Explicamos a ciência por trás de um dos sonhos mais antigos da engenharia e por que, infelizmente, ele viola as regras fundamentais do universo.
A premissa é uma das mais sedutoras da história da ciência: um motor que, uma vez iniciado, continuaria a girar para sempre, sem precisar de combustível ou de qualquer fonte de energia externa. Uma fonte de energia limpa, gratuita e infinita. Este é o sonho do moto perpétuo. E a sua encarnação mais popular na internet é o motor magnético.
Vídeos no YouTube mostram inventores habilidosos montando rodas com ímãs cuidadosamente posicionados que começam a girar, aparentemente sozinhos, em um balé hipnótico de repulsão e atração. A pergunta é inevitável: se parece funcionar, por que não temos esses motores em nossas casas e carros? A resposta é que, embora a engenharia seja inteligente, ela esbarra em uma das leis mais implacáveis do universo.
O sonho: como um motor magnético deveria funcionar?
A ideia por trás de um motor de ímãs é explorar as forças fundamentais do magnetismo. O conceito mais comum envolve uma roda com vários ímãs em sua borda e um ou mais ímãs fixos em uma rampa ou suporte ao lado.
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A teoria é que, ao posicionar os ímãs com os polos corretos (norte com norte, sul com sul), a força de repulsão empurraria a roda, fazendo-a girar. À medida que a roda gira, o próximo ímã entraria no campo de repulsão do ímã fixo, recebendo um novo “empurrão”, e assim por diante, em um ciclo que, teoricamente, nunca terminaria. A questão é: um motor magnético funciona na prática?
O despertar: a perda de energia ‘invisível’ (a Primeira Lei da Termodinâmica)
A primeira barreira que o sonho encontra é a Primeira Lei da Termodinâmica, que é, essencialmente, a lei da conservação de energia. Ela diz que a energia não pode ser criada nem destruída, apenas transformada.
Mesmo no melhor dos protótipos, o sistema não é perfeito. Há perdas de energia constantes e inevitáveis:
- Atrito: O eixo da roda tem atrito com o rolamento.
- Resistência do Ar: O movimento da roda empurra o ar, gerando arrasto.
Essas duas forças atuam como um freio constante, convertendo a energia do movimento em calor. Para que a roda continuasse girando para sempre, ela precisaria criar, do nada, a energia necessária para compensar essas perdas, o que viola a Primeira Lei.
O vilão da história: a Segunda Lei da Termodinâmica e a entropia
Mas a barreira final e intransponível é a Segunda Lei da Termodinâmica. De forma simples, ela afirma que em qualquer sistema fechado, a desordem (chamada de “entropia”) sempre tende a aumentar.
Pense nisso: é muito mais fácil uma pilha de tijolos desmoronar (ir da ordem para a desordem) do que os tijolos se empilharem sozinhos para formar um muro (ir da desordem para a ordem). O universo funciona assim. Um motor que gera trabalho útil (energia organizada) para sempre estaria diminuindo a entropia do universo, criando ordem a partir do nada, o que é estatisticamente impossível.
No motor magnético, chega um ponto em que os ímãs atingem um estado de equilíbrio. A energia potencial armazenada no campo magnético se dissipa em forma de calor devido ao atrito, a entropia aumenta, e o sistema para.
É possível gerar energia ‘de graça’ com ímãs?
A resposta direta é não. Ímãs não são uma fonte de energia; eles são uma forma de armazenar energia potencial. A força que eles exercem vem da energia que foi gasta para fabricá-los e alinhá-los magneticamente. Eles podem converter essa energia em movimento (como em um motor elétrico, onde interagem com um campo elétrico), mas não podem criar nova energia.
A busca pelo moto perpétuo, embora fadada ao fracasso, não foi em vão. Ao tentar quebrar as leis da física, gerações de engenheiros e cientistas acabaram por entendê-las mais profundamente, levando a inúmeras invenções reais e úteis no campo do eletromagnetismo e da mecânica. O sonho impossível, no fim das contas, nos ajudou a construir o mundo real.
Se você pudesse quebrar uma lei da física, qual seria? A da gravidade para poder voar ou a da termodinâmica para ter energia infinita? Comente!