Tecnologia criada na Holanda já funciona na costa irlandesa e promete transformar o setor eólico com mobilidade e baixo custo
No pequeno vilarejo de Bangor Erris, no oeste da Irlanda, um projeto inusitado vem ganhando força: o uso de pipas gigantes para gerar energia do céu, substituindo turbinas eólicas em regiões de difícil acesso. A iniciativa, liderada pela empresa holandesa Kitepower, busca criar uma alternativa mais leve, barata e móvel para a produção de energia renovável.
Com capacidade atual de 30 kWh por ciclo e operação completamente autônoma, o sistema já foi testado com sucesso durante tempestades severas e pode fornecer eletricidade a ilhas remotas, bases móveis e até estações polares. A proposta integra os planos da Irlanda para cortar sua dependência de combustíveis fósseis e alcançar 37 GW em energia eólica até 2050.
Como funciona a geração de energia com pipas?
A tecnologia desenvolvida na Universidade de Tecnologia de Delft funciona como um ioiô de vento: uma pipa de 60 m² é lançada ao céu, sobe até 400 metros de altitude e, ao descer para 190 metros, puxa um cabo conectado a um gerador no solo, que transforma o movimento em energia elétrica.
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Esse ciclo se repete diversas vezes, produzindo cerca de 30 kWh por hora, o suficiente para alimentar estruturas isoladas. O sistema opera com auxílio de software autônomo, mas também pode ser controlado manualmente por um operador técnico, apelidado de “piloto”.
Segundo a empresa, cada ciclo gera o equivalente a duas toneladas e meia de energia mecânica, que é armazenada em baterias semelhantes às dos sistemas fotovoltaicos. Atualmente, a bateria integrada ao sistema é de 336 kWh, o bastante para suprir um pequeno canteiro de obras ou uma estação científica.
Por que a energia do céu interessa à Irlanda?
A energia do céu pode ajudar a resolver um dos gargalos do setor energético irlandês: a limitação de infraestrutura em áreas remotas e os altos custos de implantação de turbinas convencionais. Com a capacidade de ser montado em 24 horas e transportado com facilidade, o sistema de pipas exige menos obras civis e não depende de concreto, guindastes ou conexões complexas com a rede elétrica.
Durante a tempestade Eowyn, em janeiro de 2025, o protótipo da Kitepower continuou fornecendo energia antes, durante e depois dos apagões registrados na região. O desempenho reforçou o valor estratégico da solução para situações de emergência e ambientes onde as turbinas convencionais falham ou são inviáveis.
Além disso, o sistema é menos invasivo visualmente, não exige combustível, não gera ruído mecânico e capta ventos de alta altitude, normalmente mais constantes e fortes do que os aproveitados por turbinas terrestres.
A tecnologia pode substituir turbinas eólicas tradicionais?
Ainda não. Embora promissora, a tecnologia ainda opera em escala reduzida e enfrenta desafios regulatórios, principalmente em relação à segurança do espaço aéreo e à confiabilidade em operações contínuas. Segundo o pesquisador Mahdi Salari, da University College Cork, as pipas são mais indicadas, por enquanto, para cenários de uso móvel, off-grid ou em locais extremos.
Mesmo assim, os especialistas comparam o estágio atual das pipas ao início das turbinas modernas: demorou 25 anos para que os aerogeradores saíssem dos 30 kW para os megawatts, como explicou Andrei Luca, diretor da Kitepower. A expectativa é que as pipas avancem rapidamente com os incentivos certos.
Qual o futuro da energia do céu?
O governo irlandês projeta 20 GW de energia eólica até 2040 e 37 GW até 2050, incluindo soluções híbridas e inovadoras. A energia do céu pode ampliar o acesso à geração renovável, especialmente em comunidades isoladas ou zonas com infraestrutura deficiente.
Com o avanço da miniaturização dos componentes, maior densidade das baterias e software mais inteligente, é possível que as pipas ganhem espaço ao lado das turbinas como alternativa complementar, especialmente em um cenário de transição energética acelerada.
Você acredita que a energia do céu pode substituir turbinas no futuro? Acha viável no Brasil? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem acompanha o setor de perto.