No auge da indústria automotiva, o Complexo Ford River Rouge foi o coração pulsante da produção em massa nos Estados Unidos. Hoje, parte dessa grandiosa estrutura está abandonada, revelando cicatrizes de tragédias, mudanças tecnológicas e escolhas estratégicas
No início do século XX, Henry Ford teve uma ideia ambiciosa: criar um complexo industrial onde todo o processo de produção de um carro acontecesse no mesmo local.
Ele queria que o aço, o vidro, o motor e todas as peças fossem fabricados dentro da mesma planta.
Essa ideia tomou forma às margens do Rio Rouge, em Dearborn, Michigan, dando origem ao maior complexo fabril do planeta.
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O Ford River Rouge nasceu como símbolo do poder industrial americano.
Por décadas, foi o coração pulsante da Ford Motor Company, um modelo de eficiência que inspirou fábricas em todo o mundo.
Mas também foi palco de crises, abandono e, mais recentemente, de um renascimento baseado em sustentabilidade.
A fundação de um império
Em 1915, Henry Ford comprou cerca de 2 mil acres de terreno pantanoso no subúrbio de Detroit.
A intenção era clara: construir um centro industrial completamente autossuficiente. Dois anos depois, a construção começou.
O primeiro prédio do complexo, chamado Building B, começou a operar em 1918.
Produzia navios para a Primeira Guerra Mundial, sob encomenda do governo dos Estados Unidos. Logo depois, vieram os tratores Fordson e, mais tarde, os famosos carros da marca.
A partir de 1927, com a produção do Model A, a linha de montagem principal foi transferida para o River Rouge.
Em poucos anos, o local já contava com dezenas de prédios, trilhos internos, docas, siderúrgicas e tudo o que era necessário para fabricar um carro do zero.
O auge da produção
Durante as décadas de 1920, 30 e 40, o Complexo River Rouge atingiu um nível impressionante de atividade.
No auge, contava com 93 prédios interligados por mais de 140 quilômetros de trilhos. Funcionava como uma cidade industrial, mas sem moradores.
Ali eram feitos o aço, o vidro, a borracha, os motores, as carrocerias e até os parafusos usados nos veículos.
A energia vinha de uma usina própria. Navios com minério de ferro chegavam direto ao porto da fábrica.
A eficiência era tanta que um carro novo saía da linha de montagem a cada 49 segundos. Mais de 100 mil pessoas trabalharam ao mesmo tempo no Rouge. Era uma das maiores concentrações de operários do mundo.
O complexo produziu modelos icônicos como o Ford Model A, o Ford V8, o Thunderbird e, nos anos 1960, o lendário Mustang.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi essencial para o esforço bélico dos Estados Unidos, produzindo motores, jipes e veículos militares.
Uma cidade dentro de outra
O River Rouge era mais que uma fábrica. Tinha hospital, corpo de bombeiros, força policial, lanchonetes e serviços internos.
A manutenção exigia mais de 5 mil funcionários. O prédio da usina de energia era tão grande que dominava o horizonte de Dearborn.
Essa grandiosidade inspirou artistas e engenheiros. O fotógrafo Charles Sheeler produziu um ensaio icônico sobre a fábrica. O muralista Diego Rivera pintou suas cenas industriais no Instituto de Artes de Detroit. Engenheiros japoneses, como Eiji Toyoda, estudaram o modelo do Rouge e levaram ideias para criar o sistema de produção da Toyota.
Mas tanta integração tinha seu preço. A rigidez e os altos custos fixos tornavam a fábrica vulnerável a crises.
O início do declínio
Após a Segunda Guerra, o modelo da fábrica totalmente integrada começou a perder força. A produção industrial se tornava mais descentralizada.
A Ford passou a comprar peças de fornecedores em vez de produzir tudo internamente.
O número de trabalhadores caiu. De 100 mil, passou para cerca de 75 mil em 1946. Em 1953, já eram 60 mil. A fábrica ainda era importante, mas sua força começava a enfraquecer.
Nos anos 1980, a Ford vendeu sua divisão siderúrgica. A Rouge Steel virou empresa separada e, depois, foi vendida. A fábrica deixou de produzir seu próprio aço. Isso marcava o fim do sonho original de Henry Ford: o controle total da produção.
Estruturas abandonadas
Com o passar dos anos, muitas áreas do complexo foram sendo desativadas. Algumas estruturas caíram em desuso.
A fábrica de vidro, construída em 1925 com arquitetura modernista, foi demolida. Oficinas antigas e galpões ficaram vazios.
