De trens-bala a locomotivas centenárias, conheça as rotas que unem história, tecnologia e turismo sustentável e descubra como as ferrovias transformaram a forma de viajar pelo planeta
Poucas invenções mudaram tanto o mundo quanto o trem. Em 27 de setembro de 1825, na Inglaterra, repórteres e curiosos se reuniram em Darlington para testemunhar a primeira viagem pública de um trem de passageiros. O trajeto, de apenas 40 quilômetros até Stockton, inaugurou uma nova era: a das ferrovias modernas.
Dois séculos depois, os trens seguem cruzando o globo, de locomotivas nostálgicas a máquinas de alta velocidade, representando um dos meios de transporte mais ecológicos e fascinantes. E cada rota guarda uma história própria, um retrato cultural em movimento.
A ferrovia centenária da Espanha que nasceu em meio a “bandidos”
Conhecida como “Ferrovia do Sr. Henderson”, essa linha histórica corta o coração da Andaluzia, no sul da Espanha. Construída em 1892 pelo financista britânico Alexander Henderson, ela nasceu com o objetivo de conectar Gibraltar, então sob domínio britânico, ao restante da Espanha.
-
Cidade mineira abriga os três maiores diamantes do Brasil, tem PIB acima de Belo Horizonte e virou referência mundial na mineração
-
O maior castelo do mundo parece mais uma cidade: tem 143 mil m², tem 700 anos, reúne 30 milhões de tijolos vermelhos e atrai meio milhão de visitantes por ano
-
Maior encontro religioso do mundo: reúne 400 milhões de pessoas e exige 150 mil banheiros, 3 mil cozinhas, 11 hospitais e 90 trens mobilizados
-
O maior município do Brasil é maior que Portugal e a Inglaterra, é cortado por um dos rios mais importantes da Amazônia e viveu uma transformação radical
Na época, as tentativas anteriores falharam porque as montanhas e florestas locais eram refúgio de bandidos. Hoje, o trajeto oferece uma viagem cênica por encostas isoladas e o Cañón de las Buitreras, com seus impressionantes 100 metros de altura.
Mais do que um passeio, é um mergulho na história ferroviária e na natureza intocada do interior espanhol.
Índia: o trem que ecoa por 58 túneis nas montanhas
O Trem Especial de Passageiros Visakhapatnam-Kirandul percorre uma das mais pitorescas ferrovias do mundo. Durante quatro horas de viagem, ele atravessa 58 túneis escavados nos Gates Orientais da Índia, entre florestas densas e montanhas envoltas em névoa.
Os passageiros saudam cada túnel com aplausos e gritos, transformando a viagem em uma celebração coletiva. O destino final é Araku, uma cidade conhecida por sua indústria cafeeira e por preservar tradições locais.
É uma experiência que une o ritmo lento das viagens de trem ao som das histórias humanas que ecoam nos trilhos.
Europa Central: o novo Baltic Express
O recém-lançado Baltic Express conecta Praga (República Checa) à cidade costeira de Gdynia, na Polônia, atravessando florestas e vilas que parecem saídas de um conto de fadas.
O trajeto de oito horas permite ao passageiro embarcar e desembarcar diversas vezes, pagando uma única passagem — uma proposta moderna que reinventa o turismo ferroviário europeu.
Durante o percurso, cidades como Pardubice, com suas fachadas em tons pastéis, e Poznan, com praças vibrantes e arquitetura medieval, mostram como as ferrovias seguem sendo pontes culturais entre os povos.
Japão: 60 anos do trem-bala que redefiniu a modernidade
O Japão comemorou em 2024 os 60 anos do Shinkansen, o lendário trem-bala que alcança 321 km/h. Desde 1964, ele simboliza a eficiência japonesa e o avanço tecnológico no transporte.
Hoje, existem nove linhas principais, conectando o país de norte a sul. A mais nova, Hokuriku Shinkansen, conhecida como “Nova Rota do Ouro”, liga Tóquio à cidade portuária de Tsuruga.
O Shinkansen não é apenas velocidade — é sinônimo de precisão, segurança e inovação, mostrando que as ferrovias ainda são vitais no século XXI.
México: o trem da tequila e das paisagens azuis
No Estado de Jalisco, o Tequila Express leva os visitantes de Guadalajara até a mítica cidade de Tequila em apenas duas horas.
Durante o trajeto, é possível observar campos de agave azul, planta usada na produção da bebida que se tornou símbolo nacional.
O passeio combina cultura, tradição e turismo rural, permitindo conhecer destilarias históricas e celebrar um dos produtos mais exportados do México. É uma das viagens de trem mais autênticas das Américas.
Portugal: o comboio nostálgico do Vouga
O Comboio Histórico do Vouga é a última ferrovia de bitola métrica em operação em Portugal. A bordo de uma locomotiva de 1964, os passageiros viajam por seis horas entre vales, vilas e pontes centenárias.
Em Macinhata do Vouga, um grupo folclórico recebe os visitantes com música e dança, mantendo viva a tradição portuguesa. A jornada termina em Águeda, famosa por seus guarda-chuvas coloridos e obras de arte urbana.
É uma viagem que conecta o passado e o presente, lembrando por que o turismo ferroviário encanta gerações.
Reino Unido: o trem das alturas na Ilha de Man
A Snaefell Mountain Railway, inaugurada em 1893, atravessa as montanhas da Ilha de Man, entre o Reino Unido e a Irlanda.
É a única ferrovia de montanha eletrificada das ilhas britânicas, e seus vagões preservam os detalhes da era vitoriana, com interiores de madeira e janelas panorâmicas.
Mais que um transporte, o trajeto é uma homenagem ao patrimônio ferroviário britânico e à história do turismo nas ilhas.
Escócia: o trem que cruza um Patrimônio Mundial da Unesco
A rota Far North Line, nas Terras Altas da Escócia, liga Inverness a Thurso em uma jornada de quatro horas.
O trem atravessa 270 quilômetros de turfeiras protegidas, conhecidas como The Flow Country, o maior sistema de pântano de turfa preservado do mundo.
É uma das experiências mais remotas e introspectivas da Europa — uma viagem em que o tempo desacelera e a natureza domina o olhar.
Estados Unidos: o retorno do lendário Mardi Gras
Após 20 anos de paralisação, a companhia Amtrak retomou em 18 de agosto de 2025 o Serviço Mardi Gras, linha costeira devastada pelo furacão Katrina.
O trem percorre o litoral do Golfo, passando por Mobile (Alabama) e Nova Orleans (Louisiana), entre pântanos, praias e cidades coloridas.
A reativação simboliza mais que a volta de uma ferrovia — é o renascimento de uma memória afetiva americana e a força da reconstrução após a tragédia.
Trilhos que contam histórias
De cânions espanhóis a cidades japonesas ultramodernas, cada uma dessas viagens de trem mostra que os trilhos continuam sendo sinônimo de descoberta, conexão e pertencimento.
Viajar sobre ferrovia é mais do que deslocar-se: é atravessar culturas, reviver histórias e compreender o tempo com outros olhos.
E você? Qual dessas rotas ferroviárias despertou mais vontade de embarcar?
Deixe sua opinião nos comentários.