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Ele salvou milhares de pessoas do seu próprio erro: Conheça o engenheiro que liderou um reparo sigiloso na madrugada e impediu um dos arranha-céus mais caros de Nova York de desabar

Escrito por Jefferson Augusto
Publicado em 04/06/2025 às 08:58
Imagem do arranha-céu Citicorp Center com base vermelha, frase de impacto sobre erro estrutural e reparo secreto com pessoas dentro, ao lado de ilustração do engenheiro William LeMessurier.
Montagem visual do Citicorp Center com destaque em vermelho na base, acompanhada de texto em caixa alta sobre o erro que quase causou o colapso do prédio. Ao lado, ilustração artística de William LeMessurier com estruturas inclinadas e o skyline de Nova York.
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A incrível decisão de William LeMessurier, os bastidores técnicos do reforço estrutural noturno e a rede de silêncio que evitou o pânico em Manhattan enquanto um arranha-céu de 59 andares era reforçado em segredo

Em artigo anterior publicado aqui no Click Petróleo e Gás, relembramos como um dos mais emblemáticos arranha-céus de Nova York,o Citicorp Center, quase colapsou silenciosamente por causa de uma falha crítica de engenharia. O edifício, então recém-inaugurado e avaliado em US$ 175 milhões, corria risco real de ruir sob ventos diagonais, com potencial de matar milhares de pessoas.

Mas por trás dessa história dramática, havia um homem. William LeMessurier, o engenheiro responsável pelo projeto estrutural do arranha-céu, foi quem descobriu o erro, assumiu o risco e liderou, às escondidas, um dos reparos mais arriscados e bem-sucedidos da engenharia civil. Essa é a continuação do caso, agora focando nos bastidores técnicos, decisões éticas e estratégias que impediram o desastre, conforme detalhado pela New Yorker e confirmado por fontes como o Veritasium.

Quem foi William LeMessurier, o engenheiro que encarou o próprio erro para salvar milhares de vidas?

Ilustração New Yorker do engenheiro e seu predio do Citicorp com problemas – Reprodução New Yorker

William James LeMessurier Jr. (1926–2007) foi um dos mais respeitados engenheiros estruturais dos Estados Unidos. Nascido em Michigan, estudou matemática em Harvard e concluiu o mestrado em engenharia de estruturas no MIT. Em 1961, fundou a LeMessurier Consultants, responsável por diversos projetos de destaque, incluindo arranha-céus como o Federal Reserve Bank de Boston e o Singapore Treasury Building.

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Apesar de seu extenso currículo, LeMessurier ficou mundialmente conhecido pela sua atitude durante a crise do Citicorp Center. Ao descobrir que seu projeto havia falhado ao prever a carga dos ventos diagonais no esqueleto de aço do arranha-céu, ele optou por agir — mesmo que isso significasse colocar sua reputação em risco.

O dilema moral de LeMessurier: suicídio, silêncio ou ação imediata

A estrutura do citicorp arranha-ceu que esteve por um fio

Poucos dias após confirmar a gravidade do erro estrutural, LeMessurier se viu diante de um impasse ético brutal. Ele podia esconder o problema, arriscar a vida de milhares e preservar sua carreira — ou assumir a falha e arriscar falência, escândalo público e humilhação profissional.

A tensão o levou a cogitar até o suicídio, mas ele decidiu agir. Procurou advogados, alertou os responsáveis pela Citicorp e arquitetou, com o aval das autoridades, uma operação de reparo sigilosa que envolvia múltiplos turnos de operários, cálculos refinados e vigilância constante do prédio.

O plano incluía reforçar mais de 200 juntas comprometidas com soldas de aço de 2 polegadas de espessura. Tudo isso sem evacuar o prédio, sem alertar a mídia e durante a temporada de furacões. Como a cidade estava em greve de imprensa, o sigilo foi mantido.

Para evitar o colapso durante o processo, geradores de emergência foram instalados no topo do edifício, garantindo o funcionamento do amortecedor de massa (TMD) de 400 toneladas — a última linha de defesa em caso de ventos fortes.

