O Brasil registrou em outubro um corte de 37% na geração de energia eólica e solar, o terceiro mês seguido de redução. O excesso de produção e a falta de infraestrutura elétrica causaram prejuízos de mais de R$ 1 bilhão ao setor.
O mês de outubro trouxe números preocupantes para o setor de energia eólica no Brasil. Segundo relatório da consultoria Volt Robotics, com base em dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), houve uma redução de 37% na capacidade de geração das usinas eólicas e solares. O corte representou um prejuízo estimado em R$ 1,1 bilhão, marcando o terceiro mês consecutivo de perdas significativas no setor.
A situação é resultado direta do fenômeno conhecido como curtailment, que ocorre quando há excesso de energia gerada e o sistema elétrico precisa limitar a produção para evitar sobrecargas. O ONS, responsável pelo equilíbrio entre oferta e demanda, precisou intervir diante do alto volume de eletricidade produzido, principalmente em regiões com forte incidência de vento e sol.
Perdas bilionárias e impacto na matriz eólica
No total, as usinas eólicas deixaram de gerar quase 4.600 GWh em outubro — um volume expressivo que resultou em perdas de R$ 741 milhões. Já as usinas solares também sofreram cortes de 37%, deixando de produzir 1.300 GWh e acumulando prejuízos de R$ 192 milhões.
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Somando as duas fontes, o Brasil deixou de aproveitar cerca de 5.900 GWh de energia limpa no período. O resultado reforça um problema estrutural que vem se agravando ao longo de 2025, com cortes que já atingem 20,4% da produção potencial acumulada entre janeiro e outubro.
Esse cenário preocupa o setor, uma vez que o país é reconhecido mundialmente pela expansão rápida da energia eólica e solar, ambas pilares essenciais para a transição energética e para o cumprimento das metas de redução de carbono.
Estados mais afetados e gargalos na infraestrutura
Os estados mais prejudicados com o corte na geração foram Rio Grande do Norte, que lidera o ranking com 43,8% de redução, seguido por Ceará (34,9%) e Minas Gerais (30,8%). Essas regiões concentram grande parte dos parques eólicos e solares do país, localizados em áreas estratégicas para o aproveitamento dos ventos e da radiação solar.
Entretanto, a falta de linhas de transmissão adequadas tem dificultado o escoamento da energia gerada. O sistema elétrico brasileiro, segundo especialistas, ainda não está totalmente preparado para lidar com a intermitência e a intensidade de geração das fontes renováveis. Assim, quando há uma alta produção, é necessário reduzir temporariamente o fornecimento para manter o equilíbrio da rede.
Crescimento da microgeração e desequilíbrio no sistema elétrico
Outro fator que agrava o cenário é o avanço acelerado da micro e minigeração distribuída — sistemas de painéis solares instalados em telhados de residências e pequenas propriedades. Embora sejam fundamentais para democratizar o acesso à energia limpa, esses sistemas não são controlados diretamente pelo ONS, o que pode levar a um excesso de oferta nos horários de pico solar.
Em períodos de alta geração, especialmente entre o final do inverno e o início da primavera, o país enfrenta situações de sobrecarga semelhantes à de agosto, quando o setor elétrico quase sofreu um colapso momentâneo devido ao volume elevado de energia eólica e solar.
A expansão das fontes renováveis no Brasil segue em ritmo acelerado, mas o recente corte na geração evidencia a necessidade de investimentos urgentes em infraestrutura de transmissão e planejamento integrado. O desafio agora é garantir que a energia limpa produzida chegue ao consumidor final, sem prejuízos e sem desperdício de potencial renovável.



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