Emprestar dinheiro a amigos ou familiares parece gesto de confiança, mas segundo Gustavo Cerbasi a taxa de não pagamento é altíssima, o risco de dependência é real e o efeito colateral inclui rupturas em amizades, casamentos e famílias inteiras, daí a regra prática de doar uma única vez e priorizar ajuda com tempo, organização e ferramentas
Para Gustavo Cerbasi, emprestar dinheiro a pessoas próximas costuma terminar mal. O financeiro vira conflito emocional, a cobrança corrói a confiança e a promessa de devolução raramente se cumpre. No diagnóstico do planejador, algo em torno de 95 por cento de quem pede não paga, criando frustração, ressentimento e um rombo que pode se estender do bolso à convivência.
A orientação central é simples e direta: não empreste. Se for imprescindível ajudar, doe uma única vez e com propósito claro. Melhor ainda é começar por outra via, oferecendo tempo para organizar dívidas, fazendo perguntas objetivas sobre o uso dos recursos e priorizando ajudas concretas como roupas, um computador para trabalhar ou apoio prático no recomeço, evitando alimentar dependências.
Por que emprestar compromete relações e patrimônio
A relação credor devedor muda a conversa do afeto para a cobrança.
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Quando o dinheiro entra, a comunicação sai de cena, e o silêncio vira ruído permanente entre as partes.
O pedido inicial pode ser para alimentação ou urgência, mas o uso real frequentemente se desvia, o que reforça a sensação de traição e aumenta a tensão na cobrança.
Em paralelo, a educação financeira limitada faz com que recursos recebidos sem contrapartida sejam mal alocados, ampliando o buraco que motivou o pedido.
O resultado é um ciclo em que o credor perde dinheiro e o devedor perde o vínculo, com sequelas que se arrastam por anos em grupos de amigos e no núcleo familiar.
A regra prática de Cerbasi: doar em vez de emprestar
Cerbasi é taxativo ao definir sua política pessoal.
Não emprestar, doar quando a situação é incontornável e apenas uma vez. O foco não é punir quem pediu, e sim proteger a relação e evitar dependência.
A doação encerra o assunto e impede a contabilidade emocional de quem cobrou, esperou e não recebeu.
Mesmo a doação requer prudência.
Gestos repetidos viram renda previsível para quem pede e estimulam novas abordagens.
Por isso, se houver ajuda, que seja pontual, explícita e com razão definida, sem transformar generosidade em mesada informal.
Como ajudar sem pôr dinheiro na mesa
Antes de abrir a carteira, abra a agenda. Pergunte onde a pessoa se enrolou, sente junto para organizar contas e prazos, ofereça ajuda prática.
Em vez de dinheiro, proponha bens e ferramentas que destravam o trabalho, como roupa adequada para entrevistas ou um computador para produzir renda.
Essa abordagem tem duas virtudes.
Primeiro, evita o desvio do recurso para fins que não atacam a causa do problema.
Segundo, gera autonomia e cria um vínculo saudável, em que quem ajuda impulsiona a solução e quem recebe volta a se sustentar com o próprio esforço.
Dependência não é cuidado, é armadilha
A ajuda mal calibrada cria rotina de pedido e recompensa, sobretudo em situações de rua ou bicos de semáforo.
O favorecimento repetido supera alternativas sociais disponíveis e institucionaliza o pedir, deslocando o incentivo do trabalho para a dependência.
Cortar o ciclo exige coerência.
Se o objetivo é amparar, direcione a energia para serviços e alternativas reais, e não para um fluxo de caixa semanal que só perpetua o problema.
Generosidade eficaz exige dizer não quando o sim sustentaria a mesma dinâmica amanhã.
Quando o dinheiro implode casamentos e famílias
No consultório, Cerbasi enxerga famílias frustradas por empréstimos não pagos e por cobranças que viraram tabus.
O conflito financeiro destrói a comunicação e transforma almoços em assembleias silenciosas, com facções e mágoas acumuladas.
No casal, o efeito é ainda mais corrosivo. Juros altos, vícios e decisões solitárias drenam o orçamento comum.
Quando o assunto dinheiro some do diálogo, a parceria se desfaz, ainda que as contas sigam sendo pagas. O que quebra não é só a planilha, é o projeto a dois.
Dois erros de casais e o antídoto prático
Erro um é fundir tudo e apagar diferenças individuais. Nesse arranjo, um vive a vida do outro e o ressentimento aparece tarde, depois de anos.
Erro dois é separar tudo em contas, lazer e metas, até que o casal não consiga falar em planos nossos.
O caminho do meio reconhece três interesses ao mesmo tempo.
O que é meu, o que é seu e o que é nosso.
Conversas francas sem interrogatório sobre gastos isolados, alternância de projetos pessoais e orçamento que inclui lazer e identidade, não apenas contas. Planejamento é diálogo, não planilha.
Checklist objetivo antes de emprestar
Pausa e método ajudam a decidir. Pergunte para que é o dinheiro e qual a urgência real. Ofereça tempo e organização antes de qualquer valor.
Troque dinheiro por ferramentas quando possível. Se ainda assim decidir ajudar, prefira doar uma única vez, com propósito claro e sem criar recorrência.
Se a resposta for não, explique com respeito e indique caminhos práticos de renda ou renegociação.
Negar o empréstimo protege a relação e o seu orçamento, além de estimular responsabilidade de quem pediu.
Na sua experiência, emprestar dinheiro funcionou ou terminou em desgaste. Você adotaria a política de doar uma única vez e priorizar ajuda com tempo e ferramentas. Conte nos comentários um caso real em que dizer sim ou não mudou a relação, que limites você estabeleceu e qual abordagem evitou dependência no seu círculo.