciante ligou imediatamente para o gerente da agência, comunicou o ocorrido e devolveu integralmente a quantia. O caso foi confirmado pelo Banco do Brasil, responsável pelo erro, e noticiado por portais como Metrópoles, G1 Goiás e Araguaia Notícias, que destacaram a honestidade e a rapidez da atitude.
A descoberta do depósito milionário
Segundo o comerciante, tudo aconteceu durante uma manhã comum de trabalho, quando decidiu acessar o aplicativo do banco para conferir o saldo. O susto foi imediato: a conta exibia um crédito de R$ 63.975.451,71.
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Sem acreditar no que via, ele consultou o extrato novamente e, logo em seguida, entrou em contato com o gerente.
“Assim que vi, pensei que poderia ser um erro. Nunca me passou pela cabeça ficar com o dinheiro”, disse o comerciante em entrevista ao Jornal Anhanguera 1ª Edição, da TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás.
O banco confirmou o engano e informou que o depósito havia sido resultado de um erro de digitação durante uma transferência interna. Em poucas horas, o valor foi estornado e a conta do comerciante voltou ao saldo original.
A reação do banco e a repercussão do caso
De acordo com o Banco do Brasil, o erro foi “corrigido no mesmo dia”, e a instituição agradeceu formalmente ao cliente pela conduta exemplar e imediata devolução dos valores. O episódio viralizou nas redes sociais e gerou uma onda de comentários sobre honestidade, ética e responsabilidade financeira.
A história chegou a ser citada em veículos de todo o país e até em publicações internacionais que relataram o caso como exemplo de “integridade diante da tentação”.
Embora alguns internautas tenham sugerido que o banco deveria recompensar o comerciante pelo ato, a instituição não pagou nenhuma compensação, afirmando que a devolução de valores indevidos é uma obrigação legal, conforme o artigo 876 do Código Civil, que trata do pagamento indevido.
O dever de devolver valores recebidos por engano
Pela legislação brasileira, quem recebe um valor que não lhe pertence deve devolvê-lo imediatamente. O Código Civil, em seu artigo 876, estabelece que “todo aquele que recebeu o que não era devido fica obrigado a restituir”.
Usar ou reter indevidamente o dinheiro, mesmo que por pouco tempo, pode configurar o crime de apropriação indébita, previsto no artigo 169 do Código Penal, com pena que pode chegar a quatro anos de prisão.
No entanto, a conduta do comerciante em Rio Verde foi apontada como um exemplo de boa-fé objetiva, princípio que norteia as relações civis e contratuais no Brasil. Para juristas ouvidos pelo portal Metrópoles, a atitude mostra que a honestidade ainda é um valor que supera a tentação financeira, especialmente em casos de grandes quantias.
Casos semelhantes e a lição que fica
O caso do comerciante goiano lembra outros episódios parecidos que ganharam repercussão no Brasil e no exterior. Em 2024, um motorista no Distrito Federal também recebeu R$ 131 milhões por engano e devolveu o valor, mas entrou na Justiça pedindo 10% de recompensa e R$ 150 mil por danos morais.
Em ambos os casos, o ponto em comum foi a boa-fé e a devolução imediata do dinheiro, o que reforça a importância da confiança entre clientes e instituições financeiras.
Mais do que um simples erro bancário, a história do comerciante de Goiás se tornou um exemplo de ética e responsabilidade em um país onde, segundo dados da Febraban, ocorrem mais de 250 mil transações equivocadas por ano, entre depósitos incorretos e transferências indevidas.
Ao final do episódio, o comerciante declarou que sua consciência “valia mais do que qualquer fortuna”. O caso, que ocorreu em agosto de 2019, segue sendo lembrado até hoje como uma das demonstrações mais impressionantes de honestidade diante de um erro milionário.