A operação secreta “Projeto Serene” e a engenharia do impossível

Batizado de “Projeto Serene”, o plano foi mais uma operação militar do que uma obra civil. O Citicorp foi transformado em um canteiro de obras noturno com cronogramas minuciosos: de 17h às 20h, carpinteiros desmontavam paredes e criavam cabines ao redor das juntas. Das 20h às 04h, os soldadores entravam em ação com tochas e painéis de aço.

A missão era reforçar cada ponto vulnerável sem disparar alarmes de fumaça, sem atrapalhar os escritórios e, principalmente, sem que os inquilinos percebessem. Toda manhã, antes do expediente, equipes limpavam os resíduos e remontavam os acabamentos como se nada tivesse acontecido.

Os pontos mais críticos ficavam entre o 29º e 31º andares, e foram priorizados com base em cálculos de resistência e probabilidade de colapso em caso de ventos diagonais superiores a 110 km/h. Em paralelo, sensores foram instalados para monitorar a tensão das estruturas em tempo real, conectados por cabos até a central de comando na Park Avenue.

Para manter o prédio “vivo”, a fabricante do TMD enviou técnicos para monitorar o sistema 24 horas por dia, com equipamentos sobressalentes, rádios meteorológicos e lubrificantes para garantir que nenhuma oscilação comprometesse a integridade da torre.

Hurricane Ella: o furacão que quase revelou tudo

Seis semanas após o início do reparo, a ameaça que todos temiam surgiu no radar: o furacão Ella se formava no Atlântico e vinha direto para Nova York. O reforço estava apenas 50% concluído e o pânico começou a se instalar entre engenheiros, gestores e autoridades.

O plano de evacuação para 10 quarteirões ao redor do prédio já havia sido discretamente desenhado pela Cruz Vermelha, NYPD e prefeitura, mas seria acionado apenas se os ventos se aproximassem. Felizmente, Ella desviou sua rota no último momento e seguiu para o mar.

Segundo LeMessurier, o prédio, mesmo parcialmente reforçado, já suportaria uma tempestade centenária. Após o desvio de Ella, as soldagens continuaram noite após noite, sem acidentes, até a conclusão do reforço total em outubro de 1978.

Ao final, o prédio estava tão robusto que poderia resistir a uma tempestade com recorrência de 700 anos, mesmo sem o TMD funcionando.

Quando ninguém saberia de nada, e ninguém morreu

Se o prédio tivesse caído, especialistas estimam que centenas ou milhares de pessoas morreriam instantaneamente, e o colapso poderia ter desencadeado o desmoronamento em cadeia de outros edifícios.

O mais impressionante é que nada disso chegou ao público na época. Graças à greve dos principais jornais da cidade, o sigilo foi mantido. LeMessurier revelou os detalhes apenas anos depois, e o caso só foi amplamente divulgado em 1995 pela New Yorker.

Apesar da gravidade, ninguém foi processado, ninguém morreu — e todos os envolvidos foram elogiados pela coragem, discrição e cooperação. Citicorp resolveu o caso com um acordo extrajudicial de US$ 2 milhões, e o prédio foi vendido anos depois com lucro para investidores japoneses.

Hoje, o 601 Lexington Avenue permanece firme como uma aula viva de humildade, ética e competência na engenharia moderna.

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Se você é engenheiro, estudante ou apenas um curioso por histórias reais que desafiam a lógica — compartilhe esse artigo. O caso do Citicorp Center é mais do que um erro técnico: é uma história de coragem moral, precisão técnica e do poder de uma decisão solitária que salvou milhares de vidas.

Qual sua opinião sobre a atitude de LeMessurier? Teria feito o mesmo? Comente abaixo!

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Jefferson Augusto

Profissional com experiência militar no Exército, Inteligência Setorial e Gestão do Conhecimento no Sebrae-RJ e no Mercado Financeiro por meio de um escritório da XP Investimentos. Trago um olhar único sobre a indústria energética, conectando inovação, defesa e geopolítica. Transformo cenários complexos em conteúdo relevante sobre o futuro do setor de petróleo, gás e energia. Envie uma sugestão de pauta para: jasgolfxp@gmail.com

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