O caso mais marcante foi o da usina de energia. Em 1999, uma explosão devastou o prédio e matou seis funcionários. A estrutura ficou abandonada, carbonizada, por mais de duas décadas. Era um símbolo sombrio do que o Rouge havia sido.
Por muito tempo, exploradores urbanos fotografaram os restos enferrujados da velha powerhouse. As enormes chaminés só começaram a ser demolidas recentemente.
O renascimento sustentável
Apesar das perdas, a Ford decidiu investir na modernização do River Rouge. Em vez de fechar a fábrica, iniciou um plano de revitalização. Foram aplicados mais de US$ 2 bilhões para transformar parte do complexo em uma unidade modelo do século 21.
Em 2004, foi inaugurada a Dearborn Truck Plant, nova linha de montagem que passou a produzir a picape F-150, o veículo mais vendido da marca. A planta tem um telhado verde de 42 mil metros quadrados, um dos maiores do mundo. Ele ajuda a reter água da chuva e reduzir o calor interno.
Outras melhorias incluem tratamento de água, energia solar e modernização de processos. O Rouge passou a ser visto como uma fábrica sustentável, modelo de inovação ecológica.
Além da montagem de caminhões, o complexo ainda abriga plantas de estamparia, motores e estruturas de apoio. Cerca de 600 acres continuam em uso. É uma fração dos 2 mil originais, mas o suficiente para manter vivo o legado.
O legado industrial
Hoje, o Complexo Ford River Rouge é uma mistura de passado e futuro. Parte dele é moderna, eficiente, ecológica. Parte ainda guarda estruturas antigas, memórias industriais e edifícios de quase 100 anos.
O local voltou a receber visitantes. Em parceria com o Museu Henry Ford, a empresa reabriu o espaço para turistas. É possível ver a linha de montagem da F-150 e conhecer a história da fábrica.
Para Bill Ford, bisneto de Henry Ford e atual presidente do conselho da empresa, o Rouge é mais que uma planta produtiva. “É um símbolo de nossa história e nossa capacidade de reinvenção”, disse ele ao anunciar os investimentos na fábrica.
Um marco da história industrial
O Complexo Ford River Rouge foi mais que uma fábrica. Foi um experimento ousado que moldou o século 20. Ele produziu milhões de carros, empregou centenas de milhares de pessoas, mudou a forma de produzir no mundo.
Também foi palco de conflitos trabalhistas, como a famosa “Batalha do Viaduto”, em 1937, quando sindicalistas foram agredidos por seguranças da empresa. Só em 1941 a Ford assinou acordo com o sindicato dos trabalhadores.
O Rouge foi visitado por líderes, jornalistas, artistas e engenheiros. Foi exemplo, inspiração e advertência. Sua decadência mostrou os limites da centralização total. Sua recuperação mostra como é possível renovar o passado sem apagá-lo.
Um futuro em construção
Nos últimos anos, o Rouge voltou a ser central para os planos da Ford. A fábrica abriga agora a produção da versão elétrica da F-150, chamada Lightning. É parte da transição da empresa para veículos mais limpos.
A empresa pretende manter o Rouge como símbolo de inovação. Um espaço onde o legado industrial se encontra com as tecnologias do futuro. Onde o aço e o vidro dividem espaço com baterias e sustentabilidade.
O Complexo Ford River Rouge já foi o maior do mundo. Hoje, não é mais o maior. Mas continua sendo um dos mais importantes. Não apenas por sua produção, mas pelo que representa: a capacidade de se reinventar sem esquecer de onde veio.
Isso foi e é possivel nos moldes do sistema empresarial, sem as garras do governo que, normalmente são corruptos!
Vc acha que na fabricação de veículos p a guerra não houve corrupção da empresa????Fala sério!!!Esses impérios que existem tem dinheiro do povo envolvido.Vê-o caso do Trump que na construção da trump tower recebeu 45 milhões de dólares de isenção de impostos da prefeitura de Nova Iorque.Inocente!!!!
Olha que interessante, trabalhei em pleno século XXI no Complexo Industrial Ford Nordeste em Camaçari -BA por 15 anos, como REPARADOR PTO. Fiquei surpreso com a história da FORD. Confesso que nunca ouvir sobre seu início. Fiquei lisonjeado ao saber que fui também um participante de sua existência na BAHIA.
Putz… pensei que a Ford tinha fechado essa mega fábrica em algum país comunista.
Para vc vê: hoje Trump está se borrando de medo dos países **** unidos em torno do BRICS e atirando taxas de impostos p todos os lados!